O Tempo das Tribos

O Tempo das Tribos Michel Maffesoli




Resenhas - O Tempo das Tribos


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Victor Seiji 25/01/2012

A Sociologia do Imaginário
Este livro possui uma abordagem analitica bastante criativa e inovadora, pois permite um olhar mais aguçado da construção de novas sociabilidades imaginárias e representacionais na micro-sociedade pós-moderna, onde grupos ( tribos ) se organizam em redes pelo próprio intuito de se divertirem e promoverem compartilhamento de gostos, opiniões e valores estéticos. Este livro foi a base teórica para a construção do meu TCC em Sociologia, que foi sobre a tribo urbana dos Headbangers ( vulgos Metaleiros ), como os mesmos constroem sua identidade em meio à vida cotidiana. Recomendo a leitura do mesmo para todos que se interessam pela Sociologia, ou as Ciências Sociais em geral.
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Tauana Mariana 08/06/2011

Os tribalistas
Em seu livro O Tempo das Tribos, Maffesoli (1998) oferece-nos, além de suas concepções e ensinamentos, um amplo número de autores e referências que embasam suas afirmações e transmitem-nos uma visão ampla, das pesquisas e análise que foram, ou são feitas, acerca das temáticas que abordou. O autor conta com seus pensamentos e os pensamentos de autores como Durkheim, Weber, Le Bom, Bataille, entre outros. Fato que veio a atribuir valor ao seu discurso, mesmo este já bastando-se por si só. A união de fontes fidedignas nos oferece, o que o próprio Maffesoli afirma, uma “reflexão de fôlego”.
Para Maffesoli (1998, p. 08), tribos são os microgrupos que se deslocam, dentro de uma massificação crescente. Segundo o autor, “a metáfora da tribo permite dar conta do processo de desindividualização, da saturação da função que lhe é inerente, e da valorização do papel que cada pessoa é chamada a representar dentro dela”. Essas tribos não são estáveis, são mutantes, pois são compostas por pessoas, que naturalmente mudam, evoluem. Uma pessoa pode ser por toda a sua vida de uma mesma tribo, mas essa tribo com certeza terá pessoas que a deixarão, ou a encontrarão ao longo dos anos.
Maffesoli argumenta sobre as tribos, de uma forma sistemática, e organiza suas concepções em capítulos: A Comunidade Emocional, A Potência Subterrânea, A Sociedade contra o Social, O Tribalismo, O Policulturalismo e Da Proxemia.
No capítulo I, A Comunidade Emocional, expressão referenciada de Weber, Maffesoli afirma que as pessoas se unem por uma emoção coletiva, e confiram-se em laços sociais, comunidades, sendo estas, efêmeras, mutantes e estruturadas no cotidiano. Citando Durkheim, Maffesoli (1998, p. 18) afirma que procuramos proximidade com aqueles que nos identificamos, procuramos a companhia “daqueles que pensam e sentem como nós”. Nossas paixões, nossos sentimentos, nossas repulsas, nossas convicções, nossas opiniões, e constituindo-se de sentimentos, isso pouco tem a ver com a razão, e mais com a emoção, uma emoção coletiva. Maffesoli (1998, p. 21) traduz esse sentimento, essa emoção coletiva em uma aura, que particulariza cada época. A aura em que estaríamos vivendo, é a aura da estética, onde a estética do sentimento, em sua essência, é a “abertura para os outros, o outro”. Esta aura provém do corpo social e é determinada por ele.
A ética, é o “cimento que fará com que diversos elementos de um conjunto dado formem um todo”, de acordo com Maffesoli (1998, p. 30), é ela que organiza esse sentimento coletivo, assim como o costume configura-se como o “conjunto dos usos comuns que permitem a um conjunto social reconhecer-se como aquilo que é”. Este último é chamado por Maffesoli de “centralidade subterrânea, ou potência social”. É o costume que faz a comunidade existir como tal e é dele que emana uma aura, uma cultura informal. O autor nos exemplifica isso através do costume de beber, ou comer junto, conversar, onde esses costumes configuram-se em um “sair de si” para dirigir-se a uma divindade, ao outro, sendo que esse processo serve de cimento para o tribalismo, que seria o “envolvimento orgânico de uns com os outros” (MAFFESOLI, 1998, p. 41).
