Ao Farol

Ao Farol Virginia Woolf




Resenhas - Rumo ao Farol


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xzsatur.no 22/05/2024

?Qual o sentido da vida? A grande revelação jamais viera.?
?Eles tornavam-se parte daquele universo irreal, porém penetrante e emocionante, que é o mundo visto pelos olhos do amor.?

Livro belíssimo que me deixou completamente sem palavras. Em êxtase, eu diria. A sensação que eu tive lendo este livro certamente foi de crise existencial.

Virginia Woolf (1882-1941) foi uma escritora à frente de seu tempo, deixando um legado literário impressionante. Iniciou sua carreira em 1904 como crítica literária, mas foi por meio de seus romances que demonstrou sensibilidade e conhecimento. No princípio do século XX, ela defendeu a causa das mulheres, lutando contra a opressão, o machismo e a ignorância. Seu compromisso com o esclarecimento e a inclusão é digno de nota, e ela não se limitou aos estreitos confins do elitismo. Como uma das maiores escritoras do século XX, Virginia Woolf destacou-se como romancista e ensaísta, além de ser uma figura importante na história da literatura como feminista e modernista. Sua influência perdura até hoje, inspirando gerações de leitores e escritores.

?Passeio ao farol?, de Virginia Woolf, é uma obra-prima do alto modernismo europeu. Considerado o mais autobiográfico dos romances da lendária escritora inglesa. Publicado em 05 de maio de 1927. O livro nos conduz à vida dos Ramsay, uma típica família inglesa do início do século XX, às vésperas da Primeira Guerra Mundial e também à vida de seus amigos durante um verão na Ilha de Skye, na Escócia.

No entanto, através das lentes impressionistas de Virginia Woolf, temos acesso ao fluxo de consciência de diferentes personagens, revelando ressentimentos e disputas que agitam os membros dessa família.

?Aquilo lhe parecia uma grande bobagem ? inventar diferenças, quando as pessoas, Deus sabe, já tinham tantas diferenças sem essas invencionices. As diferenças verdadeiras, pensou ela, parada junto à janela da sala de visitas, já são suficientes, mais do que suficientes.?

Em ?Passeio ao farol?, a narrativa está dividida em três partes diferentes:

?A Janela?, nessa primeira parte somos apresentados aos personagens e suas relações. Através das janelas da casa dos Ramsay, observamos as complexidades e dinâmicas familiares. A matriarca, Mrs. Ramsay, é uma figura central, com sua beleza e compaixão, mas também com suas inseguranças e desejos não realizados. O patriarca, Mr. Ramsay, é um filósofo e acadêmico, mas sua rigidez e egoísmo afetam profundamente sua família. As crianças, como James e Cam, também têm suas próprias perspectivas e conflitos.

Em ?O Tempo Passa?, nesta segunda parte, Virginia Woolf explora o impacto do tempo na vida dos personagens. Mudanças, perdas e reflexões são tecidas com maestria. A Primeira Guerra Mundial ocorre, e a família Ramsay enfrenta tragédias e separações. A casa na Ilha de Skye é abandonada, e os personagens envelhecem e se transformam. A passagem do tempo é retratada com sensibilidade, revelando a efemeridade da vida e a busca por significado.

Já em ?O Farol?, última, mas não menos importante terceira parte, é marcada por uma viagem à ilha e a tentativa de alcançar o farol. É um momento de introspecção e transformação para os Ramsay. A viagem simboliza a busca pela verdade, a reconciliação com o passado e a aceitação da impermanência. O farol, que antes parecia inatingível, torna-se um símbolo de esperança e transcendência.

?Passeio ao farol? aborda diversos temos como: relações familiares, tempo, mudanças, arte, criatividade, natureza, espiritualidade, gênero e papéis sociais.

A escrita de Woolf é poética e introspectiva, mergulhando no interior dos personagens e revelando seus pensamentos mais profundos. Um retrato emocionante e complexo da natureza humana, trazendo à tona questões existenciais e emocionais que ecoam através dos tempos. Uma profunda reflexão sobre a passagem do tempo, a efemeridade da vida e a busca pela felicidade. Um completa poésia.

?Qual o sentido da vida? [?] A grande revelação jamais viera. A grande revelação talvez jamais viesse. Em lugar dela, havia a cada dia pequenos milagres, iluminações, fósforos riscados inesperadamente na escuridão; este era um deles.?

