Kitchen

Kitchen Banana Yoshimoto




Resenhas - Kitchen


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Ayu~chan 11/04/2010

Esse é um livro que certamente quem lê Harry Potter não vai entender. São duas histórias adultas, sempre contendo morte, dor, desapego e mais ainda: a difícil arte de enfrentar a solidão. Por enquanto meu livro favorito, apesar de ser curto.
Carla Buffolo Altoé 19/11/2011minha estante
Quero muito conhecer esta autora e mais ainda depois de saber que existem pessoas que o tem como favorito, mas não entendi por que que quem lê Harry Potter não conseguiria entendê-lo... gosto é gosto, é muito bom saber que existem pessoas que curtem diferentes tipos de livros, do drama à fantasia...


Renato Alves 07/01/2012minha estante
Concordo com o que disse a Carla.
Adoro "Kitchen", é um dos três melhores livros que li em todos os tempos, mas gosto de Harry Potter na mesma medida.

Definir desse jeito aí é uma besteira e subestimar os leitores.


Carla Buffolo Altoé 11/01/2012minha estante
É isso aí Renato!




Aline164 03/11/2021

Os vários mundos em que as personagens de Yoshimoto habitam
O conto que dá nome ao livro é sobre Mikage, uma garota que gosta de cozinhas, esse lugar da casa a faz se sentir bem, e morava com a avó, que falece. Um colega do colégio, Yuichi, a convida para morar com ele e a mãe (que, na verdade, é seu pai biológico que se descobriu mulher – esse é só um detalhe, tratado com naturalidade pelos personagens). Quando a mãe/pai de Yuichi morre, a relação entre ele e Mikage começa a ficar estranha, talvez o sentimento de amizade que se transformou em algo mais.

O segundo conto se chama ”Moonlight Shadow”, baseado na música homônima de Mike Oldfield, e fala sobre Satsuki, uma garota que perdeu o namorado, Hitoshi, em um acidente de carro. Para se manter ocupada, uma das coisas que ela passa a fazer é correr de madrugada, pouco antes de amanhecer e, num desses dias, enquanto para para tomar chá em uma ponte, conhece uma garota enigmática, que diz estar na cidade para ver algo que só acontece de cem em cem anos e a convida para o “evento”.

Os dois contos falam de dor e de perda, mas, ao mesmo tempo, de como tudo se cura com o tempo e se transforma. Quase nunca choro lendo livros, mas “Moonlight Shadow” me emocionou muito na parte do “evento”. O fim dos dois contos me deixou com a sensação de que existem muitos mundos acontecendo ao mesmo tempo e que uns interferem nos outros para nos fazer encarar a vida de outra forma. Somos infinitos enquanto durarmos.
Vilamarc 05/11/2021minha estante
Queria muito esse livro. Você leu no físico ou e-book? Se físico, onde encontrou?


Aline164 05/11/2021minha estante
Li no físico. Dei de presente pra um amigo que também gosta de literatura japonesa. Encontrei num sebo.


Vilamarc 05/11/2021minha estante
;)




GilbertoOrtegaJr 06/12/2016

Kitchen – Banana Yoshimoto
Em 1988 Banana Yoshimoto (o nome verdadeiro dela é Mahoko Yoshimoto, mas ela acabou por adotar o pseudônimo Banana, por achar de grande beleza as flores de bananeiras) lançava no Japão Kitchen, seu primeiro livro. E foi este livro que abriu uma consagrada carreira de escritora, hoje podendo ser considerada, ao lado de Haruki Murakami, uma das figuras mais representativas da atual literatura japonesa.

