Gregori Pavan 09/07/2020Mais um livro com título instigante e ocupado com amenidades.
Inicialmente tem-se a impressão que o objetivo de Mario Vargas Llosa é “apresentar” a doutrina liberal, mas, ao concluir a leitura, é indiscutível que esse objetivo não é alcançado. Não se o intuito era criar simpatia pelo Liberalismo.
O autor, que se manifesta como ex-esquerdista ou socialista e agora Liberal apaixonado, expõe o Liberalismo explicitamente transparente e imperfeito.
Com um texto de fácil leitura, discorre brevemente a vida e a obra de sete pensadores – desde Adam Smith (1723-90) até Jean-François Revel (1924-2006) -, onde é impossível não enxergar a essência contraditória, individualista, indiferente, desorganizada, inconsistente, frágil, moralista, elitista e intrinsecamente assentada no capitalismo mercantilista e no culto à desigualdade social do Liberalismo.
O Liberalismo é avesso à estrutura de Estado e ao entendimento de coletividade humana, mas no livro é possível ler: “O Estado, diz Popper, é “um mal necessário”. Necessário, porque sem ele não haveria coexistência nem uma redistribuição de riqueza que garante a justiça – já que a mera liberdade é em si mesma fonte de enormes desequilíbrios e desigualdades – e a correção dos abusos. Mas um “mal” porque sua existência representa, em todos os casos, mesmo nas democracias mais livres, um corte importante da soberania individual e um risco permanente de que cresça e dê origem a abusos que podem minar os alicerces – frágeis, afinal de contas – sobre os quais foi se erigindo, no decorrer da evolução social – difícil saber se para aumentar a felicidade ou a desgraça dos homens -, a mais bela e misteriosa das criações humanas: a cultura da liberdade.”
O culto à liberdade extrema, pra mim não se mostra coerente e aplicável. A liberdade é importante, é essencial, mas é uma parte do conjunto. O sal é importante quando se faz a comida, sem ele a comida não tem gosto. Assim como só o sal não alimenta.
Parece que não se pode ser liberal sem ser conformadamente ingênuo socialmente e excessivamente materialista.