A classe média no espelho

A classe média no espelho Jessé Souza




Resenhas -


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mpessatto 01/12/2018

A realidade diferente do que aparece para nós
É o segundo livro de Jessé que tenho a oportunidade de ler. O primeiro foi a Elite do Atraso. Após lermos um livro de Jessé, a sensação que temos é, no mínimo, de desconforto. Conhecer uma nova realidade - ou a realidade que sempre existiu, porém nunca tivemos a oportunidade de conhece-la -, sempre o é. A bem da verdade, Jessé nos premeia com um vasto conhecimento acerca de sociologia e, sobretudo neste livro, de psicologia. Diferente da Elite do Atraso, que faz uma análise mais sociológica e, portanto, que considera mais a coletividade, A classe media no espelho, ao meu ver, considera muito mais a individualidade dos sentimentos mais íntimos das pessoas da classe média do nosso Brasil - sempre, claro, considerando suas idiossincrasias, que são muito peculiares, por sinal.

Jessé vai nos trazer ao mundo real, fazendo com que olhemos para os verdadeiros saqueadores de nosso pais, que há muito são esquecidos e acobertados por uma mídia manipuladora, que também se beneficia diretamente pelo seus atos. Dessa forma, irá nos mostrar como a classe média serve (e muito bem por sinal) para manutenção do status quo que nos encontramos, indo de encontro justamente ao que pensa que está fazendo.

A leitura é essencial a todos aqueles que querem ter uma visão crítica da realidade sem ficar seguindo ideologias que sequer lemos algum dia, mas nos são impostas desde a mais tenra idade.



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Renato375 10/06/2023

No livro A Classe Média no Espelho, Jessé Souza caracteriza essa classe social na realidade brasileira e oferece novos conceitos para a divisão que vão além da renda. Com uma linguagem que tenta ser acessível, mas nem sempre é possível, o autor, antes de discutir o caso brasileiro, faz algumas conceituações que eu particularmente achei muito boas.

As reflexões sobre o conceito de moralidade segundo a tradição judaico-cristã, seguidas pela transformação da moralidade decorrente da revolução protestante no mundo ocidental, trabalho útil, dignidade humana e meritocracia são abordados de forma instigante, o que incentiva o leitor a continuar lendo.

O autor critica severamente o mito do 'jeitinho brasileiro', difundido amplamente como sendo o motivo de nossos problemas sociais. Ele desconstrói completamente esse estereótipo que nos foi atribuído pela elite, por meio de intelectuais como Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro.

Jessé discute também como nosso histórico de sociedade escravista influencia até os dias de hoje na organização das classes e na perpetuação de uma 'classe de miseráveis', mas isso será abordado em outro momento.

Bônus: No final, há entrevistas com diversos estratos da classe média brasileira, onde certamente vocês irão identificar uma parente, vizinho ou colega de trabalho.
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Mauricio 10/11/2019

Uma psicanálise social
Jessé de Souza fez pós doutorado em psicanálise em Nova York, e isso talvez explique sua obsessão em procurar no mais íntimo dos nossos sentimentos o porquê para as nossas aflições sociais e coletivas.
Para quem leu outros de seus livros, haverá uma certa dose de repetição de abordagens, chavões e reflexões acerca da nossa tensão social e luta de classes, passando por termos como "complexo de vira-lata", "elite de rapina", "ralé de novos escravos" entre outros. Mas neste livro, há um maior aprofundamento na análise da classe média, análise essa de psicanalista mesmo, visto que no livro existem mais explanações de suas observações sobre o nosso inconsciente coletivo do que dados numéricos e/ou estatísticos. Ainda assim, o livro não deixa de ser bem interessante, principalmente quando faz suas abordagens acerca das classes sociais e suas interrrelações : elite, alta clesse média, a massa da classe média e a classe baixa.
É na parte final do livro, quando relata a vida real de alguns representantes destas classes, que mora a melhor parte do livro e certamente todos vão identificar algum colega, amigo, parente ou conhecido que enxerga o mundo exatamente com os entrevistados. É interessante como a nossa sociedade do consumo e da informação em tempo real e velocidade alucinante, onde cada um se julga dono da razão e da verdade, conseguiu reduzir planificar a mentalidade das pessoas a meros esquemas simplistas e muitas vezes binários, separando-as em poucos grupos com linhas de pensamento praticamente idênticas.

Em resumo, se tiver inclinações à esquerda, ou à direita, a leitura valerá a pena, e certamente abrirá sua cabeça acerca de várias questões que nos afligem.
Ana 17/11/2019minha estante
Estou chocada com algumas entrevistas.




