Coruja 17/10/2013A Abadia de Northanger é, sem sombra de dúvidas, o livro mais divertido e juvenil das obras que nos foram legadas por Jane Austen. Não à toa, afinal, embora tenha sido publicado postumamente, foi o primeiro romance que ela escreveu.
Não há a sutileza do texto de Orgulho e Preconceito ou Emma, nem tantos personagens ambiguamente fascinantes, como Wickham ou Willoughby... embora haja já certos traços desses vilões no general-pai e capitão-filho Tilney. A Abadia de Northanger é abertamente e sem pejo, uma grande brincadeira, uma crítica e uma homenagem ao inteiro gênero do romance gótico.
Há uma ingenuidade refrescante em sua heroína – que caminha todos os passos da heroína sem perceber o que está fazendo -; um herói simpático, com um olho muito bom para musselinas e nem de longe tão intenso quanto Mr. Darcy ou o Capitão Wentworth (mas nem por isso menos apaixonante); e um vilão caricatural que gosto de chamar em minha cabeça de torpe Thorpe.
Eu vou confessar que Henry Tilney é um dos meus protagonistas favoritos da Austen. O primeiro lugar é do Capitão, obviamente, mas creio eu que se fosse para escolher na vida real, fora dos romances, eu preferiria um Tilney a um Wentworth. Como já disse antes, ele não é intenso e passional, mas tem um senso de humor delicioso, maneiras encantadoras; ele sabe rir de si mesmo, sabe provocar e flertar num mesmo fôlego, é, enfim, absurdamente charmoso.
E, a despeito de ter o mais complicado conflito familiar de todos os romances austenianos – a breve afirmação que ele faz sobre o papal do pai no definhar da mãe diz muito sobre o que ele pensa sobre o assunto – Tilney é também o mais bem resolvido de seus mocinhos.
Catherine, por sua vez, desperta em mim sentimentos de tia – tenho uma vontade enorme de apertar as bochechas dela e exclamar ‘mas você é uma fofa mesmo!’. Embora muito inocente, a jovem senhorita Morland tem grande potencial para se tornar uma criatura de bom senso, sabendo julgar o torpe Thorpe pelo canastrão que ele é, reconhecendo as vantagens de associação com a senhorita Tilney (não apenas pelo acesso que pode ter ao irmão, mas por um desejo sincero de amizade e admiração), sabe rir e chamar a atenção para os disparates com que Henry freqüentemente a provoca.
O único problema que Catherine tem de fato é essa ingenuidade que a faz ser presa tão fácil para a (detestável, vã e inconveniente) Isabella Thorpe... e uma imaginação febril que a faz enxergar chifre em cabeça de cavalo.
Mas tudo bem, ela continua adorável de qualquer ângulo que se olhe e continuo com complexo de Felícia querendo apertá-la atéeeeeeeeeee estourar.
A Abadia de Northanger é, enfim, um livro para se ler sorrindo (às vezes gargalhando), com personagens que são incrivelmente fáceis de se amar e uma veia paródica nem um pouco sutil – mas simplesmente deliciosa, já guardando as marcas do estilo que consagraria Austen na História.
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