Lauraa Machado 18/08/2020
Um livro vazio, sem sal e clichê do pior jeito possível
Quando você pega para ler um livro sobre intrigas de uma corte moderna, sobre drama da vida de princesas que são quase celebridades, já sabe esperar por uma história clichê. Eu achava que esse seria o maior problema de American Royals, ser batido, achava que estava preparada para não me decepcionar, principalmente quando tinha amado dois dos outros três livros da autora, que também são bem rodeados de clichês. E talvez você goste do livro por isso, a autora sabe contar sobre clichês, sabe descrever cenas e escreve bem. Mas falta tanta emoção e substância aqui, que foi difícil engolir.
Antes de mais nada, aqui vai minha crítica mais simples e banal: não consegui conceber por um segundo sequer uma princesa chamada Samantha. Não tenho ideia do que a autora estava pensando quando escolheu esse nome, o que passou pela cabeça do agente e do editor dela que o deixaram, mas acaba com a credibilidade de Sam. Toda vez que mencionavam o nome dela, eu tinha que parar e me forçar a não pensar nisso, porque simplesmente não encaixa! É um nome bacana, sim, mas não tem nada de realeza nele. Leia em voz alta, Princesa Samantha (ou até Princess Samantha), e veja se não falta um ar clássico e elegante a ele.
Me surpreende principalmente por eu saber a quantidade de pesquisa que Katharine McGee fez sobre realezas diferentes do mundo antes de escrever este livro. Ela compartilhou no Instagram várias de suas viagens conforme escrevia, mas as evidências de sua pesquisa também estão presente desde o primeiro capítulo. Tem tanto detalhe, tradição e curiosidade interessantes, que é certamente uma decepção perceber que são as únicas coisas válidas nesse livro.
Sei exatamente qual é o problema dele. A autora tentou demais, tentou fazer várias coisas diferentes, sem realmente se dedicar direito a nenhuma. Não existia a menor necessidade de ter quatro protagonistas. Nenhuma delas tem personalidade ou qualquer complexidade. Ela não foi além do clichê, nem lhes deu substância. Só consigo imaginar as protagonistas como fotos de papelão, que parecem pessoas de longe, mas aí você vê que não tem nada por trás de sua bidimensionalidade quando se aproxima.
Teria enriquecido muito o livro se tivesse só duas protagonistas, a Beatrice e a Nina, que tinham as histórias mais interessantes. Mesmo assim, mesmo tendo potencial no enredo delas, a autora não teve tempo de explorar nada. É tudo tão corrido, não existe a chance de torcer por um casal, ou um acontecimento, ou nada. Nada cria curiosidade pelo que vai acontecer, não tem clímax no livro, ou criação de tensão e reviravoltas poderosas. É tudo tão sem sal, parece realeza de verdade, regrada e milimetricamente planejada, mas completamente sem emoção.
E era para ter. Tem emoções descritas para as personagens do começo ao fim, mas não são sentidas, pois a autora nunca consegue passá-las ao leitor. É provavelmente porque nem dá para você começar a se importar com qualquer uma das protagonistas. Elas são tão qualquer coisa, que não consigo exatamente distinguir uma da outra, mesmo que sejam teoricamente opostas. Pior, para mim, só a história da Sam e da Daphne, que me faziam revirar os olhos o tempo todo e ficar me perguntando como é possível alguém se convencer por um trabalho tão batido e superficial. A rivalidade feminina, a infantilidade da princesa que só quer fazer festa. Sabe? Não tenho mais paciência para isso.
São todos superficiais, não são só as protagonistas. Todos os homens importantes nesse livro são idênticos, têm personalidades e gostos idênticos. Eu estava o tempo todo esperando algum sinal de um diferente, mas nada veio. Não consigo imaginar ninguém sentindo alguma emoção por qualquer um deles além de tédio. E são todos tão brancos e padrão, todos fisicamente parecidos também. Queria muito que a autora começasse a descrever a etnia dos personagens diretamente, sem medo do que dizer, porque até agora não sei a cor da pele e do cabelo de quase todos.
Mas o mais decepcionante foi a autora ter desejado fazer tanto com um livro e acabar não desenvolvendo nada direito. Se o livro fosse somente do ponto de vista da Beatrice, por exemplo, daria para ela contar praticamente tudo que aconteceu aqui, mas ainda dar várias camadas para a personagem, fazer com que o leitor se apaixone junto com ela, se desenvolva junto. Os pontos de desenvolvimento da trama pelo lado dela são bons, mas tudo é corrido e feito às pressas. A história da Nina é ainda mais clichê e nem tão interessante, mas seria um contraponto muito bom, já que ela tem uma vida oposta à da Beatrice, e completaria todo o resto do livro que era relevante (e foi mostrado pelos outros pontos de vista inúteis). O livro seria mais completo se tivesse sido focado melhor.
A escrita da Katharine McGee não é ruim, mas não consegue mesmo passar emoções. Não tenho nenhuma evidência de que a autora conhece suas personagens ou se importa com a história. Minha vontade de ler a continuação é zero, ainda mais quando eu tenho cada vez menos tempo para ler e dinheiro para comprar livros novos. Estou decepcionada, sim, porque esperava pelo menos uma única cena que me surpreendesse ou me deixasse curiosa para ver o que ia acontecer depois. Esperava pelo menos me divertir. Mas este livro acabou sendo a epítome do clichê e não acrescentou em nada na minha vida, além de fatos históricos sobre realezas diferentes e uma certa apreciação pela habilidade da autora de pesquisar. Queria ter a mesma chance que ela de viajar e conhecer vários castelos pelo mundo, mas sei que isso não é o bastante. Um livro sem emoções é um livro vazio. E essa é a melhor definição para este.