Leandro.Mageste 25/11/2020

Por um lado, é possível reconhecer os méritos da obra no tocante a sua difusão por um público mais amplo, não necessariamente acadêmico. Assim como em outras obras do autor, a intepretação da sociedade brasileira, fundamentada na escravidão e na construção de um complexo de ?vira-lata liberal? é provocante, um bom ponto de partida para refletir sobre a organização de novas práticas e discursos políticos. Contudo, por outro lado, me incomodou bastante a falta de detalhamento dos aspectos metodológicos que tornaram possíveis as entrevistas e intepretações, bem como os parâmetros que permitiram o autor a sistematizar as narrativas referentes aos seus sujeitos. As análises referentes aos governos petistas são rasas, o que deixa pouco espaço para pensarmos justamente nas contradições internas e suas consequências em termos de redimensionamento da política no pré e pós-golpe de 2016. De toda sorte, a despeito dos pontos que me incomodaram, é um trabalho que merece ser lido e confrontado, na medida em que fortalece de uma maneira acessível uma tese original para entender o Brasil na contemporaneidade.
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Diego Cruz 07/10/2020

Execelente reflexão acerca da realidade que muitas vezes a gente nem tem muita noção. De como a classe média utiliza um discurso anti corrupção, mas desejam apenas a manutenção dos seus privilégios. A parte das entrevistas é uma das melhores do livro. Indico muito para quem quer entender um pouco esse processo da clase média no Brasil e como isso está inserido desde a escravidão em nossa sociedade.
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Alexandra.Tavares 13/08/2020

Estonteante!
O livro complementa e endossa uma visão do senso comum que algumas pessoas já tinham sobre a classe média! Muito boa a leitura, recomendo para todos, quer concordem com o que está escrito, ou não.
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João Moreno 23/07/2020

Chauí, eu também odeio a [alta] classe média

‘A classe média no espelho’ é o tipo de livro que me permite começar essa resenha/resumo (?) de diversas formas. Poderia dar continuidade à fala da professora Marilena Chauí, como comecei, com o título, apontando como, “por conta disso [ameaça de proletarização], parte expressiva da massa da classe média é cativa de sentimentos protofascistas, expressos tanto no integralismo da década de 1930 quanto no apoio a Jair Bolsonaro hoje em dia ” (SOUZA, 2018, p. 275) ou então citar trecho de reportagem da década de 1980 que eu encontrei, sem querer, enquanto fazia pesquisa documental, em Goiânia:

“O transporte coletivo, desse modo, está impossibilitado de oferecer conforto necessário, principalmente à classe média, que se acha muito apegada a seus carros particulares, porque temem perder seu status se misturando às diversas camadas sociais.”

Trecho da reportagem ‘Transurb inova, mas a classe média resiste ao transporte coletivo‘, de 17 de outubro de 1980. Jornal Opção

Indo direto ao ponto, ‘A classe média no espelho’ faz parte de proposta de Jessé Sousa – a partir de suas perspectivas teóricas, que bebem em Weber, Bourdieu e Charles Taylor, e entendendo que as idéias são os elementos fundadores da sociabilidade, transmitidos através de instituições até a naturalização e à incorporação destas – de dar uma nova interpretação sociológica à sociedade brasileira, uma vez que, em sua opinião, os mitos nacionais vigentes – do culturalismo ao “vira-latismo liberal brasileiro” – são instrumentos de dominação simbólica, construídos por uma “elite do atraso” e uma alta classe média que se reproduzem a partir do subdesenvolvimento do país.

“Toda interpretação dominante sobre o Brasil de hoje, por exemplo, advém desse entendimento equivocado e superficial dirigido contra os próprios nacionais” (SOUZA, 2018, p. 36).

Pode parecer estranho à primeira vista, mas, ao longo da obra, que tem na Classe Média, em suas diferentes frações e contradições – a “massa da Classe Média” e a “Alta Classe Média” –, o protagonismo, Souza (2018, p. 18-20) se propõe a:

1) “(...) provar a existência de ideias e valores que influem em nossa vida, ainda que não tenhamos consciência deles” (SOUZA, 2018, p. 18).

2) Diferenciar a Classe Média brasileira de outras classes médias, de países centrais do capitalismo;

3) Desnudar o caráter subordinador do mito-nacional brasileiro, construído pelas elites paulistas, ligados à atividade agrária e financeira;

4) Fazer uma análise sociológica comparativa entre classes sociais, tomando como partida a Classe Média;

5) A partir de entrevistas em profundidade e usando o conceito weberiano do ‘Tipo Ideal’, reconstruir a trajetória de vida de pessoas da massa da Classe Média e da Alta Média, revelando a base empírica a qual sustenta a sua argumentação teórica. É o tal espelho, sobre o qual fala no título. É nauseante, principalmente a primeira parte.

Explicitadas as intenções, Sousa (2018) fala sobre as “hierarquias morais”, como são fundamentais para pensar o homem na sociedade moderna capitalista e como definem o “eu”, o “ser”, ao contrário de nossas impressões, de donos do mundo, senhores portadores de uma “liberdade abstrata” etc. É dentro desta perspectiva que a Classe Média brasileira se constrói, diz Jessé. Se são as instituições que conformam e formam o indivíduo, a escravidão seria a principal instituição brasileira (ao contrário do mito patrimonialista de um origem portuguesa, logo corrupta). Assim como Bourdieu entendeu que a sociedade hierarquiza e as classes sociais encontram modos de se distinguirem das demais, Jessé, e talvez aqui seja o ponto alto do livro, entende que a “distinção social”, dentro de uma sociedade escravocrata, como a brasileira, permitiu a naturalização e a reprodução dos valores escravistas; é por isso que no país há uma legião de invisíveis, desgraçados, “carvão para queimar”, nas palavras de Darcy Ribeiro, em que até 100 milhões de brasileiros vivem com até R$ 500 reais por mês.

