Lopes 14/03/2018
Ao destino suprir
“Tio Vânia”, de Anton Tchekhov assume toda a falta de um destino sólido ou proeminente. Fico pensando nesse Tio hoje, nessa hiperbólica pós-modernidade do capital. Talvez não sobrevivesse, talvez fosse visto como um eterno fracasso, ou pelas lentes independentes, um resquício de um ser melancólico. A força do teatro de Tchekhov é apontar e retorcer objetos que independem do tempo, manifestações artísticas e intelectuais. E ao olharmos suas personagens, algo parece fluir melhor quando tentamos vislumbrar nossas vidas e suas intempéries. Vânia é esse homem que não evoluiu perante a sociedade, Estado e ao Sistema. Seus sonhos são julgados e deixados de lado, mesmo que Vânia saia daquele círculo de pensamentos alienados. Nesse mundo selvagem, sua sobrinha e um plantador de árvores são suas causas naturais de vida. As confusões e desilusões familiares partem desse incomodo gerado pelas frustrações, e algo parece nunca mudar, a determinação de estar e ser alguém. “Tio Vânia” inspirou o belíssimo filme “O sacrifício”, Andrei Tarkovsky.