Kitchen é composto: por uma novela homônima; a qual é dividida em duas partes: Kitchen e a segunda Lua Cheia (Kitchen 2), e pelo conto Moonlight Shadow. Na primeira parte da novela Kitchen, o leitor é apresentado a jovem Mikage, que é órfã de pais, e passou a morar com os avós. (No momento em que começa o livro ela acabou de perder a sua avó, mas logo após o enterro ela é convidada pelo jovem Yuchi Tanabe para morar com ele e sua mãe Eriko, que na verdade é o pai dele, que mudou de sexo, logo após a morte da mãe de Yuchi). Logo os Tanabe passam a ser uma nova família para Mikage, cuidando dela, e ela cuidando deles, formando uma linda relação, e é também com eles que ela consegue alcançar um amadurecimento maior, no qual, posteriormente irá impulsioná-la a voltar a conquistar sua independência.

Já em Lua Cheia (Kitchen 2) Mikage já mora sozinha e trabalha como assistente de uma importante cozinheira (lembrando que a relação especial com que a personagem tem na cozinha é tema logo do parágrafo de abertura do livro), passou um tempo sem que ela veja mais com tanta frequência Eriko e Yuchi, apesar de se gostarem muito, Mikage decidiu que era hora de focar mais em si mesma e no seu caminho. Eis que em uma noite ela recebe o telefonema de Yuchi, que desesperado lhe conta que Eriko morreu há alguns meses, mas até então ele não tinha tido coragem para contar à Mikage. Este incidente acaba servindo indiretamente como motivo para novamente Mikage e Yuchi, estreitarem sua relação em meio ao luto, ambos buscam fazer florescer o amor que um sente pelo outro, e que até ali, nenhum deles tinha tentado lutar por este amor.

Assim como na novela anterior, o conto Moonlight Shadow também trabalha com as questões da tentativa de superar o luto, para que só então se possa transcender a dor, e estar mais próximo da felicidade. A jovem Satsuki perdeu seu namorado, Hitoshi há pouco tempo em um acidente, junto com ele morreu Yumiko, namorada de Hiragi, irmão mais novo de Hitoshi. Estas duas mortes acabam por abalar a vida de Satsuki, e em menor grau de Hiragi, mas o surgimento da jovem Urara, terá um papel fundamental na ajuda para com que Satsuki, e indiretamente Hiragi, consigam seguir em frente, mesmo em meio ao luto.

Eu posso compreender perfeitamente o motivo pelo qual este conto está junto com a novela Kitchen, pois além de falar sobre luto, busca de identidade, Banana Yoshimoto fala, sobretudo sobre o quanto as situações adversas podem nós fazer transcender aquilo que somos, e nos moldar para melhor amadurecimento, e é claro que o crescimento não virá sem dor, que a princípio parecem instransponíveis.

Outro ponto que me encantou na narrativa foi a forma como ela abordou a transexualidade de Eriko, quando houve uma necessidade de explicação para o porquê de Eriko ter mudado de sexo, a autora não justiçou com disforia, e sim, pelo fato de em determinado momento a personagem pensar que viver como mulher seria mais fácil para ela. Ou, aí não entrando tanto na questão de gênero, quando Hiragi passa a usar o uniforme de sua falecida namorada, que é inclusive composto por saia, não por ser gay, mas tão simplesmente por se sentir melhor, naquele momento com estas roupas. Em síntese ela não cai em grandes explanações sobre transexualidade, ou roupas para cada gênero, estas questões estão na obra como características de seus personagens, e como deve ser, de forma que eles estejam integrados a própria trama em si, quando pensamos nisso hoje parece algo corriqueiro, mas se lembrarmos que este livro foi lançado em 1988, e ainda não existia tantas obras literárias com questões sobre gênero, é no mínimo algo interessante o quanto a autora já se mostrava capaz de perceber estes personagens e atitudes, e os recriar em suas obras.

