Almeida 06/01/2015O segredo da solidão em Gabriel García MárquezGabriel García Márquez, chamado carinhosamente de GABO, nascido em 1928, na aldeia de Aracataca, nas imediações de Barranquilla, Colômbia. Autor que nos trouxe um realismo mágico através de alguns romances nos séculos XX e XXI. Pois bem, Gabo, um célere escritor que dispensa apresentações, justamente pelo simples fato de ter se tornado estritamente uma grande estrela literária, mesmo que tenha buscado o contrário. Criador de personagens marcantes e de uma verossimilhança indiscutível como demonstrou no livro ‘Memórias de minhas putas tristes’ história de uma ode ao amor idealizado, ao amor platônico, resgatado pela mente jovem de um sábio triste (como o personagem principal é chamado por Rosa Cabarcas), lançado em 2004, algumas décadas depois das conversas com Plínio Apuleyo Mendoza que originou o livro “Cheiro de goiaba” um livro admirável. Para mim, Gabo foi apresentado em 2005 através das narrativas do ‘sábio triste’, a partir daí, conheci outros personagens poeticamente densos que me fizeram apaixonar por cada um deles, mas nunca tinha observado esses personagens através da ótica do seu criador.
Em o “Cheiro de Goiaba”, biografia de Gabriel García Márquez, uma série de depoimentos ao amigo Plínio Apuleyo Mendoza, Ora em tom de entrevista, ora como desabafo, conhecemos o autor e suas criações. Gabo fala de sua vida, de suas origens, como e porque começou a escrever. Segundo o próprio García Márquez tudo começou através do encontro das comadres - “As duas se abraçaram e começaram a chorar ao mesmo tempo.”. Neste livro conhecemos um García Márquez apaixonado por Kafka, Dostoievski, Liev Tolstói, Dickens, Flaubert, Balzac, Virgínia Woolf, Steinbeck e Rimbaud. Graças a avó D. Tranquilina de quem herdou o gosto por contar histórias “fantásticas”, o modo como a avó lhe falava de lendas, mortos e espíritos, diz o autor: essas histórias até hoje ainda me fazem sentir um tremor quando estou sozinho. Essa sensação faz com que ele tenha nas mulheres segurança, “sinto que nada de ruim pode me acontecer quando estou entre mulheres”. Sendo assim, aparecem em suas obras, mulheres que assumem a posição de defesa e guardiãs da família. Já do avô, ficaram as lembranças da guerra, os relatos, por vezes, assombrosos, temerários e desafiadores para um menino de oito anos. Relatos que, também, aparecem constantemente nas suas histórias, como em Macondo, em Cem anos de Solidão.
Solidão e Poder, palavras cinzeladas em todas as obras desse escritor.
“Plínio Apuleyo Mendoza: _ a solidão do poder parece com a do escritor. Talvez se referisse mais à solidão da fama. Não acha que a sua conquista e manejo o fizeram secretamente solitário?
García Márquez: _ nunca disse que a solidão do poder é igual a solidão do escritor. Disse, por um lado, como você mesmo diz, que a solidão da fama parece muito com a solidão do poder.”
Portanto, é dessa solidão que saíram tantos amores pospostos, crianças, mulheres que botam ordem, assim como homens que introduzem o caos e vários coronéis. Quanto ao poder, poder de juntar histórias com estórias que transformam as obras de García Márquez em banquete fácil de ser devorado em uma única sentada. “Cheiro de Goiaba” é mais do que uma breve biografia, é um livro que nos instiga a conhecer a trajetória desse grande escritor e também saciar a vontade de reler obras como ‘Cem anos de solidão’ e descobrir de fato por que há tantos Aurelianos e Tantos Josés Arcádios e o segredo da solidão dos Buendía. Acredito que a partir da leitura de ‘Cheiro de Goiaba’, você vai ver com outros olhos os personagens criados por Gabo.
‘Cheiro de Goiaba’, leitura venerável!
Alexandre de Almeida Floriano