O lance de Jessé Souza com a escravidão brasileira é importante, pois, segundo o sociólogo, é a partir dela que a Classe Média se forma, em suas diferentes frações. Para além da sua formação histórica – dos “agregados”, vinculados à elite, que conseguiam a alforria –, interessa-nos, principalmente, a sua reprodução, a forma como o “capital cultural” é conquistado e transmitido.

É assim que é importante citar que a noção de classes sociais presente em ‘A classe média no espelho’ não vem do marxismo, ao contrário. Souza (2018) também não trabalha com a noção de renda, visão dos sociólogos norte-americanos. O autor trabalha com a visão de “reprodução de privilégios, sejam eles positivos ou negativos”. Assim, na visão de Jessé, o que caracterizaria a Classe Média seria a posse de conhecimento, uma vez que a propriedade privada dos Meios de Produção estaria restrita às elites, em suas diferente frações. A reprodução de “capital cultural” da Classe Média – capacidade de ler, acesso à cultura, capacidade de concentração, estímulo, possibilidade, compra de tempo –, por sua vez, está imbricada de forma inexorável à forma de “reprodução social” da “ralé” brasileira, uma vez que, para que a Classe Média ganhe tempo, faz-se necessário comprar o tempo do pobre, com baixos salários, pois o trabalho braçal, destinado aos mal alfabetizados, por conta da escravidão, será sempre desvalorizado e mal pago. E é assim que, se de um lado, há a reprodução de um “capital cultural” que permite acesso às melhores oportunidades do outro há a continuidade, a permanência, o subdesenvolvimento.

Se a distinção “negativa”, que explica o porquê policial pode matar preto na favela e tudo bem (porque parte da “ralé”), é o ponto alto do livro, em minha opinião, talvez a sua principal missão seja caracterizar o pensamento da Classe Média, as sua “hierarquias morais”, o modo como enxergam o Brasil. Para tanto, Souza (2018) precisa falar da formação da “elite do atraso” brasileira e de como uma burguesia sem industriais ditou os rumos de nosso desenvolvimento. O que fica claro no livro é que a Classe Média, tanto a “massa” como a sua “alta” fração, desempenha um papel importante na sociabilidade e rumos tomados pelo país. O Revolução de 30 e o tenentismo é o exemplo citado pelo sociólogo como o “nó górdio”, a virada de direção para todos os projetos de poder.

Jessé Sousa diz que, com a perda de poder em 1930, as frações agrária-comercial-financista da elite brasileira perceberam a importância da construção de “hierarquias morais”, consenso, hegemonias para a manutenção do poder. A Universidade Paulista seria a principal fábrica do pensamento conservador brasileiro, da hierarquia moral de certa elite que perdura até hoje: o liberalismo vira-lata que enxerga no Estado os defeitos e no Mercado as virtudes, pois a corrupção, numa leitura moralizante, naturalizada, “própria” do brasileiro, tornou-se nossa segunda pele: somos todos corruptos! É o jeitinho, rs. Notem que a demonização do Estado se dá apenas para o âmbito do desenvolvimento nacional, pois o subdesenvolvimento enriquece alguns. O Estado, apesar de demonizado, continua sendo “o balcão de negócios da burguesia”; a Dívida Pública fonte inesgotável de acumulação; a carga tributária regressiva brasileira uma “jabuticaba”, só aqui…

Da USP ao Buarque de Holanda e daí ao Raymundo Faoro, finalizando com FHC, o grande sociólogo brasileiro, um dos autores da “Teoria da Dependência” a qual enxerga a possibilidade de desenvolvimento a partir de uma submissão integrada, digamos assim. O que Jessé Souza (2018) faz é mostrar que essas “hierarquias morais” foram e são construídas para conservar, conservar o que está aí. Ao naturalizar a corrupção como doença endêmica, condenamos o país à dependência e ao subdesenvolvimento. As “elites do atraso” foram extremamente eficientes, no fim, pois, como diz Souza (2018), o segredo da perpetuação da dominação é o seu desconhecimento.

Ao final, o sociólogo faz uma relação entre neoliberalismo ou capitalismo financeiro. Interessante pensar como o neoliberalismo ‘casou’ com o pensamento hegemônico brasileiro ao mesmo tempo é interessante pensar nas transformações impostas à vida das pessoas por ele. O “eu” como o responsável por todas as vitórias, mas também fracassos, impede que a dominação e a exploração fiquem claras à população.

Como crítica ao livro, a parte final e a sua leitura das gestões Dilma, rasas e unidirecionais, ao contrário do restante do trabalho. Há interpretações muito melhores do que a de ‘A classe média no espelho’. Também me incomodou a importância dada pelo autor à “Revolução Cultural de Maio” de 1968, numa visão emancipadora, como se não tivesse significado despolitização. “A prosperidade e a privatização destruíram o que a pobreza e a coletividade na vida pública haviam construído’’(HOBSBAWM, 2017, p. 301). Apesar da tentativa louvável de propor uma nova “hierarquia moral” e apontar a necessidade de construirmos novos “mitos nacionais”, menos vira-latas, talvez a nossa principal discordância seja a crença na possibilidade de um projeto industrializante, nacionalista e emancipador dentro da ordem constituída. Jessé sabe que não temos burguesia para tanto como também sabe de nossa subordinação, como nação, a interesses estrangeiros, notadamente norte-americanos. Todavia, acredita na Classe Média como “fiel da balança”, notadamente a “massa” da Classe Média, como norteadora, como foi no passado, diz.

