João Pedro 11/02/2022Drama da consciênciaVou confessar: Shakespeare sempre fora da categoria de autores cuja obra nunca fiz questão de ler. Na minha cabeça, suas obras já foram tão amplamente reproduzidas e adaptadas que se tornaram uma espécie de senso comum. Então, sempre acreditei que ler Shakespeare não teria graça, pois seria como ler algo que já se conhece. Eu não poderia estar mais equivocado.
Ler “Hamlet”, ou “A tragédia de Hamlet: Príncipe da Dinamarca”, peça teatral escrita por William Shakespeare em fins do século XVI e publicada no início do século XVII, teve algo de catártico para mim. Ainda que eu já tivesse uma boa ideia do enredo da peça – que, nos últimos tempos, foi justamente o que me fez querer lê-la -, sigo impactado com o seu poder.
Hamlet, príncipe da Dinamarca, após um encontro inusitado com o fantasma de seu falecido pai (e então Rei da Dinamarca), engendra um plano de vingança para desmascarar o assassino do rei, plano esse que envolve a simulação de sua própria insanidade e a encenação de uma peça (uma peça dentro da peça!) para se reconstituir o momento da morte do rei. Só que Hamlet não contava com o rolar dos dados do destino, tampouco com uma inimiga tão invisível quanto mortal: sua própria consciência.
Nunca havia lido realmente uma peça de teatro. Apesar de inicialmente ter estranhado a indicação dos nomes das personagens em cada fala, logo me acostumei e senti como se estivesse mesmo em um espetáculo, vendo o castelo de Elsinore e suas imediações em um palco, com uma ambientação tão própria das peças de teatro, que guardam algo de onírico, por aparentarem se passar todas em um mesmo plano, mas ao mesmo tempo nos darem dimensões tão distintas em cada cena. As personagens, por menos linhas que possuam, são tão expressivas e vívidas que é difícil não se importar – ou se irritar – com Horácio, Ofélia, Polônio, Rei Cláudio, Rainha Gertrudes, dentre tantas outras, para não falar do próprio Hamlet – foi difícil para mim não se enfurecer um pouco com sua fingida loucura.
Por fim, fiquei muito feliz por ter iniciado minha leitura de Shakespeare por “Hamlet”, essa peça monumental. Assim que terminei, minha vontade foi de relê-la, principalmente após a excelente fortuna crítica da edição da Ubu, que conta com textos de Ivan Turguêniev, Barbara Heliodora, S. T. Coleridge, dentre outros, e que tanto me abriram os olhos e fizeram refletir sobre a magnitude da obra do Bardo. Para o “ser ou não ser” não tenho resposta, mas entre “ler ou não ler” Shakespeare, digo que não o ler não é uma sábia opção.