karlinismo 01/01/2021
"Nada fica de nada...
Nada somos.
Um pouco ao sol e ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam."
Quero registrar a minha profunda repulsa pela personalidade de Ricardo Reis. Quero, com consciente intenção, escolher cada palavra que me preste a expressar o que senti ao adentrar seus poemas.
Estive dividida entre a secura do desprezo e o romper-se da piedade verso por verso. Li e ouvi, no interior pousei meu olhar. Encontrei em abundância uma doentia subjetividade de tudo.
Li bela e culta língua formar perversidades. Ouvi soturnos monólogos incitar falsidade e desespero. Estive num pequeno inferno de confusão intelectual!
Ah, Pessoa... quem foi você?
Álvaro foi para mim um irmão, e este Reis, um inimigo. Devo armar-me de quê para ter convosco no Guardador de rebanhos?
Acompanhei um ergástulo. É isto.
Termino este livro assombrada com o que o ser humano é capaz de si.
Anoitecendo, lançado à morte febril de paixões, com o sol levante, um vivo indiferente.