Recomendo altamente, completamente. Se tornou, com certeza, um dos meus clássicos favoritos. Leitura indispensável, mas que certamente requer muita atenção. Já estou sentindo que preciso reler. Mulheres, simplesmente leiam Virginia Woolf.
olivversion 22/05/2024minha estante
Resenha maravilhosa!


auroras 23/05/2024minha estante
Que resenha mais genial!


Max 23/05/2024minha estante
Quero ler!?


Fabio 23/05/2024minha estante
Resenha, muito bem escrita e sintetizada, Kakau! ???
parabéns!???


AliJu 23/05/2024minha estante
Resenha ótima demais, com certeza muitos vão se inspirar a ler o livro por sua causa ??


Poodle1 23/05/2024minha estante
Nunca li nenhum livro dela, vou aproveitar sua recomendação e colocar esse livro na minha lista!


xzsatur.no 23/05/2024minha estante
@olivkholin, muito obrigada!!
Que bom que gostou.


xzsatur.no 23/05/2024minha estante
@auroras, muito obrigada, Mariana!! Esse livro que é genial, totalmente.


xzsatur.no 23/05/2024minha estante
@Fabio, muito obrigada, Fabio!! Que bom que gostou. O livro é impecável.


xzsatur.no 23/05/2024minha estante
@AliJu, muito obrigada!! Que bom que passou essa mensagem. Foi exatamente a intenção!! Gostei demais.


xzsatur.no 23/05/2024minha estante
@YuriBH, eu também nunca tinha lido nenhum. Este foi o meu primeiro!


xzsatur.no 23/05/2024minha estante
@Max, e não vai se arrepender, Max!! Quando ler, espero que goste.


Fabio 23/05/2024minha estante
Eu conheço o livro Kakau, apesar de te lido há tempos, e qualquer hora poderíamos debater as obras dela e sobre as influencias em obras dos Joyce Faulkner e Clarice


ivy! 27/05/2024minha estante
Caramba!!! Que resenha boa????


xzsatur.no 27/05/2024minha estante
@Ivy, muito obrigada, Ivy!!
Que bom que gostou.




Arsenio Meira 21/12/2013

O FACHO QUE NAO CESSA DE VIRGINIA WOLF

Virginia Woolf foi uma escritora a frente, bem a frente do seu tempo. Deixou uma grande herança literária, dividida em diversos âmbitos. Iniciou seu trabalho em 1904 como crítica literária; no entanto, revelou sua apuradíssima sensibilidade e erudição em seus romances. Ela escreveu nove romances, entre os quais estão: Mrs Dalloway (1925), Ao Farol (1927), Orlando (1928) e As Ondas (1931), mas também ensaios feministas, obras críticas, além dos diários, cartas e demais escritos autobiográficos. Tomou partido das mulheres (no início do século XX, época difícil para todos, exceto para o homem branco abastado e socialmente bem posto.) Defendeu-as da opressão e da ignorância. E defendendo-as, defendeu a todos nós. Seu senso de humanidade não admitia obscurantismo. Virginia não ficou confinada no claustro dos eleitos.

Considerada uma das principais escritoras modernistas, cujo espírito criativo refrata e reflete as demandas artísticas do seu tempo, sua obra é frequentemente relacionada à de James Joyce. Embora não de modo idêntico a Joyce, Woolf utiliza a narrativa da consciência ou o fluxo de consciência, técnica pela qual a escritora ficou mais conhecida. Nesse processo de escrita, o pensamento flui, mergulha-se no interior do personagem e pode-se acompanhar o caminho traçado por seus pensamentos, lembranças, ações e reflexões, ao mesmo tempo em que se desenvolve a trama. Devaneios e monólogos são representados no texto num fluxo contínuo. E sensação que nos invade é indescritível. Grandes escritores são assim. Gênios vão além. Penetram nessa camada aparentemente inescrutável que há em nós, e dissecam pacientemente alguns desvãos labirínticos.