No posfácio do livro Banana Yoshimoto afirma; “Crescer é superar obstáculos; acho que nestas duas coisas está escrita a história espiritual de cada um de nós. (…) E ainda gostaria de dizer a todas as pessoas desconhecidas que irão ler este meu primeiro e imaturo trabalho, que se conseguisse fazê-las sentir-se só um pouquinho mais animadas, não poderia haver para mim alegria maior”. E eu como leitor asseguro que ela consegue, por meio de uma prosa com traços de lirismo, mas sem ser piegas, Banana Yoshimoto consegue captar a beleza que existe no processo de crescimento, assim como as flores que crescem mesmo sem que consigamos ver o momento exato, a beleza de Kitchen reside no crescimento de seus personagens sem perder a própria essência. E quando eu acabei esta leitura, senti aquela sensação deliciosa de uma leitura que toca diretamente meu coração enquanto leitor e ser humano.

site: https://lerateaexaustao.wordpress.com/2016/12/06/kitchen-banana-yoshimoto/
Nanci 06/12/2016minha estante
Ótima resenha! Fiquei com vontade de ler & graças a você, será em breve.


GilbertoOrtegaJr 06/12/2016minha estante
Aposto que vc gostará muito :)




odeiol1vros 12/08/2022

lindo!!!!!!!
esse livro é como um tapa e um abraço quentinho logo em seguida, tanto a primeira novel e a segunda me tocaram absurdamente.
maria11456 12/08/2022minha estante
chuduluna leituras


odeiol1vros 13/08/2022minha estante
mais um pra conta >




Luciano R. M. 09/11/2010

Kitchen- Banana Yoshimoto
Kitchen é um livro singular. A começar pelo nome da autora: Mahoko Yoshimoto, filha do poeta e crítico literário Takaaki Yoshimoto, não usa seu nome verdadeiro, mas o pseudônimo ‘Banana Yoshimoto’- como homenagem à flor de bananeira, que ela afirma ser ‘bonita’ e ‘propositadamente andrógina’.

Mas não é apenas a escolha do pseudônimo que a autora usa que fazem com que a obra seja única. As três narrativas presentes na edição brasileira (e na maioria das edições ao redor do mundo) tratam sobre a perda de algum ente querido, de um modo que a primeira vista parece um tanto superficial, mas que possui ecos mais profundos e dolorosos, que, de certa forma, remetem à textos quase que canônicos da literatura japonesa.

Apesar desse elo com o passado da literatura de seu país, Banana é uma autora ocidentalizada, seja por suas ideias, seja por seu estilo. E isso é o que lhe rende a ovação da juventude em seu país (e ao redor do mundo, mas em menor escala) e ataques da crítica.

O livro começa com Kitchen- o título está em inglês no original-, que narra a história da jovem Mikage que, sendo órfã, vivia com a avó. Após a morte desta, Mikage é acolhida pelos Tanabe, uma família um tanto peculiar. O começo do livro é a declaração de amor de Mikage pelas cozinhas- algo que, sutilmente, será de suma importância na seqüência.

A segunda narrativa é a continuação, Lua Cheia, ou Kitchen 2. Mikage já não vive mais com os Tanabe e é a vez de Eriko Tanabe falecer. Mikage sente a perda novamente e Yuichi, filho de Eriko, também. Juntos, estão sozinhos no mundo.

A terceira parte, ‘Moonlight Shadow’, cujo título também está em inglês no original e remete a uma música mencionada no texto, conta sobre a jovem Satsuki que, aos vinte anos perde o namorado em um acidente de carro. A perda dói profundamente na jovem- apesar de várias vezes ela mencionar o fato de serem jovens e que a relação poderia não ser para sempre. Não é a mais triste, mas é a mais bonita das três partes.