“Nesse sentido, a classe média e suas frações têm um poder inédito entre nós. Para onde elas se inclinarem, toda a sociedade, muito provavelmente, também vai se inclinar (…) Mas, por outro lado, a massa da classe média tem a possibilidade de ser, num país tão desigual e com classes populares tão perseguidas e desmobilizadas, um importante vetor de mudanças sociais, como foi no passado. O autoesclarecimento é um passo fundamental nesse desiderato.” (SOUZA, 2018, p. 165).

Eu gostaria muito de reler esse texto, daqui a alguns anos, e perceber que o Jessé estava certo, esse tempo todo… Ah, como eu gostaria de estar errado, Jessé!

(Meu 'fichamento' está disponível no link)

site: https://literatureseweb.wordpress.com/2020/07/24/um-resumo-de-a-classe-media-no-espelho-de-jesse-souza/
Maria 23/07/2020minha estante
Você é foda hein


João Moreno 23/07/2020minha estante
Que nada :) Serei quando conseguir escrever uma resenha igual a sua, para 'A ridícula ideia de nunca mais te ver'. Belo texto, bom mesmo, até parecia um conto/crônica.


Maria 26/07/2020minha estante
Morri de vergonha agora haha obrigada :)
Uma das poucas coisas que escrevi esses anos recentes, não tenho muito coragem pra ficar fazendo


João Moreno 27/07/2020minha estante
Fiquei pensando sobre o que te responder, mas toda resposta que vinha à mente tem mais a ver com as minhas experiências, logo não serve pra muita coisa, a não ser falar de mim,rs. Então, só posso dizer que, se a sua falta de "coragem" tiver relação com 'qualidade' na escrita, escreva, porque cê escreve bem mesmo.


Maria 29/07/2020minha estante
Obrigada mesmo :) algumas más experiências na faculdade fizeram me achar pedante, acabo não notando como várias outras pessoas gostam do que escrevo


João Moreno 31/07/2020minha estante
Esperamos esperar uma nova resenha sua por aí, mas sem pressão. Sigamos :)




Andre Luiz 07/09/2020

Fichamento
Fichamento do livro: A Classe média no espelho
Jessé Souza Editora: Estação Brasil 2018 – RJ

“A linguagem “difícil” da maioria dos intelectuais tem a ver com um uso do conhecimento semelhante ao uso nocivo do dinheiro: para marcar diferenças sociais e acentuar o sentimento narcísico de superioridade em relação aos não iniciados. No entanto, qualquer coisa pode ser dita de um modo compreensível para a maioria das pessoas” p.12
“Hoje em dia, o trabalhador precário não se considera pobre, mas de classe média. Os pobres são apenas os excluídos e marginalizados. A classe média real, por sua vez, se vê como “elite”, contribuindo para um autoengano fatal e de consequências terríveis para o destino da sociedade brasileira” p.17
“As classes não existem isoladas no mundo social, mas sempre em relações de aliança e de disputa pelos recursos escassos com outras classes sociais” p.19
“Sem consciência da realidade que nos molda, somos vítimas ainda mais impotentes de sua força” p.39
“Dimensão narcísica é “infantilizada” e “inflada”, ou seja, elas só aceitam ouvir confirmações de suas próprias ilusões e opiniões, evitando a todo custo qualquer pensamento crítico”. p.40
Expressivismo
Protestantismo ascético
“Como toda moralidade é social e nunca individual apenas, a fonte da autoestima não se distingue da fonte do reconhecimento social dos outros” p.45
“Tanto a nossa autoimagem como a visão dos outros sobre nós derivam da mesma fonte e avaliam o desempenho do indivíduo segundo os mesmos critérios. Assim, a própria ideia, positiva ou negativa, que fazemos de nós é o resultado de uma construção social” p.46
“Quanto menor a consciência do público, tanto maior a eficácia manipulativa, dado que não podemos nos defender reflexivamente daquilo que não percebemos nem compreendemos” p.49
“A própria noção de amor moderno, como base da família e de uma vida sentimental estável, foi criada pelo expressivismo e pelo romantismo do final do século XVIII”. p.51
“No século XVIII começam as críticas ao trabalho igual e repetitivo, como sendo indigno da grandeza humana” p.53
“Não há dominação de poucos sobre muitos sem o recurso à mentira e ao engano. Em consequência, a opressão precisa ser moralizada, difundindo-se a ilusão de que o interesse do dominado é levado em conta e, mais importante, convencendo-o de que a própria dominação é para o seu bem” p.58
“O dinheiro compra o que está à venda, mas não compra nenhum aprendizado real, posto que este só se alcança com esforço. Mas é possível comprar a aparência de aprendizado real” p. 66
“Sob a influência das tolices do patrimonialismo vira-lata, sempre nos vimos como uma sociedade marcada pela corrupção do Estado, relegando ao esquecimento o mais óbvio: somos os herdeiros da maior sociedade escravocrata do planeta. Quem não sabe quem é jamais pode aprender, e quem nunca aprende está condenado à repetição” p.69
“Ao contrário do escravismo, por exemplo, o capitalismo não explora a mera energia muscular do trabalhador, e sim o conhecimento incorporado que o capacita, por exemplo, a operar máquinas complexas” p.70
“A exploração econômica do trabalho barato permite à classe média não só “roubar” o tempo da “ralé de novos escravos” – ocupados nas funções repetitivas e desgastantes do serviço doméstico e do serviço pesado e perigoso em geral -, como usá-lo depois em tarefas mais bem pagas em benefício próprio” p.71
“Mais uma vez: quem não sabe quem é nunca pode se autocriticar, e quem não se critica nunca aprende nada” p.73
“A causa de todos os golpes de Estado, em especial o de 2016, nunca teve nada a ver com a corrupção; Por que apenas a suposta corrupção petista incomoda a classe média, e não a dos outros partidos, mesmo quando comprovada em gravações exibidas na TV? Alguém viu a classe média em massa nas ruas, protestando contra a corrupção de partidos de elite? P. 73