"Ao Farol" é o quinto romance de Virginia Woolf e foi publicado em 1927. A narrativa deste romance divide-se em três partes: A janela, O tempo passa e O Farol. O enredo começa com a ida da família Ramsay, um casal com seus oito filhos e seus convidados às Ilhas Hébridas, Escócia. Os acontecimentos ocorrem no período de dois dias longínquos entre si. Entretanto os dois dias situam-se no início do século XX. "A Janela" é o capítulo mais longo do romance, no qual se passam os episódios de um dia, apenas um dia, em que se retrata a família com seus convidados. A Sra. Ramsay diz que, se o tempo estiver bom no dia seguinte, eles farão uma visita ao Farol, o que traz uma imensa alegria ao seu filho mais novo, James.

No entanto, esse sentimento é destruído pelo Sr. Ramsay, que diante da janela assegura que não fará tempo bom. Ideia reforçada pelo arrogante personagem Charles Tansley, com observações meteorológicas. Ainda assim, a Sra. Ramsay continuou a tecer a meia que enviaria ao menino de Sorley (que mora no Farol). A posição irascível do Sr. Ramsay cria um embate entre ele e a esposa, que ainda acreditava na possibilidade do tempo melhorar. Parece banal, mas nas mãos de Virginia, nada é banal. Nada. As palavras ecoam, mesmo após degustadas, em nossos sentidos. A fatalidade e a melancolia poucas vezes tangível ou descrita por quem quer que seja, salvam o leitor. Só não sei bem de que. E o que não pode ser explicado, muitas vezes é o que importa.

A figura da Sra. Ramsay aparece como principal organizadora da felicidade de sua família. Ela é uma mulher muito bela e que já não é jovem. Seu marido, um professor de filosofia, é representado por um intelectual inseguro que possui uma dependência constante de sua esposa. A personagem Sra. Ramsay tenta lidar com a condição de ser anfitriã, mãe e mulher, assim como com as relações sociais e domésticas.

Escrever mais sobre a trama seria fatal (spoilers). Ler Virginia Woolf é uma dessas felicidades que o mundo proporciona. Woolf teceu o movimento da consciência dos personagens, representado por motivos simples ou casuais, como um levantar de olhos, criando uma narrativa aprimorada, com acontecimentos externos bastante próximos. A perspectiva do tempo nos romances de Woolf está mais voltada para o conteúdo interior, o da consciência. A ação exterior é breve e as longas interrupções para expor o que se passa nos pensamentos dos personagens é o que enriquece ainda mais a narrativa.

A prosa de Virginia Woolf é um Facho de luz perene. Um farol que encadeia as nossas sombras e dá sentido aos nosso trôpegos passos.
É uma escritora definitiva.
Daniel 10/01/2014minha estante
As relações familiares, a passagem do tempo, as mudanças, as perdas, está tudo aqui com precisão e modernidade.
Dos livros que li da Virginia Woolf, este é o mais comovente.


Arsenio Meira 10/01/2014minha estante
Exato! Tudo isso. E com uma elegância, uma dor quase palpável. Eu ainda não li Mrs Dalloway, mas Ao Farol foi um dos melhores livros de 2013. O melhor, sem dúvida.


@livreirofabio 16/11/2014minha estante
2 dias separados por 10 anos. "A manhã mais comum..." Linda resenha, Arsenio!


Carlos Patricio 28/11/2014minha estante
RESENHA GENIAL, COMO SEMPRE. GRANDE ARSENIO!


Cristian Bianchini de Athayde 27/06/2021minha estante
Parabéns pela resenha, e essa obra, ah sim, como é bela!


Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
Bela resenha! Com belos trechos como "Gênios vão além. Penetram nessa camada aparentemente inescrutável que há em nós, e dissecam pacientemente alguns desvãos labirínticos." e "As palavras ecoam, mesmo após degustadas, em nossos sentidos". Também fiquei surpreso com o pouco que eu sabia da vida de Virginia Woolf.


Nati 04/01/2024minha estante
Tendo muita dificuldade com a leitura. Vou tentar não desistir! Só elogios da obra




Nih 13/10/2022

I? don?t know what?s going on and I simply don?t wanna know
Cheguei à conclusão que o estilo modernista não é pra mim. Desculpa, Virginia. Apesar de ter alguns bons momentos e citações, no geral a história não parece ir a lugar nenhum em nenhum momento. Bem monótono e, por causa do excesso de personagens, parece que nunca sabemos muito sobre nenhum deles. Além disso, é confuso ? fica difícil de saber sobre quem a Virginia tá falando.
Não é um livro ruim necessariamente, mas não me conectei com ele, por mais que tivesse altas expectativas.
Victoria.Marin 13/10/2022minha estante
Olha, também não gostei desse livro! Achei suuuuuper monótono, ao ponto de me dar sono durante a leitura! Além de você começar o livro em um ponto e terminar no mesmo lugar ?


