Dhiego Morais 13/07/2020Cabo do MedoAté onde você iria para salvar aqueles que você mais ama? Até qual limite você estaria disposto a cruzar para fazer o que é correto? Entre cumprir categoricamente a Lei ou fazer a sua própria justiça e segurança, o que você abdicaria?
Cabo do Medo, livro originalmente lançado em 1957 como The Executioners, por John d. MacDonald é mais um resgate importantíssimo dos grandes clássicos de suspense psicológico das décadas de 50 e 60. Assim como Menina Má, O Colecionar e O que terá acontecido a Baby Jane, Cabo do Medo entra para o rol de livros que foram adaptados para valiosos clássicos do cinema. No caso do livro de MacDonald, duas vezes adaptado, sendo a mais conhecida aquela dirigida por Martin Scorsese, tendo como protagonista Robert De Niro.
“O mundo está lotado de homenzinhos cheios de si, cheios de autoridadezinhas e sem um pingo de imaginação ou bondade.”
Em Cabo do Medo, o leitor viajará pela história da família Bowden. Sam Bowden, o patriarca é um importante homem da lei, bastante relevante na cidade em que reside. Além de possuir uma família aparentemente estável, tão bela quanto a de qualquer comercial de margarina, Sam foi o responsável pela prisão e condenação de Max Cady, um ex-soldado que quando embriagado fora pego em flagrante após tentar violentar uma jovem e ser desacordado por Bowden.
Por cerca de catorze anos o condenado Max Cady nutriu ódio por Sam Bowden, por ter sido preso e por ter perdido tanto de sua vida atrás das grades, pelos anos que perdera junto de sua própria família. A raiva de Cady, um brutamontes dotado de uma mente tão afiada quanto navalha é o que o manteve são por tanto tempo, bem como o que o manteve vivo e com propósito: se vingar de Sam e do toda a família. Cada parte perdida ou destruída pelos anos de detenção deverá ser cobrada de Sam Bowden.
A leitura de Cabo do Medo provou-se ser bastante fluida, capaz de transpor ao papel a sensação de constante vigia, do pressentimento de ser constantemente observado; o medo não do desconhecido, mas justamente do conhecido e da incerteza de quando o golpe virá.
Escrito em terceira pessoa e dotado de poucos capítulos, o livro de John D. Macdonald não preza especificamente pela construção das personagens, mas sim pela ambientação, já que é dela que a sensação de perigo advém. Talvez isso incomode alguns leitores, que não conhecerão tanto a fundo a vida de Max Cady, por exemplo, já que a história não conta com o recurso de flashbacks nem da narrativa pelo ponto de vista do vilão, mas a condução da trama é feita com destreza.
“Eles andam em bandos, azucrinam os mais fracos e mais diferentes, divertem-se imaginando as torturas mais horrendas. É parte da sobrevivência, querida. Em tempos de guerra, nas cidades grandes, eles sobrevivem, enquanto os menorzinhos, mais suavizados pelos bons modos, definham.”
Cabo do Medo possui todos os ares dos filmes dos anos cinquenta, com a construção das cidades pequenas em intensa transformação, com toda a lógica das interações mais próximas entre as famílias e os demais cidadãos; ares que ao mesmo tempo em que trazem a sensação de aconchego, também conduzem à sensação da falta de privacidade e das intrigas entre os lares.
Violento e surpreendente, Cabo do Medo é um clássico da busca pela vingança de duplo espectro, literário e cinematográfico, uma pedra preciosa bruta que merece o brilho e o destaque de ser lida.
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