“Ora, no Brasil, a instituição que influenciou todas as outras foi a escravidão. Como sistema econômico e social, o escravismo jamais existiu em Portugal. A escravidão, portanto, é brasileiríssima” p.74
“agregado” p.79
“Vários dentre eles vão se juntar aos ex-escravos, abandonados pela “abolição” meramente formal, e constituir uma das maiores classes sociais do Brasil moderno: a ralé estrutural de despossuídos e abandonados” p.79
“O romance São Bernardo mostra, de forma magistral, o processo de desumanização que um agregado que se torna proprietário de terras tem que realizar num contexto marcado pelo arbítrio e a violência’ p.79
“As formas mais comuns de agregado serão o tropeiro, o sitiante, o vendeiro e, acima de tudo, o “cabra”, o braço armado do patrão, disposto a matar ou morrer por ele”. p.80
“Mas a ilusão de liberdade vale muito – na ausência de outra opção, resta a fantasia – e ainda permite aliviar o desgaste do arbítrio e da autoridade aberta” p. 80
“O pressuposto do acordo de cavalheiros entre o senhor e o dependente é que o escravo trabalha para ambos” p.80
“Ao contrário da colonização norte-americana, feita em grande medida por pequenos e médios proprietários de terra, no Brasil a colonização se deu por meio do latifúndio sem lei – na verdade, sua única lei é a do mais forte e do mais inescrupuloso -, que subordina e comanda toda a realidade social. Essa é a real e principal diferença entre a história social desses dois países, e não as bobagens preconceituosas e racistas do “protestante divinizado”, que nossos intelectuais, colonizados no complexo de inferioridade até o osso, até hoje compra pelo valor de face”. p.82
“O processo de urbanização transforma a realidade material e simbólica das pessoas e cria necessidades que não existiam no meio rural” p.83
“já com o advento da mineração e, sobretudo, com as duas novidades associadas à vinda da Família Real portuguesa ao Brasil em 1808 – a data de nascimento do Brasil moderno-, notam-se mudanças sociais de vulto na sociedade brasileira. Essas duas transformações são a abertura dos portos e a transplantação do aparato do Estado português de Lisboa para o Rio de Janeiro” p.84
“A transplantação do aparelho de Estado é o outro fator que explica as mudanças estruturais na vida citadina”. p.85
“O ponto crucial para nossos fins é a nova valorização do conhecimento que se cria no Brasil nessa época. Nada é mais importante nem mais característico da classe média do que a valorização do conhecimento. Num contexto em que a propriedade é de tal modo concentrada em poucas mãos, o conhecimento útil e de prestígio vai ser o único capital ao alcance daqueles que não são proprietários. Assim começa a se constituir uma classe que, não sendo proprietária, também não é despossuída” p.87
“No Brasil do século XIX, que se moderniza sob impulso externo, são duas as formas pelas quais se realiza essa fonte de classificação social, relativamente independente da propriedade econômica: de um lado, como conhecimento técnico e útil dos novos ofícios mecânicos, e, de outro, como conhecimento humanístico ou pragmático” p.87
“Como as novas funções no Estado requerem conhecimento, sobretudo de natureza jurídica, para as funções de Fisco, organização de contratos e administração da justiça, são os filhos dos proprietários, e não mais seus pais – homens do conhecimento empírico e da experiência -, que dominam os novos cargos de comando” p.89
“Neocracia” p.90
“As duas grandes batalhas políticas desse período, a Abolição da escravatura e o advento da República, já são levadas a cabo em grande medida como uma luta pela hegemonia da opinião pública nos maiores centros urbanos” p.90
“A Abolição representa uma transição fundamental” p.91
“O surto da cultura do café no estado de São Paulo, com base no trabalho livre do imigrante, é que vai ser o germe dessa nova sociedade” p.91
“O racismo científico, predominante na época e na elite, viu uma oportunidade de embranquecimento da população por meio da importação de europeus empobrecidos pelo avanço do capitalismo nas áreas rurais do Sul da Europa, sobretudo da Itália” p.91
“O negro e seus descendentes vão se somar, então, aos esquecidos e humilhados de todas as cores e formar uma classe específica que se desenvolve no capitalismo da periferia: o que chamo de “ralé brasileira”. Desde o início, ela se forma para não ser incluída na sociedade competitiva capitalista, como outras classes mais tarde o seriam. Em vez disso, se forma para ser explorada e humilhada da forma mais vil e covarde de modo permanente” p.92
“Quem não entende isso e imagina que a sociedade é comandada por imperativos pragmáticos e econômicos, como pensam muitos liberais e até marxistas acríticos, não entende o principal sobre a vida social. Os mecanismos simbólicos de distinção social são tão importantes quanto os estímulos econômicos. Por isso, qualquer ajuda a essa classe vai ser bloqueada pelas classes privilegiadas, como mostram os recorrentes golpes de Estado” p.92
“Conhecimento, o recurso mais importante das classes não proprietárias” p.92