Não sei se concordo mais com a crítica ou com os fãs de Banana, acho que preciso ler mais coisas dela. Mas o que li até agora me interessou, pareceu-me realmente bom- e é interessante ir além de Murakami e Oe no que concerne literatura japonesa contemporânea.

http://blog.meiapalavra.com.br
Lua 09/09/2017minha estante
Eu li kitchen exatamente depois de "minha querida Sputnik " e devo confessar que, apesar de me parecer que a escrita do Murakami é excepcional, a simplicidade do kitchen me comoveu mais. Talvez seja a abordagem e não a qualidade do texto. Mas até então, meu primeiro contato com Murakami não foi tão impactante quanto com a Yoshimoto




. ⪠11/07/2022

me destruiu serio wassup w japanese writers and existencialism... hits different se voce ler depois de perder alguém,, me vi muito na Mikage, mas tudo bem, somos personalidades barrocas !
eh tao depressivo e motivacional na mesma medida "as i grow older, much older, i will experience many things, and i will hit rock bottom again and again. again and again i will suffer; again and again i will get back on my feet. i will not be defeated. i won't let my spirit be destroyed." afff te amo yoshimoto queria saber escrever resenhas
Luc 11/07/2022minha estante
pensando em ler




bunnyinfurs 04/06/2024

I must keep living with the flowing river before my eyes

????????????????????????????????
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Márcia Regina 04/09/2009

Kitchen, de Banana Yoshimoto

Um livro que fala sobre perdas e a importância de seguir adiante. Dessa maneira, fala sobre felicidade. E a tristeza que acompanha esse sentimento.
Achei interessante, mas não chegou a me conquistar.
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Lara 19/12/2009

Tá, nem foi essa edição que eu li, eu li a versão em inglês, mas fiquei com preguiça de cadastrar ela aqui e_e

Eu adorei o livro, e é um dos meus preferidos, mesmo. O ritmo da narrativa é excelente, é um livro curto sem desperdício de palavras.
Pra mim, o que é cativante não está na história nem nos personagens, mas na narrativa e na forma como o livro é construído.
Não acho que as personagens sejam, no geral, cativantes, ou que o conflito seja excepcional.
A forma como Banana Yoshimoto escreve, e como ela trata as emoções das personagens no cenário do Japão contemporâneo e centrado na figura feminina que, pra mim, é excepcional.
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Brenda Fontes 02/01/2011

As vezes, no escuro, me aproximo passo a passo da beira de um precípicio, mas se acabo encontrando uma estrada, dou um suspiro de alívio. Mesmo quando acho que não vou aguentar mais, sei que conheço a beleza do luar. Uma beleza que penetra a alma: eu conheço isso.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 30/07/2014

Banana Yoshimoto - Kitchen
Editora faber and faber - 150 páginas - tradução de Megan Backus - lançamento original 1988 (publicado no Brasil em 1995 pela editora Ediouro, selo Nova Fronteira).

Mahoko Yoshimoto ou Banana Yoshimoto, como ficou mundialmente conhecida, filha do filósofo e poeta Takaaki Yoshimoto, nasceu em 1964 e, juntamente com Haruki Murakami, é uma das grandes responsáveis pela divulgação da literatura contemporânea japonesa. Assim como Murakami, ela soube utilizar com inteligência as referências culturais do ocidente em seus romances para falar dos problemas da juventude no Japão moderno. Ela ainda é muito pouco conhecida no Brasil, mas a Editora Estação Liberdade tem planos para o lançamento de "Adeus, Tsugumi", atualmente em tradução por Lica Hashimoto (apenas o primeiro livro de Yoshimoto, "Kitchen", foi lançado no Brasil pela Nova Fronteira, mas se encontra atualmente fora de catálogo).

"Kitchen", lançado em 1988, é seu primeiro livro que ela começou a escrever enquanto trabalhava como garçonete, resultando em muitos prêmios literários e fama imediata no Japão. É composto por dois contos: "Kitchen" e "Moonlight Shadow", ambos tendo como temas principais o amor e a morte na vida de jovens comuns japonesas que precisam vencer os obstáculos gerados pela perda de entes queridos, além é claro da paixão da própria autora pela culinária.

Em "Kitchen", a adolescente orfã Mikage Sakurai passa por um momento difícil de solidão e abandono após a morte da avó. Sem nenhum outro parente com quem possa contar, ela aceita o convite de um amigo, Eriko, para morar com ele e seu pai, na verdade "mãe", já que este optou por se transformar em mulher, ganhando a vida em uma boate de travestis. Percebe-se logo que o comportamento e opções dos personagens não são usuais na rígida disciplina da classe média japonesa.

