Paulo 19/06/2023
Ainda que seja considerada uma espécie de compêndio conciso, ou condensado, das ideias de Nietzsche por ele próprio, a compreensão da obra é, naturalmente, difícil. Não só por seu conteúdo, não facilita que Nietzsche pareça frequentemente contraditório. E é a tal nível que às vezes uma frase que segue outra parece uma afirmação contrária a que se acaba de ler. E isso é mais estranho porque ora você acha uma coisa de Nietzsche, ora se acha outra. Por exemplo, se em certas partes ele parece defender democracia do conhecimento, liberdade sexual, viver a vida como pedem os "instintos" e as vontades, desprezando os julgamentos e moralidades fundadas no cristianismo, em outras partes ele julga e condena o consumo de álcool, é misógino como tipicamente eram os filósofos (e o mundo todo...), e as principais coisas: dá frequentemente discursos elitistas; critica e ridiculariza todos os filósofos que menciona; se autovangloria, se colocando como o mais sábio homem da Terra e detentor da verdade. O que é mais fácil entender da obra é essa personalidade presunçosa, prepotente, arrogante e quase megalomaníaca do filósofo, para um leigo se quer se entende o que é, afinal, o seu famoso niilismo ou porque Nietzsche era considerado pessimista ou coisa do tipo.
Ademais, a tradução, e revisão, da Lafonte dão diversas vezes a impressão de serem mal feitas.
Nos momentos em que Nietzsche (1844-1900) parece "defender o sexo" e sua natureza, não há como não lembrar de Freud (1856-1939) e a sua proposição da pulsão maior do ser humano, a pulsão sexual. Antes de soar contraditório e elitista, nesses momentos de aparentemente defender certas liberdades que vêm do "instinto", Nietzsche também parece defender que essas forças naturais, nas minhas palavras, devem frequentemente escantear a razão, ou coisa parecida.
Reitero: para um leigo, mais se entende nessa obra a personalidade arrogante de Nietzsche do que o significado das coisas que ele escreveu.