Pandora 27/09/2020Eu lamento não estar em um bom momento para dar a esta obra todo o valor que ela merece, pois é um ótimo livro, cheio de sutilezas e ironias e com uma grande crítica social. Mas ando tão cansada, trabalhando tanto, que nem vontade de ler eu tenho.
Publicado em 1954, o primeiro livro de Kingsley Amis ganhou em 1955 o prêmio Somerset Maugham Award de ficção. Ele foi dedicado ao poeta Philip Larkin, que foi consultado por Amis durante toda a produção do romance. Ironicamente, apesar de elogiado por Maugham, seu personagem - e a nova geração que representava - foi desdenhado pelo eminente escritor: “(...) sua observação é tão aguçada, que não há como não se convencer que o jovem que ele tão brilhantemente descreve representa verdadeiramente a classe que este romance retrata... Eles não têm modos e são lamentavelmente incapazes de lidar com qualquer situação social. Sua ideia de celebração é ir a um bar e beber seis cervejas. Eles são vis, maliciosos e invejosos… Eles são a escória”.
Amis fazia parte do Angry Young Men, um grupo de escritores britânicos que surgiu nos anos 50 contrário a ordem sociopolítica vigente. Eles se colocavam especialmente contra a hipocrisia e mediocridade das classes alta e média.
O Lucky Jim do título é James Dixon, jovem professor de História Medieval de uma universidade situada numa cidadezinha inglesa. Daquelas onde todos se conhecem. Dixon não é atraente, não é dotado de grandes talentos e ainda por cima vem da classe média baixa. Além disso ele nem se interessa por medievalismo de verdade; foi só uma forma de passar na entrevista. Agora em estágio probatório, ele tem não só que publicar um artigo numa revista como ganhar a simpatia do chefe do departamento, o professor Welch. E paralelamente tem um pseudo-relacionamento com Margaret, uma colega de trabalho que está se recuperando de uma tentativa de suicídio por ter sido abandonada pelo ex.
Mesmo não tendo um real interesse por nada, Dixon se esforça em participar de eventos que abomina, puxar o saco do chefe que detesta, sair com uma mulher emocionalmente instável por pena. O que mais ele poderia fazer? No entanto, ele continua sendo o peixe fora d’água, o intruso, o desqualificado, aquele que não pertence àquele lugar.
Quando conhece, numa festa, a namorada do filho de seu chefe e fica profundamente atraído por ela, o que já estava ruim só piora...
Edmund Wilson escreveu no The New Yorker em 1956 que a trajetória de Dixon é meio que a do Patinho Feio e eu achei a analogia ótima. Leiam e decidam se concordam. Mas tem uma coisa da qual não dá pra discordar: pedantismo é muito cafona!