“Esse é o ponto é fundamental, e só quando bem compreendido podemos entender a razão específica pela qual a escravidão continua entre nós, mesmo após ter sido abolida formalmente. Ainda que as pessoas não sejam mais separadas pela cor da pele desde o berço para serem senhores ou escravos, elas são separadas por processos invisíveis que produzem efeitos semelhantes” p.93
“Os quase 2 milhões de italianos que migram ao Brasil acabam se concentrando no estado de São Paulo e em sua capital” p.93
“No Brasil, a pequena burguesia jamais teve relevo tão grande – salvo em episódios políticos isolados – enquanto, por exemplo, na França e nos Estados Unidos. No caso francês, a pequena burguesia foi, muitas vezes, o fiel da balança nas sangrentas lutas de classe entre os proprietários e trabalhadores que marcaram o século XIX. Nos Estados Unidos, a pequena burguesia até chegou a ser, durante muito tempo, ao menos até a Guerra de Secessão, a classe dominante nas esferas econômica, social e política” p.95
“Aqui o capitalismo se desenvolve entre 1890 e 1930, já à sombra do grande capital comercial e financeiro, constituído na esteira da valorização do café no mercado internacional” p.96
“O industrialismo brasileiro teve de se contentar com uma “industrialização sem industriais”. Boa parte dos limites e fracassos do nosso desenvolvimento industrial advém disso”. p.98
“Num país tão populoso quanto o Brasil, apenas o desenvolvimento industrial poderia proporcionar empregos mais qualificados e bem-remunerados e a formação de um mercado interno forte e dinâmicos. O projeto liberal das frações agrária e financeira consegue subsistir premiando apenas 20% da população com as benesses do mundo moderno. Mas os custos sociais disso são elevadíssimos” p. 99
“era na massa da baixa classe média e da incipiente classe operária que a inflação, decorrente das constantes emissões de moeda para pagar os empréstimos estrangeiros – uma vez que o governo não tinha força para tributar os latifundiários -, que a situação econômica se tornou premente. Para a massa da classe média – empregada no setor terciário de comércio e serviços, em decorrência direta do desenvolvimento industrial, e que soma cerca de 20% da população empregada em 1920 -. A exploração econômica se soma à exclusão política” p.101
“A ideia de refundar o Brasil, combater a corrupção e usar o Estado como instrumento de mudanças consideradas necessárias, na economia, na sociedade e na política, possui no tenentismo sua primeira grande expressão articulada”. p.103
“Os grandes investimentos da indústria de base – no setor siderúrgico, com a instalação da Companhia Siderúrgica Nacional, a CSN; na infraestrutura energética, com a construção de hidrelétricas; e na extração do petróleo, com a criação do monopólio estatal da Petrobras – são consolidados nesse período. Com isso, foram superados alguns dos gargalos que impediam a entrada do país no capitalismo monopolista” p.105
“Mais uma vez, na ciência e na política, a repetição é tão importante quanto na música: todo o nosso comportamento está baseado em ideias, quer saibamos disso ou não. E, se não sabemos, não há como nos defender dessas ideias que influem em nossos atos, por vezes até em sentido oposto aos nossos interesses” p.106
“O nó górdio crucial, o divisor de águas para a sociedade brasileira desde então, vai ser a questão da inclusão ou da exclusão das classes populares no processo de desenvolvimento capitalista” p.107
“Ainda que também seja de cunho elitista, relegando a segundo plano os conflitos de classe e de raça, a interpretação freyriana representou na época um grande avanço. Num contexto de racismo explícito, marcado pela concepção de branqueamento da população, o fato de reconhecer que o povo brasileiro é mestiço, e de ver isso como valor positivo, foi revolucionário. Afinal, tanto na época como hoje, o povo é o grande não dito, o grande ausente” p.109
“A industrialização e a urbanização criam o mercado tanto de bens materiais como de bens simbólicos” p.110
“Por conta disso, a estratégia da elite em relação à classe média foi recorrer ao uso da violência simbólica, e não da violência material, como fazia no caso das classes populares. A violência simbólica é aquela que não parece violência, que se vende como convencimento, mas que, na verdade, retira a possibilidade de reflexão e, portanto, de qualquer autonomia da vontade” p.113
“A dominação econômica e política precisa dos intelectuais porque a legitimação dos privilégios injustos precisa parecer justa e desejável a reação da elite paulistana foi estimular a elaboração de um mito nacional concorrente ao de Getúlio e da Gilberto Freyre – e com este objetivo fundo a USP” p.113
“Mas a imprensa apenas distribui informações e opiniões. Nenhum jornal ou jornalista cria as ideias que defende. Os bons jornalistas podem se apropriar de uma ideia, o que é louvável, mas a produção de ideias se dá em outro lugar. São os intelectuais que têm o prestígio e a formação para tanto. Daí a importância de entender como as ideias são elaboradas e em função de quais interesses” p.113
“AS figuras principais aqui são Sérgio Buarque de Holanda, o filósofo da santíssima trindade, posto que foi o criador das noções mais abstratas que estão hoje na cabeça de todo brasileiro, como personalismo, jeitinho, patrimonialismo, cordialidade, etc” p.114
