spoiler visualizarLívia Gomes 17/03/2020
Um livro que me fez refletir
Não sei o que sentir ou o que pensar em relação a este livro. No começo achei a história muito devagar e até fiquei tentada a desistir, mas fiz um esforço para continuar e não me arrependo.
Apesar de abordar vários temas como romance, amizade e até uma boa dose de ficção científica, eu sinto que nenhum desses assuntos é o foco principal da narrativa. Depois que terminei a leitura pensei muito sobre isso e cheguei à conclusão que este livro traz uma forte crítica social, imersa num cenário distópico e com uma sensibilidade muito grande ao abordar as interações sociais.
A personagem principal, Kath, é muito perspicaz e observadora, ela é sensível e inocente e na grande maioria das vezes ela prioriza o bem estar de outras pessoas ao seu. Apesar destas características eu não me aborreci com a personagem, mas senti muita pena dela, principalmente por deixar de viver sua felicidade por conta de sua "amiga", Ruth. Eu ODIEI a Ruth com todas as minhas forças,nem mesmo no final quando ela tenta uma remissão não consegui perdoá-la. Ela é tão irritante, manipuladora, egoísta e oportunista. Em momento algum acreditei na amizade dela com a Kath e nem em seus suposto amor pelo Tommy. Mas voltando ao foco do livro... Creio que ele traz essa reflexão sobre até onde chegamos e até onde ainda podemos chegar científica e tecnologicamente sem ponderar o que isso custará não só à humanidade, mas ao planeta como um todo.
É claro que a clonagem perfeita de seres humanos ainda é uma utopia para nossa geração, mas quantas outras coisas não produzimos e adquirimos às custas de maus tratos de animais, mão de obra escrava, trabalhos forçados e a destruição massiva do meio ambiente? Para mim isso não é diferente da situação relatada no livro, é só uma outra forma de olhar.
Em paralelo ao programa de clonagem e doações da história temos Ruth, que carrega toda essa ganância e desejo inconsequente por controle e poder dentro de si. Ela representa o pior da sociedade, mas em escala menor. O Tommy já representa uma outra situação. Eu o via o tempo todo como uma exemplificação de todas as pessoas com potencial e personalidade bem delineada e forte, mas que são podadas e reprimidas por uma sociedade e um sistema que não aceita o diferente, nem nada que fuja dos padrões. Em vários momento ficou claro pra mim que ele amava Kath, mas mesmo assim ele submeteu anos de sua vida à alguém que não o valorizava, o menosprezava e usava. Já a Kath, apesar de ser passiva, sempre teve personalidade, era decidida e resiliente. Me arrisco a dizer que, dentro das limitadíssimas opções que tinham, ela foi a que conseguiu levar a vida da melhor forma possível.
Sobre a narrativa... Gostei de como a história foi contada. No começo achei lento e até fiquei meio confusa com as idas e vindas no tempo, mas logo me acostumei e consegui acompanhar o ritmo. A quebra da quarta parede é feita de uma maneira muito legal, porque a Kath não só fala conosco, mas fala como se nós fizéssemos parte do universo dela, como se compartilhássemos a mesma realidade. Mais uma maneira de demonstrar sua personalidade acolhedora.
Esse livro provocou em mim um mix de sensações. Senti raiva e angústia todas as vezes que algo dava errado para Kath, senti os ímpetos de fúria de Tommy, senti a frustração de amores interrompidos e dos futuros sem esperança, senti vazio e solidão. Mas acima de tudo senti o desconforto e a impotência mediante o destino implacável.
Essa foi minha resumida reflexão sobre este livro que não tem um grande clímax ou reviravoltas de tirar o fôlego, mas que de alguma forma conseguiu alcançar minha alma.