spoiler visualizarMillene.Grandemagne 11/06/2022
Citações e reverberaçôes
"Não é preciso se desesperar. O futuro é um mundo onde tem de tudo."
"Se não encontrarmos no futuro o que procuramos, talvez seja porque não sabemos procurar. Sempre podemos esperar alguma coisa. - Eu não espero muito, declarou Gauna, também não acredito em bruxarias. - Talvez tenha razão - replicou com tristeza Taborda. - Mas teríamos de saber o que vc chama de bruxaria. Dou como exemplo a transmissão de pensamento. Não há grande mérito, garanto, em averiguar o que pensa um jovem aborrecido e temeroso."
"Por mais corajoso que seja, um homem não é corajoso em todas as ocasiões."
Bilhete da sorte que Gauna tirou do papagaio: "Os deuses, o que buscares e pedires, como um papagaio informado, adianto, ai, irão te conceder! Enquanto isso, aproveita o banquete da vida."
"Nem sempre se pode ser leal. Nosso passado, em geral, é uma vergonha, e não se pode ser leal com o passado ao preco de ser desleal com o presente. Quero dizer que não há calamidade maior que um homem que não escuta seu proprio juízo."
"Gauna disse que seu amigo sempre estava pronto para enfrentar qualquer um numa briga [...] Taboada explicava: essa coragem que Gauna menciona não tem importância. Oq um homem deve ter é uma espécie de generosidade filosófica, um certo fatalismo, que lhe permita estar sempre disposto, como um cavalheiro, a perder tudo a qualquer momento."
"Que surpresa os rapazes teriam - exclamou Gauna certa vez - se soubessem que passo a tarde estudando uma rosa. Taboada comentou: - Seu destino mudou. Há dois anos vc estava em pleno processo de se transformar no Dr Valerga. Clara o salvou. - Em parte Clara - reconheceu Gauna - e em parte, o senhor."
Diz Taboada para Clara antes de morrer: "Cuide de Emilio. Eu interrompi o destino dele. Cuide para que não o retome. Cuide para que não se transforme no valentão do Valerga." Depois de um suspiro, disse: "Queria lhe explicar que há generosidade na felicidade e egoísmo na aventura".
Narrador: "O destino é uma útil invencao dos homens. Oq aconteceria se alguns fatos tivessem sido diferentes? Aconteceu oq tinha que acontecer; esse modesto ensinamento resplandesce com luz humilde, mas diáfana, na história que lhes conto. No entanto, continuo acreditando que a sorte de Gauna e Clara seria outra se o Bruxo não tivesse morrido. Gauna voltou a frequentar o Platense, voltou a se reunir com os rapazes e com o doutor."
"Que desgraça, pensou. Que desgraca ter passado 3 anos tentando reviver aqueles momentos como quem tenta reviver um sonho maravilhoso; no seu caso, um sonho que não era um sonho, mas a epopeia secreta de sua vida. E quando conseguiu resgatar da escuridao parte dessa glória, oq viu? [...] As crueldades mais abjetas. Como o mero esquecimento pôde transformá-las em algo precioso e nostálgico? Pq havia compactuado com os rapazes? Pq havia admirado Valerga? E pensar que para sair com essa gente deixou Clara..."
"Gauna perguntou-se como pôde imaginar que ao entrar nos 3 dias de carnaval recuperaria oq sentira da outra vez, entraria novamente no carnaval de 27. O presente é 'único: era isso que ele não tinha percebido, isso que derrotava suas pobres tentativas de magia evocatória."
"O Emilio tinha de morrer no carnaval - disse Clara. - Agora compreendo tudo: sem que eu soubesse, da outra vez meu pai me mandou procurá-lo, para que eu interrompesse seu destino. Devo cuidar para que não o retome; talvez já seja tarde."
Como disse Cercas, na indicacao, um livro fácil de ler, mas difícil de interpretar. Após ler, pude entender oq ele disse: que invejava quem lia pela primeira vez e que por diversas vezes o releu, com diferentes surpresas. É realmente um livro que me surpreendeu no final, apesar de depois de ler, ver que em diversos momentos da narrativa o final era claro e previsível. Assim como Cercas, desejo a oportunidade de reler em outras oportunidades para diferentes e prováveis novas interpretações.