Victoria.Marin 13/10/2022minha estante
O ruim é que eu criei expectativas altíssima. Tipo: ?caramba é Virgínia Woolf, a tão aclamada?. Fora que era meu primeiro livro dela. Só decepção. Mas ainda quero tentar ler Mrs. Dalloway


Nih 15/10/2022minha estante
sim!!! foi exatamente isso comigo também!


Nih 15/10/2022minha estante
se você ler mrs. dalloway me fala se é bom hahaha


kaio 25/10/2022minha estante
Victoria senti o mesmo que vc, empurrei até onde deu mas resolvi abandonar. já li Mrs. Dalloway e gostei muito!


Victoria.Marin 25/10/2022minha estante
Ahh que legal, vou comprar MRs Dalloway, espero que eu goste também ?




JAssica.Nunes 28/12/2021

Perecemos? E é inevitável!
A sensação de ler Ao Farol é a de ver um quadro sendo pintado. São pequenos detalhes e traços que vão sendo impressos na tela e, a medida que se forma, conseguimos enxergar o todo em sua beleza e completude. As obras de Virginia Woolf sempre nos tocam profundamente, pois são mais do que meros acontecimentos. Escrevo essas linhas totalmente emocionada, pois é isso que a escrita de Woolf faz conosco, a autora mexe com as sensações e emoções humanas, nos fazendo refletir sobre sentimentos e inquietações que até então estavam soterradas em nosso íntimo.

Nessa narrativa, presenciamos a imponência do tempo sobre a família Ramsay, sua casa e suas memórias. Os anos passam. As pessoas envelhecem, mudam; as paredes, os móveis e o piso de uma casa se deterioram; entes queridos partem; e a vida segue sendo um mistério.

Essa é uma narrativa profunda sobre a vida, as relações familiares e esse inexorável poder do tempo. Tudo acaba, todos nós um dia pereceremos e não há nada que se possa fazer.

?Qual é o significado da vida? Isso era tudo ? uma questão simples; uma questão que tendia a nos envolver mais com o passar dos anos. A grande revelação nunca chegara. A grande revelação talvez nunca chegasse. Em vez disso, havia pequenos milagres cotidianos, iluminações, fósforos inesperadamente riscados na escuridão; aqui estava um deles.?
Pedro 28/12/2021minha estante
A resenha mais poética que eu já li aqui, no Skoob. Conseguiu mover meu coração empedernido.
Parabéns, Jéssica.
??????????


JAssica.Nunes 28/12/2021minha estante
Ohhh, Pedro? Muito obrigada! ??? Fico feliz!


dani 27/05/2022minha estante
Bela reflexão sobre esse livro lindo! Tbm me emocionou.


JAssica.Nunes 14/06/2022minha estante
Obrigada, dani!!


Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
Bonita analogia entre ler Virginia Woolf e "ver um quadro sendo pintado". Gera reflexões existenciais e os acontecimentos ficam em segundo plano ante essas reflexões e o estilística do livro, bem artística.




gwasem 21/08/2021

Uma pintura do tempo!
É uma obra difícil mas recompensadora. Chegar Ao Farol é enxergar a vida destes personagens através de seus olhos, através de suas vidas simples, pensamentos e conflitos. Neste diálogo com o outro, por vários momentos lembrei de minha infância, de momentos com a minha família. Difícil ler este livro e não sentir saudade, seja de pessoas que já se foram, lugares que visitamos ou frequentávamos... enfim. Esta linda obra-memória que fica pintada em nós mesmos durante e após a leitura, e cada vez que pararmos para observá-la com atenção, algo novo - uma pincelada - surgirá!
Alícia 21/08/2021minha estante
Não conhecia, fiquei curiosa para ler! (:


gwasem 21/08/2021minha estante
Vale muito a pena! Já leste Virginia Woolf?


