Delirium Nerd 05/10/2019
A superação do abuso e o amor no fim de tudo
A autobiografia da rainha do rock Tina Turner, lançada pela editora BestSeller, nos mostra os fatos da vida da cantora narrados desde a sua infância na cidade de Nutbush, no Tennessee, passando pelo seu relacionamento abusivo com o seu parceiro Ike Turner e a fuga desse relacionamento, até os seus dias atuais vivendo com o seu atual marido Erwin na Suíça. O livro trata de abuso, superação, etarismo, saúde mental e amor, pela lente de uma das mulheres mais incríveis do meio musical.
Nascida Anna Mae Bullock, em 26 de novembro de 1939, ela cresceu com a sua família no Tennessee e teve uma relação muito difícil com a sua mãe, que não queria uma segunda gravidez e, por causa disso, a rejeitava. A narrativa do livro mistura passagens mais recentes da vida da cantora com momentos pesados de seu relacionamento com Ike Turner, abordando todo o abuso e violência que ela sofreu em 14 anos sendo casada e trabalhando com ele.
Em “Tina Turner – Minha história de amor“, a cantora não nos poupa dos momentos de extrema violência física e mental que passou ao lado de seu primeiro marido, Ike Turner; ao mesmo tempo, nos mostra todas as nuances de um relacionamento abusivo e as faces de homem controlador e violento, que se sentia inferior em relação a ela, pois sabia que precisava dela por perto para ter sucesso.
Enquanto nos palcos Tina Turner era o centro das atenções e dominava tudo com o seu talento, entre quatro paredes era tratada da pior maneira possível, ouvindo insultos, trabalhando como dona de casa, sem receber salário e sem nenhum acesso a dinheiro; Ike controlava tudo. A situação era tão pesada que ela teve que continuar se apresentando mesmo estando grávida de seu segundo filho. Ela também relata a sua tentativa de suicídio, quando já não aguentava mais viver aquela situação e decidiu que dar um fim à sua vida seria a melhor solução.
Na década de 1960, Tina também relembra os momentos de racismo em que passou, viajando pelo país em plena época da luta dos movimentos pelos direitos civis dos negros americanos, assim como a resistência que encontrou para fazer sucesso no Estados Unidos, fazendo um som que não era “branco” ou “negro” o suficiente quando, então, gravou “River Deep Mountain High” com Phil Spector. Afinal, Tina sempre foi uma mulher com raízes na música country e no rock ‘n roll, dois ritmos que estavam sendo cooptados pelas audiências brancas.
Apesar de passar por um relacionamento abusivo em sua vida pessoal, em sua carreira Tina arrancava elogios por onde passava e estava longe de ser o furacão que era nos palcos quando conhecia as pessoas fora dele. Em 14 anos de casamento e parceria com Ike Turner, ela conseguiu trabalhar com Phil Spector e os Rolling Stones, ficando muito amiga de Mick Jagger.
Após passar 14 anos sofrendo todo tipo de tortura física e mental ao lado de Ike Turner, Tina consegue finalmente fugir das mãos de seu algoz, aos 37 anos de idade, com apenas a roupa do corpo e alguns centavos no bolso. Com a ajuda de amigos e da família, ela começa a se reerguer longe da violência e do abuso que marcaram a sua juventude e começo da vida adulta.
Depois de anos sofrendo abusos de seu ex-marido, algo que a traumatizou para sempre, Tina encontrou o amor novamente no empresário da indústria musical Erwin Bach, por quem se apaixonou perdidamente à primeira vista quando estava com 46 anos e ele com 30. Com ele, Tina viveu pela primeira vez um relacionamento saudável e igual, baseado no amor e respeito. Os dois estão juntos há mais de 30 anos, mas só se casaram oficialmente em 2013, na Suíça, onde ela tem cidadania e vive até hoje.
Em uma sociedade que é cruel com mulheres mais velhas e costuma colocar prazo de validade nas mesmas, conseguir ser amada e obter sucesso após os 40 anos sem se preocupar com o que os outros diziam foi um grande feito na vida de Tina, ainda mais depois de tudo o que ela passou. Ou seja, essa foi mais uma barreira que ela teve que quebrar.
Aliás, quebrar barreiras foi o que Tina Turner fez durante toda a sua vida. Enfrentando o racismo nos anos 60 e sendo uma mulher negra livre nos anos 80; conseguiu escapar de um casamento abusivo e uma relação profissional ainda mais degradante e dar a volta por cima, com ajuda do budismo e de seus amigos e familiares.
Em “Tina Turner – Minha história de amor“, conhecemos profundamente a vida da cantora, que entrou para história pelo seu talento, carisma e vigor, mas também compreendemos o que é viver em um relacionamento abusivo e como isso afeta para sempre a vida de uma pessoa. Aprendemos como se pode seguir em frente e ser feliz e amada após tanto sofrimento.
A história de Tina Turner serve de inspiração sobre como uma mulher negra e nascida numa cidade do interior, quebrou barreiras, enfrentando o preconceito e a violência e, no final, conseguiu transformar tudo numa história de amor que se tornou o legado da cantora para os seus fãs.
Resenha completa no link abaixo:
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