Em seu capítulo II, A Potência Subterrânea, Maffesoli (1998, pg. 45) expõe-nos que o povo dispõe de uma “força coletiva que anima”, o que ele determina como “vitalismo”. E é nesse vitalismo que se exprime a afirmação da vida, o querer viver em sociedade. Essa experiência compartilhada, o vivido, “constitui o essencial de todas as agregações sociais” (MAFFESOLI, 1998, p. 53). Mas há uma necessidade de um interior, necessário em toda construção. Há a necessidade de uma “centralidade subterrânea”.
Maffesoli (1998, p. 57) afirma que “Durkhein designou ‘divino social’ como uma força agregadora que está na base de qualquer sociedade ou associação”. Uma das características desse “divino social” é o poder dos indivíduos, a potência destes que se “inscreve na continuidade”. A proximidade das pessoas, através desta força agregadora, constitui comunidades locais, tribos, e a união dessas, origina “aldeias na cidade”. Ao referir-se sobre costumes, potência, soberania, divino, Maffesoli (1998, p. 68) cita Durkheim, onde este afirma “que ‘o direito se origina nos costumes, ou seja, na própria vida’, ou ainda que ‘são os costumes que fazem a verdadeira constituição dos Estados’”.
Michel Maffesoli (1998, p. 73) afirma que o “povo é fonte de poder”, mas antes de lutar “contra a alienação com meios alienantes”, o povo pratica a zombaria, a ironia, o riso para desmoralizar a seriedade, a normalização, a exploração. Segundo o autor, “o riso e a ironia são explosões de vida, ainda que e sobretudo quando esta é explorada e dominada”. Maffesoli cita Bataille, onde este afirma que o vitalismo natural do povo e o aspecto risível do poder, podem ser resumidos pelo termo “dispêndio”.
No capítulo IV, A Socialidade contra o social, percebemos que os grande fatos históricos ou políticos foram protagonizados pela massa através de sua efervescência, ou seja, através de uma energia específica para se reunir, uma energia que impulsiona a massa a unir-se e lutar por aquilo que acredita. E os fatos que a massa acredita são versáteis, assim como ela própria. Essa “versatilidade insolente é um escudo contra o poder, seja ele qual for”. Esta pode configura-se em um meio de sobreviver, pois como afirma Maffesoli (1998, p. 89) “o povo enquanto massa tem como responsabilidade essencial triunfar sobre a morte todos os dias”. De acordo com o autor, “o poder pode e deve se ocupar da gestão da vida, a potência é responsável pela sobrevivência”. Como não sabemos se vamos estar vivos amanhã, o que importa é lutar por nossa sobrevivência hoje, o que importa é o concreto mais extremo: presente (presenteísmo). Essa busca pela sobrevivência da espécie é o que une as diferentes tribos, os diferentes grupos, configurando-se assim, a massa.
Essa massa constitui-se de uma “alma coletiva, na qual as atitudes, as identidades e as individualidades se apagam”, segundo Maffesoli (1998, p. 93), que afirma ainda que “a massa é feita por ‘nós’ e de proximidade”. O indivíduo transcende a si, e assim, liga-se a um grupo, de forma real ou fantasmática, e adquirindo, por isso, valor.
No capítulo IV, O Tribalismo, Maffesoli (1998, p. 104) cita a expressão “interferência coletiva”, de Halbwachs, afirmando que aquilo que pensamos ser nossas opiniões, nossas idéias, na realidade, não são individuais, mas geradas dentro do grupo ao qual pertencemos.