Alícia 21/08/2021minha estante
Já vi elogios, mas nunca li nada dela até então, tenho vontade de ler "Um teto todo seu". Esse "Ao farol" não conhecia, mas vai entrar na lista também!




marina.siqueira 12/01/2022

Foi um livro diferente do que estou acostumada, que inicialmente não parece ser sobre nada além de rotina, mas acaba apresentando várias camadas. Uma leitura agradável, embora às vezes um pouco cansativa.
Foi em partes confuso, com uma grande quantidade de personagens que vão sendo introduzidos muitas vezes sem grandes explicações. Os diálogos são triviais, enquanto os pensamentos e falas mostram como inveja, ciúmes, egocentrismo, ambição, orgulho e luto podem ser encontrados nos lugares mais comuns.
A escrita é diferente de tudo que eu já li, com um fluxo contínuo de palavras, garantindo uma leitura fluida. Esse é o ponto forte de Ao Farol e é o motivo pelo qual vou tentar ler outro livro da autora.
Num geral, foi uma experiência que me provocou muitas sensações antagônicas. Ao mesmo tempo que é um livro sensível e com certa profundidade (nem sempre aparente), foi um pouco chato de se ler em alguns momentos, o que explica essa nota. Por fim, achei a escrita incrível, mas o livro em si nem tanto.
Pedro 13/01/2022minha estante
É incrível como uma boa escrita consegue compensar as falhas de uma narrativa, não é mesmo? Já li alguns livros assim.


marina.siqueira 13/01/2022minha estante
Sim! Faz toda diferença


Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
A maioria das pessoas são desacostumadas com este estilo de escrita, a prosa-poética. Um estilo que gosto muito mas que, além dela, só encontrei em Rimbaud e no "Livro do Desassossego" de Bernardo Soares (Fernando Pessoa). Nem pesquisando no Google achei outros autores de prosa-poética!




Tamires Durães 29/12/2021

Os desafios de ler Virgínia Wolf
Após ler Orlando, fiquei com uma pulga atrás da orelha em relação à complexidade da escrita de VW, resolvi me aventurar em mais um de seus romances e apesar de ter gostado mais deste que do outro, não estive em bons momentos durante a leitura, não absorvendo toda a sua potencialidade. Apesar disso, acompanhei a LC do Literature-se e pude tirar bons aproveitos. Em geral, mesmo que Virgínia negue a carga sentimetalista dessa obra, esta torna-se extremamente comovente e pessoal (tanto pra mim, quanto para a autora que descobri mais tarde). A narrativa não apresenta um grande enredo, mas é demasiadamente poética e aborda uma riqueza de aspectos sociais e emocionais. As personagens são complexas e muito reais.

"Todo o ser e todo o fazer, expansivo, resplandecente, vocal, evaporava-se; e nos reduzíamos, com uma sensação de solenidade, a sermos nós próprios, a um núcleo de escuridão em forma de cunha, algo invisível para os outros."

Ao expor sobre a morte em determinado momento, Virgínia "acende um farol" para o fato de o quanto uma pessoa pode representar em determinado círculo social, além disso, ela dispõe de figuras femininas antagônicas mas que se complementam de forma genuína, como os dois lados da moeda. Por fim, são diversas as impressões que esta leitura me causou, por ter como pano de fundo um drama familiar, o período de guerra, questões sociais, filosóficas e etc. Não posso deixar de destacar o posfácio surpreendente que a edição da Antológica traz, com certeza, torna a experiência literária singular. Desejo muito adquirí-la fisicamente e realizar uma releitura.
Joao 30/12/2021minha estante
Nossa, adorei a tua resenha! Nesse ano eu li Orlando e gostei bastante mas pretendo ler mais da autora no ano que vem. Fiquei curioso sobre "Ao Farol" depois de ler o que você escreveu.


Tamires Durães 30/12/2021minha estante
Que bom que gostou de Orlando, João! Ainda estou me habituando com a leitura de fluxo de consciência, mas não posso deixar de destacar a genialidade da escrita da autora. Também li uma obra sua de não ficção da qual gostei muito mais!


Joao 30/12/2021minha estante
Sim, eu estranho muito o fluxo de consciência. Tentei ler Mrs. Dalloway há algum tempo e realmente não consegui. Mas acho que estou me habituando mais a esse estilo.
E o leque de obras da autora é muito grande. Tanto de obras dela quanto das escritas sobre ela. Pretendo pelo menos ler mais um livro dela no ano que vem.




dani 27/05/2022

"Nós perecemos, cada qual a sós"
"Ao farol" é uma obra impactante que deixa uma impressão profunda, um desalento ambíguo. Ao mesmo tempo que a vontade é de jogar o livro no chão (não fiz isso porque li no Kindle) e se afastar, também exerce uma atração, semelhante àquela que faz Lily Briscoe permanecer "sentada no chão, com os braços ao redor dos joelhos da Sra. Ramsay [...]" e apenas contemplar essa obra transcendental. Mais um ponto para Virginia Woolf! Mais um livro que drena a energia emocional e superestima o intelecto dos leitores.
 
