bella 23/12/2022
merecidamente aclamado
Não sei nem como começar a falar desse livro. Eu já sabia duas coisas: o final, e que iria ser bom. Com final eu digo as mortes, então nada me pegou de surpresa, mas quando você embarca na leitura, com todas as profecias percebe que realmente, você lê já sabendo o futuro, mas é delicioso a forma como tudo se desenrola até os fatos acontecerem, e como a autora brinca com o destino até que ele se concretize.
A escrita é linda, a história fluida. Marcou a mente de um jeito gostoso, a cada fase da vida deles eu tenho minhas próprias lembranças da minha imaginação, com todo um cenário bem construído, e os sentimentos deles próprios. A autora conseguiu transportar isso tudo muito bem para o leitor.
O que eu mais amei no livro foi o protagonista. Poderia ser um livro com um narrador sem foco, pelo fato de seu companheiro ser o melhor dos gregos, ser o melhor dos guerreiros. Poderia ser uma simples narração da vida de Aquiles pelo ponto de vista do Pátroclo, mas Madeline consegue fazer um personagem forte, cheio de virtudes, necessidades e pensamentos próprios, que é muito mais que seu companheiro. E ele é simplesmente muito admirável, e só foi se tornando mais e mais a medida que a seriedade da narrativa aumentava.
A atitude final dele, feita tanto pelo Aquiles quanto pelos homens que ele via morrerem foi tão admirável e corajosa, que eu senti um orgulho enorme, além de tudo o que ele fez pela Briseis, ganhando absolutamente nada em troca, apenas com a consciência de que aquilo era o correto.
A relação dos dois, principalmente no início também foi muito linda. Em aquiles, patróclo finalmente encontrou um lar, finalmente encontrou aceitação, amor genuíno, respeito e voz, mesmo sendo um príncipe antes.
E em Pátroclo, Aquiles encontrou alguém que o admirava, mas que via nele mais do que apenas a profecia e suas habilidades, via alguém que cuidaria dele, sendo ele um herói ou não. Esse amor é lindo, profundo, e mesmo assim não obsessivo ou doentio, de forma que mesmo se amando muito os dois ainda colocavam seus próprios valores acima de uma lealdade absurda a qual traria um desacordo moral com si próprios.
Todo o desenrolar dos conflitos na guerra também é muito bem feito, principalmente os internos entre os gregos. Querendo ou não é criada a perfeita situação onde você não sabe exatamente de que lado está, pois os dois parecem certos, ou errados, igualmente.
O final foi simplesmente surpreendente (SPOILER!)
Como eu já sabia que ambos morreriam, achei que seria apenas isso e pronto. Mas entregou muito mais, principalmente com o desespero do Pátroclo em conseguir sua paz no submundo, ao lado de Aquiles, que lhe foi negada anteriormente. Chorei de agonia e alívio nessa reta final, foi o clímax mais emocionante, por que eu não duvidava que poderia ser trágico, mas nunca desejei tanto a felicidade dos dois, por que naquele momento era algo eterno que estava em jogo. Chegou no ponto onde a morte realmente não era o maior problema que separaria os dois.
(MAIS SPOILER!!)
A reconciliação de Tétis e Pátroclo foi o maior dos quentinhos no coração. Em toda a história só sentimos raiva dela, e ainda mais com o monstro que ela criou no filho de Aquiles. Mas nas últimas páginas ela mostra um amadurecimento muito nítido, finalmente não só reconhecendo o amor do filho, como também a importância de Pátroclo como um ser humano, um mortal digno, apesar de mortal. Tudo por causa desse luto, e do amor dos dois pelo herói.
(fim de spoilers)
E esse título tão claro, agora. A canção de Aquiles é Aquiles pela perspectiva de Pátroclo, que via muito mais nele além de sua guerra travada, e deixa isso ainda mais nítido no fim. Então a homenagem no título é pelo lado humano, artístico e apaixonado dele, não nos seus feitos heróicos forcados na guerra de Tróia. Nessa edição ainda, (spoiler) o arco de Apollo com a flecha sangrando, em formato de coração porque seria o que finalmente juntaria os dois de novo.
Enfim, realmente valeu toda a fama, amei o livro do início ao fim. Uma obra de arte.