Maffesoli (1998, p. 107) afirma que somos “uma constelação cujos diversos elementos se ajustam sob forma de sistema sem que a vontade ou a consciência tenham nisso alguma importância”. Agimos em sincronia de forma inconsciente, configurando a socialidade. Nesta, representamos papéis, e como tais, nossos figurinos, cabelos, linguagens gostos, nos identificam nessa peça coletiva, tornam-se nossas máscaras. Nessa concepção, entendemos que a “vida pode ser considerada uma obra de arte coletiva”, e para elaborarmos essa arte, para encenarmos essa peça, o “estar-junto é fundamental” (MAFFESOLI, 1998, p. 114-115). E essa diversidade que compõe a arte ou a peça, é um multiculturalismo, que nos identifica e nos atribui sentimento de pertença. Essa socialidade é eletiva, ou seja, nos temos atração ou repulsão, e através disto que faremos nossas escolhas, iremos eleger aquilo que queremos longe ou queremos perto. Queremos perto aqueles com quem nos identificamos, como já havíamos observado, e essa identificação pode se dar pela compartilhamento de um hábito, de uma ideologia, de um ideal. E este estar-junto permite com que possamos nos proteger, “contra a imposição, venha ela de onde vier”. Além disso, o estar-junto, o tribalismo, fazendo-nos recordar da “importância do afeto na vida social”.
No capítulo V, O Policulturalismo, Maffesoli (1998) explana sobre nossa diversidade, que nos configura, nos ajusta e nos faz ajustar-nos uns aos outros. Antes de sermos somente racistas, ou somente nacionalistas, somos uma união de diversos elementos, somos uma mistura. Maffesoli (1998, p. 152) lembra Gilberto Freyre, onde este afirma que foi a “miscigenação e a mobilidade em todos os sentidos” que constituiu e dinamizou o Brasil. E dentro dessa união de diversos elementos, se sobre saem nossos deuses. “todos os deuses se tornam soberanos por sua vez”, de acordo com Bouglé (MAFFESOLI, 1998, p. 152), essa “pluralidade de deuses em ação”, segundo Maffesoli (1998, p. 152), constitui nossa nova cultura.
Encerrando seu livro com o capítulo VI, Da Proxemia, Maffesoli (1998, p. 173) afirma que o povo é o “gênio do lugar, sua vida no dia-a-dia assegura a ligação entre o espaço e o tempo. Ele é o guardião ‘não consciente’ da socialidade”. O povo deve abstrair-se o menos possível de seu meio, para que assim, perceba a simbólica de sua existência. Existência esta em que são privilegiadas “as percepções imediatas e as referencias próximas” (MAFFESOLI, 1998, p. 178).
Aqui, Maffesoli (1998, p. 192) cita a televisão e a publicidade, afirmando que o que chama de tribo, são os públicos alvos que a comunicação possui. Ela é direcionada para públicos específicos, e configura-se em linguagens e símbolos que são próprios destes, para se identificar e se comunicar. Para o autor, a imagem representará o familiar, e se inscreve na proximidade. Pelo viés da imagem, do corpo, do território, valorizamos o espaço, sendo também “a causa e o efeito de superação do indivíduo num conjunto mais amplo” (MAFFESOLI, 1998, p. 192). Sendo que esse território não necessita ser geográfico, pode ser um território simbólico. Quando cita território simbólico, Maffesoli (1998, p. 194) afirma que o “sentimento de pertença é reafirmado pelo desenvolvimento tecnológico”, e ainda cita Moles, com a expressão “nova aldeia global”.
Com o desenvolvimento da internet, percebemos que a proximidade tomou uma outra proporção. Podemos pertencer à mesma tribo de pessoas que nunca vimos, ou moram muito distantes. Com acesso a redes sociais, passamos a viver em uma aldeia global, onde somos próximos de todos. Além disso, uma tribo não exclui a outra, podemos pertencer à diversas tribos ao mesmo tempo, podemos ser surfistas, cinéfilos, publicitários, estudantes, baladeiros, leitores e produtores de conteúdo. Como afirma Maffesoli (1998, p. 204) “dentro de um grupo particular, inúmeros de seus membros participam de múltiplas tribos”. E isso, poderá até gerar “fofoca” entre os grupos. Mas, o que acontece hoje, é a transição da informação por todos os âmbitos da aldeia global.
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