O cenário é a casa de férias dos Ramsay nas Ilhas Hébridas onde a família e alguns amigos passam o verão. Mas os diálogos e ações na vida real ficam em segundo plano, "como o contrabaixo que, ao acompanhar uma composição, entrava, inesperadamente, de vez em quando, na melodia". O verdadeiro protagonista da obra é o fluxo de consciência que perscruta a mente dos diversos personagens.
 
Já que Virginia fez a metáfora musical primeiro, tomo a liberdade de comparar a narrativa aos três movimentos de um concerto. A primeira parte, "A Janela", é animada, até frenética: muitos personagens sendo apresentados, o ritmo do fluxo de consciência, algumas lembranças do passado e vislumbres do futuro. A segunda parte, "O Tempo Passa", passa calmamente, sustentando uma serenidade melancólica que beira o sublime. Enfim, "O Farol" acelera novamente o ritmo da narrativa. Essa parte abarca um combate simbólico e intermitente entre os ocupantes da praia e os que navegam as ondas do mar.
 
O posfácio de Hermione Lee e as notas do tradutor Tomaz Tadeu ampliam a experiência de leitura. Permitem uma olhada nos "bastidores" da narrativa ao compartilhar trechos de cartas e diários de Virginia Woolf, além de informações sobre o contexto histórico e os locais citados.
 
Ao mergulhar na narrativa, é possível perceber o papel do feixe de luz ofuscante do Farol. Ele perscruta os sentimentos e as relações interpessoais de diferentes naturezas, enquanto revela como estas são afetadas pelas convenções patriarcais e expectativas externas. O Farol, em sua solidão de concreto, é um monumento ao isolamento e abandono emocional que infligimos uns aos outros, e pelo qual sucumbimos, como os navios que afundam em uma noite de tempestade.
 
"Nós perecemos, cada qual a sós", talvez ninguém venha para nos levar ao Farol. De qualquer modo, o que encontraríamos ao chegar lá?
Julia Mendes 29/05/2022minha estante
Que resenha maravilhosa! ??


dani 29/05/2022minha estante
Muito obrigada, Julia ? Esse livro foi muito especial.




Bheatriz.Lessa 27/03/2021

Não sei ao certo como explicar, porque a leitura fluiu muito bem, mas sinto que não entendi praticamente nada.
Estou surpresa porque não sabia da existência dessa possibilidade.
Leitura com palavras fáceis; sequência lógica de fatos, apesar de algumas repetições que eu ainda não entendi o porquê, bem curtinho...
E sim, não entendi.
A cada frase q eu lia eu entendia, lia a próxima e parecia que todo o sentido da frase anterior havia se perdido.
Acho que para compreender terei que ler artigos e ver vídeos sobre o livro, porque ele sozinho não foi autoexplicativo pra mim.
Foi uma interessante experiência sensorial durante a leitura, mas agora, parece que não li absolutamente nada.
Vanessa 03/04/2021minha estante
Eu tô exatamente assim! Hahaha


Carlos.Vergueiro 06/04/2021minha estante
Tive a mesma impressão na primeira leitura. Agora, relendo (Sabia que existia um porquê de não ter entendido a primeira vez, mas não entendia o porquê), estou entendendo. Talvez ler Proust nesse interim me ajudou. Não é o estilo que mais me agrada, mas de fato é um excelente texto literário.




Ana Bruno 14/02/2021

Fluxo de consciência
Tenho bastante resistência com livros em fluxo de consciência,  talvez pela narrativa ser tão íntima ao personagem acaba sendo um tanto incômoda para mim. Ainda não os leio com naturalidade e não me são leituras fluidas.
Fui apresentada aqui à  Virgínia Woolf, meu primeiro livro da autora e em mim ele se revelou como um livro que aborda expectativas e perspectivas que temos e que se aprimoram, se intensificam ou se desconstroem com o passar do tempo ou conforme crescemos.
Com uma escrita belíssima, adornada de lirismo e toques de filosofia, o enredo simples,  que se pontua basicamente em dois únicos dias,  com um intervalo de 10 anos entre eles, nos faz refletir sobre nossas próprias percepções sobre relações e sonhos,  concretizados ou descartados.
Andréia 21/02/2021minha estante
Que resenha bonita


Ana Bruno 22/02/2021minha estante
Obrigada!!! ?