Em "Moonlight Shadow", novamente uma tragédia é o motivo original do conto. A jovem Satsuki perde o seu namorado Hitoshi em um acidente de carro e passa por uma experiência mística, orientada pela estranha Urara, que a fará resistir à tristeza e encontrar motivações para superar o passado.

O estilo pop de Banana Yoshimoto pode parecer superficial à princípio, praticamente minimalista, mas sem dúvida é uma escritora que sabe descrever com originalidade o impacto do destino e as reações na vida de seus jovens personagens. A boa notícia é que temos outros autores interessantes no Japão de hoje além de Murakami.
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Ladyce 30/01/2017

"Kitchen" é o livro que apresentou ao ocidente, em meados da década passada, a escritora Banana Yoshimoto, uma revelação da moderna literatura japonesa. Muito sucesso desde então abraçou a autora. O livro foi também minha apresentação ao trabalho dela e assim como outros leitores mundo afora irei ler suas outras obras. Com linguagem clara e delicada Yoshimoto apresenta os difíceis temas da perda, luto e renascimento emocional.

São duas histórias: uma novela (longo conto) e um conto. Ambos tratam com empatia as perdas por morte sofridas pelos personagens principais, jovens que se encontram sozinhos no mundo, sem familiares ou sem as pessoas que amam. Todos acabam encontrando carinho e conforto através fontes inesperadas. Suas vidas, que começam viradas pelo avesso sem perspectiva de melhores dias, parecendo perdidas em meio a tristeza e sofrimento aos poucos se liberam da decepção e visualizam um horizonte mais feliz, repleto de possibilidades.

O estilo da autora é caprichoso. Ela trata seus personagens, às vezes extravagantes, excêntricos e ocasionalmente exuberantes, com tanta delicadeza e aceitação que a própria estranheza não salta aos olhos. Ao contrário, é comovente. A narrativa leve, com jeito despretensioso, permite que sutilezas sejam ressaltadas, e que a vulnerabilidade de cada personagem apareça sem excessos ou melindres.

Banana Yoshimoto me lembra os interiores de casas japonesas onde o minimalismo é eloquente; o gracioso tem peso e a almejada serenidade encontra expressão. Não há excessos ainda que seus jovens personagens possam ser impulsivos, às vezes precipitados.

Este é um livro sutil que trata de tópico difícil de maneira clara, delicada, agradável e sóbria. Excelente leitura para qualquer idade. Vai para a minha lista de leituras para adolescente mais velhos, ou jovens adultos. Não é a toa que é um favorito da Geração X.
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Murasakibara12 22/04/2020

Um cômodo, uma vida
Um livro sobre trsiteza, morte, vida e sobre a busca pelo nosso lugar no mundo. Até onde estamos sozinhos e até onde vale a pena ceder uma parte sua para outro? Uma moça cercada pela morte e por belas cozinhas...
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aninha415 06/01/2021

Tragicamente belo
eu senti cada página.

Em cada sentimento descrito, em cada momento sensível, eu senti, demais. Não sei descrever bem como eu me senti, mas esse livro certamente me marcou.
Dois contos extremamente belos e singelos, que falam sobre perdas, amizade, amor e superação. Foi extremamente tocante.
A leitura é muito relaxante e a escrita é extremamente fluída, acabei em 1 dia. Todas as descrições de lugares, cenas e principalmente de sentimentos, foram muito bem feitas e tornaram o livro mais belo ainda.

