Bruna Jéssika 20/02/2020Feminismo para quem?O livro entrega muito mais do que se pode esperar. É um soco no estômago das pessoas que nos dias atuais ainda questionam a necessidade do movimento feminista.
"A tontura de fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago [...] Eu escrevia as peças e apresentava aos diretores de circos. Eles me respondiam: é uma pena você ser preta. Esquecendo eles que eu adoro minha pele negra e meu cabelo rústico [...] Se é que existe reencarnações, eu quero voltar sempre preta."
O Manifesto começa com esse trecho forte, da mais forte ainda Carolina Maria de Jesus. Quantas desigualdades você consegue enxergar nesse pequeno trecho?
Então o feminismo é para a Carolina, mulher, negra, marginalizada, pobre, violentada e esmagada pelo machismo e pelo racismo estruturais.
O feminismo é para mim, Bruna Jéssika, mulher, parda, pobre, nascida e criada em um bairro do subúrbio de uma cidade do interior do Ceará, vítima do machismo, do patriarcado e de uma sociedade completamente absorta no regime do capital.
"Não é possível que nosso feminismo deixe corpos pelo caminho. Não há liberdade possível se a maioria das mulheres não couber nela."
O feminismo dos 99% é antirracista, antiLGBTfóbico, anticapitalista. O feminismo para os 99% é ecossocialista.
O Manifesto escancara essas urgência a medida que retoma e joga na cara o que muita gente não vê: a crise em que nos encontramos, mas mais diversas esferas, tem como centro uma crise no sistema capitalista. Não há possibilidade de superá-la olhando apenas para o 1% dos que são favorecidos pelo sistema.
"Mulheres de todo o mundo, uni-vos"