Luan.NietzsChe 16/06/2024
Um retrato existencialista
Knut Hamsun ? ou Knut Pedersen, seu verdadeiro nome ? foi incrível neste livro. Sua escrita nos causa sede, a leitura flui tanto que é impossível não despertar em si o desejo de continuar navegando em suas águas. Apesar de sua vida pessoal ter sido de um verdadeiro pífio!, nesta obra, repito, Knut foi incrível.
O personagem, um sem-nome, possui apenas um toco de lápis, papéis e, geralmente, muito geralmente, fome. Para sobreviver, tentava escrever para jornais, sua cabeça, porém, inquieta, tornava o ofício um desafio angustiante. Cheio de orgulho e princípios, era, muitas vezes, o próprio autor de sua desgraça.
A partir das atitudes do personagem, vê-se a genialidade de Knut, vê-se o quê do existencialismo. O autor, ao longo da estória, vai "brincando" com o seu personagem, traçando os caminhos moralmente corretos, mas deixando bem claro a sua decadência a cada ato "justo" e bondoso; e, mais que tudo, deixando claríssimo que somos reféns da absurda liberdade, junto a agonizante responsabilidade. O personagem é dono de uma liberdade infinita... que fazer com tanta liberdade? Agir de má-fé! Noutras palavras, conformar-se com a visão de mundo alheia, escapando de sua própria Verdade e negligenciando a sua própria liberdade e responsabilidade. Nada nunca dando certo, o personagem vê-se fora de si, agindo muitas vezes por impulso, de maneira a acharem-no louco ou ele mesmo crer nisso... mas, no fundo de toda aquela loucura, havia sempre uma consciência... a consciência, talvez, de possuir a tal liberdade e a tal responsabilidade.
"Assim me ordena igualmente a própria consciência..."