Sinceramente, me senti abraçada por essa leitura.
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Yuri Ferreira 05/03/2021

O peso do luto e a força da comida como relação.
Eu não sei lidar com a morte. Ao mesmo tempo, é o assunto que eu menos paro pra pensar sobre. Talvez por trauma, por não saber lidar, ou por desesperança. A verdade é que sou tão ignorante quanto uma formiga, se é que podemos julgá-la assim. Nós temos consciência do nosso futuro, do que há por vir, mas, ainda assim, apesar do desespero e das dificuldade em lidar com a morte, conseguimos viver. O problema todo está no pós-morte, naquilo que é deixado para trás, nas lembranças e sentimentos guardados no coração, naqueles que amamos. Eu sei lidar com a morte, não sei lidar com o luto.

Nunca liguei muito para comidas e cozinhas. Comer funcionava mais como necessidade, do que qualquer outra coisa. Fiquei doente enquanto lia e talvez isso tenha influenciado algo, mas agora enxergo diferente. Vivia com a boca cega, meio-cega. Se um dia enxerguei carinho e afeto no ato de comer, tenho certeza que a sensação foi a mesma que a da etapa final do luto: um aperto forte, apreciando o momento, reconhecendo o passado. Seres delicados exigem abordagens diferentes; mas, afinal, não somos todos nós delicados ao enfrentar o medo?

Em "Kitchen", Banana Yoshimoto me fez olhar para dentro. Sonhar com cozinhas perfeitas, com amores passados, presentes, futuros; com luto. Amor não é sempre grandeza, também se encontra nas coisas simples; no cotidiano, nos menores presentes da vida, em conversas que apenas os olhos importam... em comer. "Mostrar ao coração um arco-íris" apenas com sorrisos e entendimento mútuo. Limpar uma cozinha especial ao lado de alguém importante. Enfrentar o luto com uma refeição, afinal, essencialmente, comer é viver.

Lembrei de todas as vezes que cozinhei algo, que compartilhei um lanche com alguém que gosto e, por incrível que pareça, todos esses momentos parecem flutuar. Lembro deles, devagar, anestesiados, acontecendo com calma, até se encaixarem nos moldes que definem o que determinado momento é. Tudo parece tão vivo e tocante, a cozinha se torna o lugar mais confortável e querido do mundo, capaz de me abraçar e dizer palavras serenas; eu nunca tinha percebido a intensidade que a comida podia ter na minha vida, em como isso é uma relação entre eu e o mundo, mas, mais ainda, uma espécie de demonstrar afeto.

Sufocado de problemas, cansado do dia a dia e das repetições do que consumo, encontrar um livro tão precioso como esse mexe nas entranhas do que me faz vivo. É olhar para o mesmo problema do outro lado da sala, e então do outro lado de novo, e dessa vez de cabeça pra baixo e assim por diante.

São situações muito específicas. Solitárias. As que nos distanciam do mundo e de nós mesmos. Não é à toa que os contos sempre começam após a morte, no luto de cada personagem. Lidar com o "estar preso eternamente na solidão (mesmo ao redor de amor)" exige mais força do que perceber a própria morte acontecer; é estar em contato com a parte crua do ser humano, do que ignoramos e do que sempre existiu. Yoshimoto tem um olhar perspicaz e cheio de alma, e "Kitchen" seria apenas um livro sobre cozinha se não fosse por isso.

Tem algo que venho enrolando para escrever, mas é inevitável, uma hora ou outra precisamos falar sobre lidar com a perda, com o luto. Neste exato momento escrevo em situação de total desesperança. Não é a perda de alguém próximo que me faz temer a vida, mas sim a perda de mais de 1500 pessoas diariamente para a estupidez de um governo genocida. São pesos diferentes, situações diferentes, mas, ainda, pesos. Estar cercado pela morte traz um tipo diferente de cansaço.

Aceitar a beleza do que é nosso. Amar, pois, sem amor, esquecemos dos que partiram. É o máximo que podemos fazer. Com ou sem ajuda; sozinhos ou não. Juntos, nós espiamos dentro do caldeirão do inferno. Sem segurar as mãos, mas juntos. Ninguém precisa ser explícito para amar. Vivemos. Pelo os que se foram. Pelo os que permaneceram.
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