Ellen Rayane 10/03/2021

Difícil leitura
Deve ser um bom livro...
Mas é muito arrastado e não me cativou
Não me identifiquei com os dramas dos personagens...
Pra mim foi um livro cansativo que não saiu do lugar.
Aninha 19/03/2021minha estante
Estou lendo ele agora e to buscando alguma inspiração pra continuar kkkkk


Carlos.Vergueiro 06/04/2021minha estante
Utilize o direito do leitor. Abandone. Volte em outro momento. Vale a pena.




Catarina 25/01/2022

woolf não é pra mim
ler virginia woolf me dá a sensação de estar observando um clubinho do qual eu não faço parte. parece que todo mundo que lê os livros dela consegue entender a mensagem que ou está nas entrelinhas ou está escancarada, não sei qual das opções, porque nunca consigo entender. me sinto entediada lendo páginas e mais páginas que, na minha opinião, não dão em lugar nenhum.

não tenho nenhuma pretensão de ler outros livros da virginia woolf por tão cedo. ano passado li mrs dalloway e tive a mesma sensação quando li agora ao farol. infelizmente foi uma autora que não me cativou, espero, no futuro, mudar de opinião, mas por ora é isso mesmo.

mesmo não sendo uma das melhores experiências de leitura pra mim, ainda assim não quero afugentar ninguém dos livros da virginia woolf, acho que é mesmo questão de gosto. então, sugiro que você leia pelo menos um e a partir daí tire suas próprias conclusões, vai que você gosta!!! (realmente torço para que vocês tenham uma experiência de leitura melhor do que a minha).
Ingrid249 25/01/2022minha estante
eu só li "profissões para mulheres e outros artigos feministas" e talvez por ser de não ficção seja um bom caminho para conhecer mais a autora, mas sobre os romances dela não sei se leria também


bih 29/01/2022minha estante
oh amg tô na mesma :(




João 06/07/2021

Um romance em 4D: o tempo como quarta dimensão
Alguns livros pedem certo distanciamento para que uma apreciação verdadeira se desenrole, é o que aconteceu na minha experiência de leitura com a tríade de romances woolfianos: O quarto de Jacob, Mrs. Dalloway e Ao Farol. A estrutura fragmentada das obras que, cada um à sua maneira, brincam com o tempo da narrativa ? mesclando presente e passado entre ação e pensamento ? se assemelha ao efeito provocado pelas pinturas impressionistas, em que as cores e formas só são percebidas quando todas as pinceladas foram dadas, não há contornos e suas cores precisam da percepção subjetiva do expectador para existir.

Ler Ao Farol num primeiro momento pode causar certo estranhamento, isso porque naturalmente sentimos mais conforto na leitura de histórias lineares, não porque o livro seja verdadeiramente difícil. Algumas idas e vindas nas primeiras páginas podem ser suficientes para acomodação. A narração da história acontece em 3 dimensões que são simultâneas: aquilo que se fala, o que ocorre externamente e o que é percebido subjetivamente (através do pensamento). Então, no diálogo de abertura em que a sra. Ramsay fala que iremos ao farol se fizer bom tempo, vê a reação do filho cortando gravuras numa revista e processa seus sentimentos quando ao Sr. Ramsay e seu pupilo Tansley, tudo ao mesmo tempo, o que se projeta do livro é uma cena tridimensional. Mas quando podemos ver a história como um todo, ao fim da leitura, a marca do tempo na narrativa revela-o como a quarta dimensão.

Neste livro, a Virginia consegue abordar o tempo sem escolher uma máscara específica para ele: seja o tempo externo cronológico ou a percepção interna do tempo, o tempo dentro daquele microcosmo (a temporada de verão com a família numa praia) e o tempo quando marcado por eventos históricos (a guerra), todos eles atravessam a narrativa. O efeito global é muito interessante, por que é uma história que ocorre durante dois dias separados por dez anos. A primeira parte, e mais longa, se processa já no fim do dia, até a casa adormecer, então se passam dez anos, na sessão mais curta, para na terceira, e última, parte finalmente vermos o dia amanhecer. A impressão final é que o passeio ao farol na manhã seguinte realmente ocorre, com o pequeno detalhe de ser dez anos depois.

