Almir Junior 28/01/2023
O MAIOR DO BRASIL
Eu creio que todo mundo ao ler uma biografia busca entender quem foi o biografado verdadeiramente, do que ele gostava e não gostava, como pensava, como agia e qual foi a trajetória que ele tomou para se transformar na pessoa que é. No caso dessa narrativa de Nelson Motta, ele evidencia Sebastião Rodrigues Maia para nós.
Acredito que após esse livro sou capaz de entender Tim Maia muito melhor do que somente vendo-o pelas entrevistas e shows, embora é claro que esses sejam complementares; e entender não significa não se surpreender com as ações loucas e imprevisíveis dele, como na vez em que além de chegar cedo no local do show, ainda entrou no palco na hora marcada, surpreendendo milhares e metade da plateia que ainda nem estava lá.
O livro é em grande parte divertido devido ao Tim, sua trajetória de excessos, de loucuras, de cornices, onde realmente valia tudo, menos dizer chega ou baixar o som. O homem era capaz de tudo, era tudo, até poeta, afinal cunhar a frase: "Brasil é o único país onde puta goza, cafetão tem ciúme, traficante é viciado e pobre é de direita" não é pra qualquer um. E o que falar da loucura que foi o Racional superior? Pelo menos serviu pro Tim e a banda Vitória Regia ficarem limpos por um tempo, o que influenciou na qualidade das músicas gravadas na época. Li esse livro em formato de audiobook, com o próprio Nelson Motta fazendo a leitura e imitando a voz do Tim nas passagens transcritas das falas do cantor e sinceramente é sensacional. Se você leu esse livro em formato tradicional, releia em audiobook, vale muito a pena.
Claro que nem tudo era alegria na vida de Tim e muito disso se evidencia aqui. Pra mim Tim Maia do Brasil é certamente o melhor cantor que já nasceu nesse país e somente uma pessoa poderia atrapalhar a carreira de um gigante como ele, o próprio. Falar que ele levou uma vida de excessos seria eufemismo, tanto que se ele tivesse metade da disciplina de artistas mais "calmos" certamente sua carreira teria sido ainda maior e melhor do que já foi (e se ele lesse esse trecho com certeza mandaria eu ir pra pqp e me fud3r por uns 20 minutos). E não teríamos a ideia transloucada de que Roberto Carlos é rei de alguma coisa, embora eu acho que isso se dê mais pela birra que a Globo tinha com o Tim que deu algumas boas sacaneadas na emissora.
Os últimos anos do mestre são tristes, a voz já perdendo a potência e as décadas de exageros cobrando seu preço, tanto que ele parece se dar conta disso e passa a gravar cada vez mais, como se pressentisse que o tempo era muito pouco. Com um dos últimos shows sendo em Nova Iorque, onde ele sonhava em cantar desde sua adolescência e sua passagem conturbada pelos EUA, com somente um quinto da plateia do local marcando presença e tendo que pagar mais a banda do que ganhara no show, mas ainda assim feliz por ter realizado seu sonho.
Tim podia ser difícil (outro eufemismo) mas também era generoso, carinhoso e certamente muito querido por quem o conheceu. Assim como deveria ser em toda biografia, o livro termina no instante em que a narrativa alcança o momento em que o coração do gordinho mais simpático da Tijuca para de bater e é aqui que termino esse texto também. Lamento ter nascido tarde pra ver essa lenda viva, mas fico feliz por ter sempre a oportunidade de ouvi-lo, Tim Maia, o maior do Brasil.