Maria7598 02/03/2023Melhor Livro do Stephen King Que Já LiÉ difícil escrever uma resenha que possa avaliar completamente um livro de 1400 páginas, por isso vou fazer um recorte das coisas que para mim mais se destacaram: a caracterização e a progressão.
O Stephen King sempre foi muito bom em fazer personagens engajantes, mas dessa vez ele se supera pelo quão palpável são. The Stand tem um elenco numeroso, diverso, cheio de idiossincrasias. Soam por demais humanos--sinto que poderia sair na rua e encontrar um Stu Redman, um Larry, uma Frannie Goldsmith, um Lloyd, um Nick, ou um Tom. A única crítica que faço é ao papel relegado às mulheres, que com poucas exceções, são acessórios, figurantes, recursos para avançar a evolução de outros personagens. Isso sem contar na quantidade de vezes que o autor menciona seios desnecessariamente, ao ponto de ser incômodo, como na passagem em que um militar visita a base de onde o vírus escapou e pensa em apalpar o seio de uma cadáver para ver se seria duro ou mole. O male gaze é real, mas também pudera, The Stand foi escrito em 1978.
Ainda sobre personagens, o único que escapa um pouco da verossimilhança é o Glen. Ele é um ótimo personagem (posso estar sendo tendenciosa já que Stu é meu personagen favorito), mas o Stephen King pesou a mão no recurso narrativo. Glen está ali para explicar sociologicamente o que vai acontecendo após a pandemia, para os personagens e para o leitor, e isso é tão evidente que chega a ser insultante às vezes. Por outro lado, é esse também o segundo ponto positivo do livro, na minha opinião: a forma como a progressão demonstra um microcosmo da sociedade e sua evolução, os comportamentos das pessoas, a psicologia coletiva de grupos de diferentes tamanhos, expondo a natureza humana em seu lado bom e ruim.
Dependendo da ótica, há pouco terror em The Stand, já que o livro não apela para o jumpscare nem se apoia demais no gore. Eu mesma não fiquei assustada. Mas se há algo aterrorizante, é perceber a possibilidade real de que um dia a humanidade viva uma tragédia igual, devastadora e de origem antrópica. A escrita canta quanto mais perto o autor ousa chegar da verdade, e nesse sentido, The Stand é um coral que nos alerta dos perigos da trajetória que a humanidade segue – e que provavelmente não iremos escutar.
"Do you think... do you think people ever learn anything?"
"I don't know. I don't know."