spoiler visualizarLorena831 26/05/2024
"Nolite te bastardes carborundorum."
Uaaau, que obra prima!!!!
Estava curiosa para ler esse livro desde que assisti a série um tempo atrás e amei, mas o livro ainda conseguiu me surpreender positivamente e posso dizer com certeza que essa foi a melhor distopia clássica que eu já li (até agora das clássicas eu só li 1984 e Fahrenheit 451, mas espero que minha fala continue valendo alguma coisa)!!!
O livro se passa em Gilead, um regime totalitário teocrático em que as mulheres não tem nenhum direito e que, devido ao extremismo religioso, normaliza o estupro com o objetivo de gerar bebês em uma época em que as taxas de natalidade caíram muito. A história é contada por uma Aia, ou seja, uma das mulheres que é estuprada por seu Comandante (nesse caso, Frederick Waterford provavelmente), para que ele e sua Esposa (Serena Joy) possam ter um filho por meio dela... essa Aia é chamada de Offred (of + Fred / do + Fred) e a ela contando sobre isso já torna a história bem pesada e triste, além de dar muita raiva, afinal as mulheres não tem nenhum poder de escolha e ainda são humilhadas constantemente, mas, pra piorar, a Offred também tem que lidar com o fato de não saber o que aconteceu com sua família que foi tirada dela e isso é desesperador, porque ao mesmo tempo que ela quer acreditar que eles estão vivos, ela sabe que isso é improvável. Além disso, a forma como ela tenta fazer com as agressões não a atinjam tanto para que ela ainda continue firme para lutar, é de partir o coração... ela é muito forte e consegue tirar suas forças da esperança de que seus sofrimentos vão ter fim que ela alimenta principalmente após ela descobrir a existência do grupo de resistência, Mayday; da frase:"Nolite te bastardes carborundorum" que embora ela não soubesse o significado durante boa parte do livro, era uma coisa proibida e portanto motivadora, além de que foi deixada pela aia anterior a ela, por isso a ajudava a perceber que ela não estava sozinha e também o significado dessa frase é incrível: "Não deixe que os bastardos reduzam você a cinzas", por isso quando ela passa a conhecer esse significado e a forma como ela o descobre, ela fica mais motivada (pelo menos na maior parte do tempo); e por fim, as lembranças do passado, o livro várias vezes conta com sentimentos de saudosismo e essa comparação que ela faz com o presente e o passado faz com que ela queria lutar para ter o passado de volta... mas uma coisa que eu achei muito interessante (e que não percebi na série) foi em como a lavagem cerebral feita em Gilead acabou afetando sua forma de pensar mesmo que ela não quisesse isso, a June acabou achando estranho quando foi exposta a mulheres que usavam maquiagem ou alguma roupa que não fosse tão recatada quando a dela, além disso ela acabava achando difícil acreditar que no passado suas roupas também eram daquela forma, mostrando como aquele regime era cruel e como até as mulheres mais fortes não saiam ilesas da educação imposta no Centro Vermelho...
Mas além de amar a história, eu também amei o jeito como a autora descreve os sentimentos, os conflitos e os raciocínios da June, são simplesmente incríveis e deixam a história muito mais profunda... eu particularmente gosto mais da descrição detalhada de sentimentos dos personagens do que das suas atitudes, e nesse livro foi exatamente o que eu recebi e, para melhorar ainda mais, no epílogo quando descobri que ela contava a história por meio de fitas cassete percebi como a escrita da autora foi perfeita. Durante a leitura, me incomodei um pouco que muitas falas não eram sinalizadas por travessão ou aspas ou que a June acabava misturando o presente e o passado também sem nenhuma sinalização, mas isso faz muito sentido porque é um texto oral, ela está contando a história em uma gravação, o que torna tudo mais informal eu acho, como se fosse uma conversa... Também achei incrível quando descobri o porquê do título do livro, eu nunca tinha pensado nisso, mas não consigo pensar em um nome melhor, é literalmente "O Conto da Aia" e a personagem tinha consciência de que estava contado sua história, mesmo que não tivesse certeza de que seria ouvida...
A série The Handmaid's Tale se inspirou no livro na sua primeira temporada e nas outras se inspirou nas teorias do epílogo que tinham mais probabilidade de acontecer. Mas tirando esse fato de que o livro só chega até a primeira temporada da série (já sabia disso antes de começar a ler por isso não me decepcionei), a série é bem fiel ao livro e as diferenças que percebi só deixaram o livro mais profundo e a realidade da June mais cruel... por exemplo, não ter a confirmação da identidade dela e do Comandante, a possível mudança de nomes de outros personagens e nenhum vislumbre se quer do nome da Ofglen, mostram o quão perigoso era saber e citar o nome de uma pessoa, o cuidado que ela tinha que ter ali e o risco que ela estava correndo simplesmente por usar sua voz para registro, porque ela não chegou nem a publicar seus relatos. Nesse sentido, a falta de um nome até torna difícil se referir a ela, pelo menos pra mim, porque "Offred" é um nome que eu não gosto nenhum pouquinho de usar... além de todos os motivos descritos no livro, ainda acaba limitando essa personagem incrível a uma função horrível, então eu assumi que o nome dela é June, assim como aconteceu na série porque acho que faz bastante sentido (levando em consideração que June era o último nome da pequena lista que ela fez e que se a lista representa uma escala grau de proximidade das aias, era o nome que estava ao lado da sua melhor amiga, Moira) e por isso, me referi a ela assim na maior parte dessa resenha... Ainda falando sobre nomes não posso deixar de falar sobre a alegria que senti quando descobri que a June se referiu a Esposa do seu Comandante como Serena Joy para fazer uma piada kkkkk sempre achei esse nome irônico, pra dizer o mínimo, ela é uma pessoa horrível, sem coração nem um pouquinho serena ou alegre, a June definitivamente tem senso de humor kkkkkk
Por fim, já comentei algumas coisas sobre o epílogo, mas ainda tenho que dizer que eu nunca vi nenhum epílogo como esse e ele foi, sem dúvidas, o mais genial que eu já li! Fiquei chocada quando percebi que eles estavam usando os relatos da June para estudar sobre o período inicial de Gilead, isso quer dizer que tudo o que a June passou era só o início de uma era que durou muito tempo, tipo mds AAAAAA mas que pelo menos acabou, certo? Só que infelizmente, não tenho certeza se isso mudou a mentalidade das pessoas, porque eles estavam discutindo tudo isso de uma forma tão banal e estavam fazendo piadas tão ?????? que mesmo partindo do pressuposto que Giliead acabou, infelizmente as pessoas (homens), não aprenderam a lição...
Acho que já deu pra entender que eu amei o livro e com certeza recomendo sua leitura, inclusive já estou ansiosa para ler Os Testamentos principalmente porque acho que não vai ter nenhuma relação com as outras temporadas da série....