O livro tem dois polos: Dr Valerga, os "parceiros" de Gauna e a vida noturna, de farra e bebidas, do outro lado, Taboada, Clara, Larsen e a vida tranquila. Gauna, jovem e imaturo, no meio disso. Onde está o sonho? Onde estão os heróis?
Logo no início, vemos que Gauna é bem imaturo, o que fica provado quando ele ganha um dinheiro em uma aposta de corrida de cavalos e decide gastar tudo em 3 noites de farra de carnaval com pessoas que logo vemos que não sao seus amigos íntimos, mas apenas companheiros de, justamente, farra. Tanto é que logo fica claro que o único interesse deles é que Gauna pague tudo e, a todo momento, alguns ficam duvidando que Gauna estaria "escondendo" parte do dinheiro. Valerga é um homem mais velho que eles têm como uma espécie de mentor (por qual motivos não sabemos, pq obviamente é um idiota metido a valente). Percebemos, também, a necessidade que Gauna tem de ser "corajoso", mas uma coragem que, obviamente, para ele, é ligado a brigas e coisas superfluas. Esse é um dos polos.
Acontece essa noite de carnaval e Gauna acorda depois do 3 dia em um lugar estranho, sem os seus parceiros, lembrando vagamente de uma mulher mascarada pela qual ficou encantado e que coisas estranhas aconteceram em um bosque. No início vai atrás de informações, mas os parceiros desconversam e o barbeiro que estava com eles na primeira noite a contragosto, inclusive, foge da cidade quando Gauna vai procurá-lo.
Gauna acaba acompanhando os amigos na casa do bruxo Taboada, pai de Clara e logo depois a conhece. Gauna começa a se relacionar com Clara, mas seus sentimentos sao bastante contraditórios, ora gosta dela, ora não, é bastante machista e irritante, acusando Clara de estar afastando ele de seus amigos e das noites, diz que a ama e minuto seguinte se arrepende, mas mesmo assim não consegue se desvencilhar. Acaba se casando com Clara e tendo um ótimo relacionamento com Taboada que o ensina muitas coisas. Esse é o outro polo, o oposto,
Acontece que Taboada morre e Gauna volta a sair com os "parceiros" e volta a pensar no que teria acontecido naquele carnaval. Após novamente ganhar um prêmio na corrida de cavalos,
após uma breve indecisão sobre gastar o dinheiro na sua nova vida com Clara, ele decide convidar os "parceiros" para retomarem passo a passo aquela noite, a fim de descobrir oq se passou.
Neste ponto, vemos um amadurecimento por parte de Gauna, pq em vários momentos ele se arrepende daquilo, não vê mais graça naquilo tudo e nos "parceiros" e sente falta de Clara, mas mesmo assim continua.
Na terceira noite, finalmente, a noite de 1930 começa a se assemelhar à noite de 1927 e ele vê a mulher mascarada. Logo o narrados esclarece que a mascarada é e sempre foi Clara, que, novamente, foi até lá para salvá-lo, mas desta vez, ela não consegue, e Gauna acaba sendo morto pelos parceiros, naquele bosque. Ele, entao, encontrou o seu destino, aquilo que tanto buscou.
Me pergunto se é uma história sobre o destino e a impossibilidade de se fugir dele, mas, ao mesmo tempo, vejo que é sobre as nossas escolhas e o poder de alterar o nosso próprio destino, mas jamais o destino do outro.
Por meio de um sonho, Taboada disse para Clara que aquela noite de 27 não podia se repetir. Esse é o sonho dos heróis. Mas nem um herói pode impedir o destino que a pessoa escolhe. Uma nova vida se apresentou a Gauna, mas ele foi atrás daquilo que lhe parecia corajoso. No fim das contas, ele estava indo atrás de Clara, pois ela era a mascarada, ela, que sempre esteve ali ao seu lado, mas ele, cego, foi atrás de algo que nem sabia se existia. Foi atrás do outro polo, o polo onde ele pensava estarem os heróis, onde ele, talvez, pensou que seria o herói.