Heloisa 29/07/2019
Tituba e sua história
À Tituba e todas as mulheres levadas a morte pelo fogo ou privadas de sua sanidade, meu mais sincero pedido de perdão.
Conta a história que Tituba foi uma escrava de Barbados que vendida foi viver nos EUA, na aldeia de Salem, onde por uma histeria coletiva de umas meninas puritanas foi presa por bruxaria, todos sabem da história.
Maryse Condé nos apresenta a história da própria Tituba, seus pensamentos, sentimentos, tristezas e arrependimentos. É uma ficção, mas poderia não ser.
A história que Maryse nos conta, de forma tão tocante, passeia pela realidade do século 17, pela caça às bruxas, tendo reflexões sobre a figura da mulher, a força da natureza, a importância da religiosidade, sobre a escravidão de seres humanos, e deságua pelos sonhos rompidos e esperanças perdidas.
Em dado momento percebe-se o grito sufocado das inúmeras mulheres que por vilania, medo ou covardia dos homens passaram de mães, filhas, esposas à condição de nada, ao ponto de suas vidas serem motivo de escárnio social.
Jonh Índio, companheiro de Tituba, sempre dizia, importante para o escravo é sobreviver. Até hoje é o mais importante. Pois mudam-se as razões efêmeras da escravidão, mas não mudam os escravos humanos.
Tituba insistia em não devolver o mal com o mal, mas se manter verdadeira às suas origens onde curar, proteger e amar eram verbos bem conjugados.
Pelas letras de Maryse Condé damos não só voz a essa personagem corajosa e sobrevivente de seu tempo, mas a outras que foram massacradas por serem diferentes.
Insisto na ideia de sermos generosos como Tituba, que não se dobrou as insanidades e egoísmos dos ditos senhores do mundo.
O livro apresenta passagens sobre intolerância, seja pela cor da pele seja pela crença. As religiões e o racismo ainda hoje são divisores, motivos de separação e discórdia.
Por essa leitura sinto uma enorme vergonha de nossa espécie, dita racional!
Sejamos mais Tituba!
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Li como apoio o livro Calibã e a Bruxa, de Silvia Federic que trata de nos fazer enxergar que depois de mais de quinhentos anos ainda destruímos nossos sistemas reprodutivos e nós mulheres pagamos o preço mais alto pelo progresso de poucos.