:: Sofia 03/07/2020NhéMinha experiência lendo "Hamlet" foi mediana.
O personagem principal é um pé no saco. Não gosto de pessoas donas da moral, vou gostar de personagens assim? Também, nenhuma das personagens secundárias é cativante. Outro elemento que me incomodou foi a falta de história de fundo delas, Hamlet, o juiz da moral, julga todos com base apenas no assassinato de seu pai, ex-rei. Não se pergunta se ele era um péssimo marido, um péssimo nobre, etc. Inclusive, a premissa das ações de Hamlet é o fato de que os pecados de seu pai não foram perdoados pela Igreja, antes de ele morrer. Então ele ignora tais pecados, que devem ser graves o suficiente para perturbar um fantasma "nas chamas mais quentes do inferno". Além disso, a peça teve em seu enredo muitos "Deus ex machina", um péssimo argumento textual.
Mas, então, como avaliei a experiência como mediana, se tudo que resenhei acima foi digno de uma nota ruim? É o seguinte, posso não gostar muito do enredo, porém, preciso admitir, o texto é LINDO.
O autor escreve de forma muito poética e rebuscada, entretanto, não parece forçado. Esta peça é fonte de várias citações famosas, e não é à toa, são muito legais: "O discurso patife dorme no ouvido do idiota"; "Há mais cousas no céu e na terra, Horácio, do que sonha tua filosofia"... Para suportar um texto tão denso de filosofia, devo ressaltar: a tradução de Millôr Fernandes é excepcional.
Na parte final do e-book, há um trecho em nota sobre o dramaturgo William Shakespeare que concordo parcialmente, sobre Hamlet : "Suas peças destacam-se pela grandeza poética da linguagem (ok), pela profundidade filosófica (ok) e pela complexa caracterização dos personagens (nhé, nem tanto)".
A peça é um baixo astral contínuo, por isso, não recomendo a leitura. Se quiser conhecer Shakespeare, leia “Sonho de uma noite de verão”!