Vencido o estranhamento inicial com todas essas dimensões narrativas, a história vai se apresentar com toda sua sensibilidade para o leitor aberto. Ao Farol é descrito pela própria Virginia Woolf como uma Elegia, sua prosa poética homenageia a base afetiva sob a qual seu romance é escrito, as temporadas de veraneio na Cornualha com a família, quando finalmente ela consegue canalizar através da caneta todos os sentimentos conflitantes pelos pais, pela arte e, sobretudo, pela vida.
Victor 08/07/2021minha estante
Adorei a resenha, esse definitivamente vai ser o meu próximo dela.


João 08/07/2021minha estante
É meu fav dela migo




DIRCE 01/02/2017

Catarses
Jorge Luiz Borges define os livros como “ (...) uma extensão da memória e da imaginação”. Não sei o quanto V. Woolf fez uso da sua memória para produzir mais uma obra-prima, já que, segundo “as más línguas”, ela buscou inspiração na sua família e , dizem mais: dizem que Rumo ao farol seria um romance autobiográfico. Se isso é fato, Virginia fez uma catarse ao escrever esse livro e , nesse processo , na primeira parte do livro ( o livro é composto de 3 partes: A janela, O tempo passa e O Farol), nos apresenta ( longe de ser, contudo, uma apresentação convencional) , os Ramsay , seus oito filhos e alguns convidados e , a partir de fatos cotidianos, fatos banais como um passeio frustrado, o tricotar de uma meias, um jantar , ela nos mostra , de modo magistral, a posição da mulher na casa e na sociedade- nem preciso dizer que o empoderamento feminino era zero, Lily Briscoe que o diga - Na segunda parte... O tempo passa e , como tudo é frágil e efêmero, sem sentido, nos faltam entes querido e as lacunas por eles deixadas são preenchidas pela dor, pela tristeza. A guerra chega e com ela o caos, a devastação. Mas pode haver beleza na ruína, na dor? Eu sou uma usurpadora de citações, desta feita, Caetano que me perdoe, mas não foi ele quem disse que Narciso acha feio o que não é espelho? Pois então. Eu , que fui escolhida a dedo pela crudelíssima Hades para ser privada ,em um curtíssimo lapso de tempo ( dois meses) , de entes queridos – meu pai e meu irmão- , como o Narciso que se debruçou sobre a sua beleza, debrucei-me sobre a dor que irromperam das páginas dessa brevíssima parte ( 20 páginas somente ) que me tocaram profundamente e invadiram minha alma sem piedade. A dor, a melancolia somaram-se à beleza da narrativa da V. Woolf e, eu me vi, repentinamente, tomada de um sentimento indescritível. Sim existe beleza na dor. Uma beleza que fizeram com que lágrimas sentidas rolassem durante a minha leitura desse capítulo.
Terceira parte: finalmente rumo ao farol. Chegada a hora do resgate. Como fazer isso diante dos “estragos” do tempo? Somente por meio da arte. Somente por meio do resgate da cena em que a sra Ramsay estava presente. A sra Ramsay- ela, o farol que direcionava a sua família – é eternizada no quadro de Lily Briscoe. O tempo “estraga”, o tempo “conserta” . Ele permite até a REDENÇÃO.
Como não favoritar um livro que me permitiu junto, com a escritora , fazer uma catarse? Impensável.


Flávia 02/02/2017minha estante
Ah, Virginia... Esse ano qro ler o quarto de Jacob.


Wagner 06/02/2017minha estante
Saudações Dirce.
Primeiro você me apresentou a INTERTEXTUALIDADE e agora a CATARSE. Muito obrigado.
A resenha está perfeita. Parabéns.




Henrique Fendrich 12/02/2016

Quem dera eu fosse mais inteligente para apreciar toda a beleza do livro.
Bárbara Soeiro 12/02/2018minha estante
Sim...


Fabiana 17/06/2018minha estante
Faço minha as tuas palavras. Quem conseguiu assimilar a escrita e pensamentos da protagonista nas linhas da escritora, tiveram com certeza uma linda leitura. O que não foi o meu caso. :'(




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