Coisas de Mineira 07/12/2019
Lançado este ano pela editora Planeta, “Querem nos calar” é uma antologia de poemas organizado pela escritora Mel Duarte. Na publicação, estão poemas de quinze mulheres slammers de todas as regiões do Brasil.
Os chamados poetry slams chegaram ao Brasil pelas mãos de Roberta Estrela D’Alva, em 2008, e são batalhas de poesia falada com temática livre que tem como destaque temas como racismo, machismo e desigualdade social. Essa é a sinopse que o skoob traz para “Querem nos Calar”.
“Num país com a quinta maior taxa de feminicídio do mundo, onde mais de dez mulheres são assassinadas por dia, só não enxerga a importância desse avanço para nós quem sempre teve sua voz ouvida e propagada.”
Sempre gostei de poema, sempre pensei neles como algo que alguma pessoa sentiu em algum momento. Assim como algo que eu mesma possa estar ou vir a sentir. Nesse livro, especificamente, as palavras tem tom de protesto, porque tocam em assuntos bem delicados na nossa sociedade como: machismo, racismo e homofobia.
“Querem nos Calar” traz a realidade de muitas mulheres, não só aquelas que escreveram os poemas, mas também várias outras que podem se identificar nas palavras. Essa é a grande sacada do livro, a identificação que ele traz com coisas cotidianas e da nossa sociedade.
“Somos água em movimento e temos sede de poder
Poder me expressar, falar do meu querer
Ser a melhor versão de mim mesma e não a menor versão de você.”
Já falei isso antes, em outros livros que tratavam da mesma temática, mas é necessário sim mais livros que falam sobre a voz das mulheres. Voz que muitas vezes é ignorada. Neste em particular, traz a voz de mulheres, negras e LGBTQIA+.
A mudança de uma poeta para outra é marcada por uma página vermelha e uma ilustração da futura autora. Preciso falar que as ilustrações estão maravilhosas, elas foram feitas por Lela Brandão. Preciso parabenizar a ilustradora, pelo talento.
Na capa, temos o desenho de uma mulher gritando. Uma coisa curiosa é que toda a capa tem no desenho um efeito que parece que ela está amassada. Quando peguei o livro, a primeira coisa que pensei foi: “meu Deus, ele veio amassado”. Mas logo quando passei a mão nele, percebi que não era nada disso. O curioso é que outras pessoas também me perguntaram como o amassei.
“Já tem encarnações que morremos todo dia, mas deram nome pra doença há pouco tempo: homofobia. O teu discurso nojento fortalece os vermes, serve de alimento pro ódio que chega cada vez mais perto de nós. No fundo, vocês não estão nem aí pro que é certo, o certo mesmo é que sapatão e viado não dá pra aturar, ainda que signifique sujar a mão de sangue, matar.”
Acredito que isso possa incomodar algumas pessoas, mas para mim, foi um charme para a edição. Outra coisa que traz um charme para ela é a lateral, apesar de não ser colorida, as páginas vermelhas que existem dentro do livro dão um efeito bem legal na lateral: podemos ver manchas vermelhas nela.
Além das autoras de “Querem nos Calar”, existe um prefácio feito por Conceição Evaristo, uma poetisa e romancista que vem se tornando uma das principais vozes na literatura afro-brasileira. Conceição fez uma bela introdução para a publicação. Mel Duarte, organizadora de “Querem nos Calar”, fez uma apresentação com o título de “Rompendo o silêncio da poesia falada”.
““Ah, ô! Que mimimi! Cor de pele não importa.”
Então vai dizer que é coincidência ter tanta gente preta morta?
E quanto a cultura negra que cês tanto menospreza
(…)
As preta são salientes, meninas brancas, inocentes.
Pele clara de boa moça, mas nossa postura é indecente?
Tratando nossas mulheres como experientes
Corpos negros não valem nada até que você experimente.”
Por: Ana Elisa Monteiro
Site: www.coisasdemineira.com/querem-nos-calar/