Marcos606 08/04/2023
Estudo detalhado da virtude fundamentado em uma investigação sobre a natureza da retórica, arte, poder, temperança e justiça. Como tal, o diálogo mantém um significado independente e se relaciona intimamente com o projeto filosófico abrangente de Platão de definir a existência humana nobre e adequada. Existe na forma de uma conversa principalmente amigável (embora às vezes contundente) entre Sócrates e quatro concidadãos. Chaerephon, um aparente contemporâneo de Sócrates, é encontrado conversando com o professor de Platão no início do diálogo, mas diz pouco mais durante a conversa. Cálicles, outro dos pares de Sócrates (e aqui seu insultador mais severo), é o anfitrião de Górgias, bem como o adversário de Sócrates perto do fim da discussão. Górgias é o famoso orador (que deu nome a este texto), cujo questionamento serve de catalisador para os debates em torno dos quais Górgias se centra. E Polus é o aluno inexperiente e ansioso de Gorgias. É preciso lembrar que, embora o diálogo represente uma interação fictícia, Sócrates foi de fato o professor de Platão. Como resultado, as palavras desse personagem em sua maior parte devem ser tomadas como indicativas da estrutura e apresentação socrática real, além de servir como uma expressão das próprias posições de Platão.
Sócrates deseja questionar Górgias sobre o escopo e a natureza da retórica, então os dois se dirigem à casa de Cálicles, onde o grande sofista pode ser encontrado. A intensa discussão que se segue leva à consideração mais geral das artes verdadeiras versus falsas, uma distinção baseada no bem existente como diferente do agradável. Embora este seja o primeiro indício da diferença entre as duas noções, o ponto não é desenvolvido até muito mais tarde no diálogo.
A segunda parte investiga a verdadeira essência do poder, com a eventual conclusão de que existe tanto em uma total falta de necessidade quanto na capacidade de realizar apenas aquelas ações que ele/ela deseja independentemente. Nesse sentido, por exemplo, um líder tirânico não tem poder real, porque ele deve realizar ações (como execuções) desde que sejam boas para o estado – não porque o governante as deseje independentemente. Essa indagação específica leva rapidamente à definição de qual é o pior mal que uma pessoa pode cometer, com a eventual determinação de que nenhum mal supera o de infligir o mal e escapar da punição. Aqui reside a primeira sugestão do texto de uma questão abrangente de certo e errado, uma questão que eventualmente resulta em um mapeamento da virtude.
A próxima porção geral contém uma divergência do restante do tom investigativo mais típico de Górgias. Cálicles passa bastante tempo castigando Sócrates e o fato de que um homem tão adulto permaneceria imerso na busca da filosofia. Aparentemente, Cálicles vê essa prática continuada como uma desgraça para os adultos. Aqui, mais do que em qualquer outro lugar da obra, a busca de Sócrates pela verdade é diretamente ameaçada pelas crenças predominantes de seus contemporâneos.
A quarta seção acompanha a investigação dos participantes sobre a natureza e o valor da temperança e da justiça. Nessa discussão, Sócrates fornece uma prova lógica um tanto abstrata da distinção entre o bom e o agradável, resolvendo assim uma questão iniciada na primeira seção principal do diálogo. Para Platão e seu professor, o caos da sociedade grega contemporânea (especialmente em Atenas) baseava-se no fato de a maioria não reconhecer essa diferença fundamental. Esse descuido generalizado, por sua vez, leva a uma confusão de lisonja pela arte, persuasão pela verdade e outras ilusões semelhantes. A conversa prossegue para concluir o tópico com uma fundamentação da existência adequada na temperança e na justiça.