“O historiador desse liberalismo vira-lata é Raymundo Faoro, que remonta ao Portugal medieval a origem dessa roubalheira supostamente inerente à cultura luso-brasileira” p.114
“O importante, nos casos de Buarque e Faoro, foi construir uma idealização do passado divinizado de ingleses e americanos a fim de lhes contrapor a imagem demonizada do Brasil e dos brasileiros” p.114
“A outro embuste, no qual a figura mítica do bandeirante paulista era assemelhada ao pioneiro americano protestante, apesar do ridículo histórico dessa aproximação” p.116
“Nos Estados Unidos, um conjunto de políticas estatais planejadas e articuladas permitiu a formação de um forte mercado interno e fomentou uma agricultura de exportação. O Estado como anátema do desenvolvimento do capitalismo é uma quimera para uso ideológico que não resiste aos fatos” p.118
“As ideias dominantes explicam o mundo social e o tornam compreensível para a multidão de leigos, mas, para serem bem-sucedidas, devem falar ao imaginário e aos desejos socialmente compartilhados de classes específicas” p.120
“Toda grande mentira tem de ter um grãozinho de verdade, senão não inventa ninguém. O grãozinho de verdade na baleia do patrimonialismo é que também se rouba na política e no Estado, ainda que infinitamente menos que no mercado. Até porque o sistema político foi feito para ser comprado pelo mercado. Repete-se, nessa oposição Estado/Mercado, o engodo da atividade policial que consiste em prender sempre o soldado do tráfico, que se expõe nas ruas, mas nunca o dono da boca de fumo, que é poderoso e intocável” p.121
“FHC restabelece o império da República Velha: uso do Estado como banco privado em benefício da elite de proprietários em um contexto em que o Plano Real permitiu, por um curto período pelo menos, um inédito apoio popular” p.123
“Quem considera os partidos como únicos sujeitos da disputa política tende a ignorar a importância dos consensos sociais – no nosso caso, os mitos que disputam o imaginário social e que vão orientar a ação de todos os partidos, e não o inverso” p.126
“Os partidos são meras institucionalizações de visões de mundo prévias” p.134
“O dispositivo mais importante de todo poder é tornar-se invisível. A elite dominante pode atuar com mais liberdade precisamente quando sua ação se dá por interposta pessoa e pelo encobrimento sistemático de seus interesses”. p.134
“Carlos Lacerda, grande orador e demagogo da UDN, vai exercer, praticamente sozinho, por meio da imprensa liberal, um papel semelhante, no episódio da queda de Getúlio, ao da Rede Globo à frente da mídia venal na queda do PT e na atual perseguição a Lula” p.136
“O golpe de 1964 é o resultado de um contexto preparado desde 1954 e adiado por uma década pelo trauma popular causado pelo suicídio de Getúlio” p.137
“A entrada do Brasil na fase de produção industrial dos bens de consumo duráveis, cujo ramo mais visível e importante é o setor automobilístico, se dá em associação subordinada com o capital estrangeiro das multinacionais. A industrialização sem industriais se consuma em um capitalismo dependente do capital externo, sem construção de matriz tecnológica própria, empregando mão de obra barata e com o mercado interno protegido para alavancar o lucro dos investidores externo” p.138
“No Brasil enfim, nunca tivemos uma luta de classes de verdade, na qual os interesses das classes populares tenham se feito valer como direito. O que sempre tivemos aqui foi uma cruel e covarde opressão de classe, na qual qualquer tentativa de diminuir, por pouco que fosse, a abissal distância social redundou em golpes de Estado e em estados de exceção” p.145
“A ascensão do PT ao poder de Estado mostra esse fato sobejamente. Ainda que tenha desenvolvido políticas sociais fundamentais em um país de desigualdade tão perversa, o PT o fez sem qualquer discurso articulado acerca do que estava fazendo. O discurso era construído pelo marketing eleitoral em cada eleição, mas não havia a narrativa deliberada de um projeto nacional alternativo ao projeto liberal antipopular” p.155
“O PT nasce, portanto, como mais um partido do moralismo postiço da elite e se torna o partido da “moralidade na política”, atraindo assim setores de classe média e dos sindicatos organizados” p.157
“Sem um projeto alternativo claro e de longo prazo, fica-se refém das conjunturas e dos acordos de conveniência, como ocorreu com o PT em diversas ocasiões” p.158
“Descer de classe no Brasil, para esse pessoal, é deixar de ser tratado como “gente”. Daí a força da pregação fascista entre nós” p.162
“A criminalização do Estado, como patrimonial e corrupto, é, na verdade, o único discurso das elites na sua luta pela hegemonia social, tendo como contraponto o mercado virtuoso, transformado em paraíso” p.162
“Mas, por outro lado, a massa da classe média tem a possibilidade de ser, num país tão desigual e com classes populares tão perseguidas e desmobilizadas, um importante vetor de mudanças sociais, como foi no passado. O autoesclarecimento é um passo fundamental nesse desiderato. Se deixarmos o comando do país nas mãos da elite do atraso e da espoliação, corremos o risco de, em breve, não termos nenhum futuro, não só para nossos filhos e netos, mas para a nossa própria geração” p.165
Conclusão: A classe média em tempos de capitalismo financeiro
“Este estudo sobre a classe média brasileira nos levou a uma reconstrução histórica tanto da moralidade da classe em geral quanto de sua gênese especificamente brasileira. Começamos pelas questões essenciais de sua condição em qualquer lugar – pois o Brasil não é o planeta verde-amarelo do jeitinho vira-lata, tão desprezado por nossos intelectuais colonizados.
Assim, partimos do universal, ou seja, da hierarquia moral ao capitalismo moderno como um todo, a fim de entender o particular, sua materialização singular na sociedade brasileira. A atenção aos elementos universais é o que, afinal, nos mostra que não existem diferenças relevantes na forma pela qual a classe média constrói seus privilégios nas sociedades modernas. Tais privilégios sempre se baseiam na apropriação do capital cultural mais valorizado e prestigioso – e isto não é como a jabuticaba, algo que existe só no Brasil” p.258
“Afinal, o mito nacional é o conto de fadas para adultos oficial, a forma hegemônica pela qual a sociedade se percebe na dimensão simbólica mais articulada e refletida. Todos nós introjetamos e incorporamos o mito nacional dominante, tenhamos ou não consciência disso, como parte de nossa personalidade e de nossa visão de mundo” p.259
“Em boa parte, a nossa autoimagem é construída a partir da forma como nos percebemos como membro da sociedade maior, que, por sua vez, é fortemente influenciada pela forma como percebemos nossa sociedade” p.259
“Sem a complexa e multifacetada ofensiva simbólica para moldar a concepção de mundo das pessoas, o capitalismo financeiro não poderia se apropriar dos recursos do planeta inteiro, como vem fazendo” p.261
“Se hoje em dia metade das empresas brasileiras e a maior parte da população está endividada até o pescoço, isso não provoca reação nem rebelião organizada nas pessoas. Impossibilitada a externalização da agressividade contra o seu opressor de classe, como se dava antes, o indivíduo torna-se, em seu âmbito interno e pessoal, o local da luta de classes, onde o próprio indivíduo é seu pior algoz, exatamente como pretendido pelo capital financeiro hegemônico e sua nova semântica e estratégia neoliberais. A própria vítima da exploração passa a se ver como mau pagador e, em vez de se rebelar se envergonha” p. 262
“Invisíveis para as vítimas, esse novo dispositivo e essas novas estratégias de poder do capitalismo financeiro são de extraordinária eficácia. É um poder que se exerce de modo sutil e sedutor, vendendo-se como liberdade e autonomia individual. O Facebook é o exemplo perfeito desses novos tempos” p.262
“Todo mecanismo de comercialização, precisamente concebido para atender aos desejos e necessidades de cada um, é produzido por nós mesmos com nossas “curtidas”, sem qualquer custo para a plataforma comercial. E tudo sob a aparência ingênua e confiável da troca de informações com amigos e familiares. Ninguém mais precisa invadir do modo ilegal nossa privacidade: agora nós a disponibilizaremos, de graça, para que as empresas lucrem” p.262
“O facebook é a metáfora acabada da estratégia neoliberal do capitalismo financeiro, que nos coloniza e nos explora de modo imperceptível enquanto parasita e manipula nossas relações e nossos desejos mais íntimos. Isso sem contar o aspecto abertamente político do acesso aos dados pelos serviços de inteligência de potências estrangeiras – como denunciou Edward Snowden -, os quais nem sequer precisam dedicar esforço, dinheiro e tempo para nos espionar. Nós mesmos entregamos tudo de mão beijada” p.262






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Carlos.Heitor 30/07/2020

Esclarecedor
Este livro mostra a manipulação a que estamos sujeitos. Como a elite se apropria da renda e se beneficia do poder que tem sobre ele. É fácil observar a aplicação do que é dito na nossa realidade. Recomendo!
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Rafael Bezerra 18/05/2021

Confuso no início, já que o escritor tem que desfazer o processo da lavagem cerebral que sofremos durante anos. Leitura importante para atual situação brasileira.
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Jonathan Vicente 10/02/2023

Leitura gostosa
A leitura desse livro foi muito prazerosa, principalmente de inicio com a abordagem histórica. Porém, ao longo das páginas ela vai se condensando de uma forma monótona. Leitura necessária para quem está querendo entender ou compreender a classe média brasileira.
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fevisca 30/05/2021

Lento mas imprescindível
O autor se repete muito, o que torna a leitura um pouco difícil, mas o conteúdo é imprescindível para a compreensão da sociedade e da política brasileiras.
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Marcelo 15/08/2019

Excelente livro! O autor disseca as bases da classe média num contexto global capitalista, mas faz análises das particularidades brasileiras. De modo profundo e de linguagem acessível mostra como questões intersubjetivas, sociais e psicológicas se articulam com as condições materiais dadas.
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