O lápis do carpinteiro

O lápis do carpinteiro Manuel Rivas




Resenhas - O lápis do carpinteiro


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Stella F.. 05/08/2021

Boa surpresa!
O Lápis do Carpinteiro – Manuel Rivas

O pano de fundo deste livro é a Guerra Civil Espanhola, e não me lembrava de nada sobre esse evento histórico. Então fui pesquisar o assunto do livro, que fala de galegos e portugueses, Santiago de Compostela, Fronteira e General Franco, Galícia, Frente Popular. Adorei saber sobre todos os assuntos e pude embarcar no livro com mais interesse e entendimento.
O livro começa com um jornalista, Sousa, indo entrevistar Da Barca, um doutor que vivenciou toda a Guerra, além de ter sido um preso político. O jornalista fica admirado com a beleza da esposa do entrevistado, Marisa, e de como eram entrosados e ainda se amavam apesar da avançada idade.
E ficamos sabendo então do seu amor, da sua prisão, de seus amigos de prisão, do carcereiro e de todas as suas transferências e quase morte. Mas nada o desanimava. Adorava a vida, tinha sempre esperança, além de ser um ótimo contador de histórias, um ótimo médico, solidário, amigo e com tiradas inteligentes de humor.
Tinha um inimigo feroz, Herbal, que narra uma parte da história, em retrospecto a uma amiga, Maria da Visitação. Tudo começa quando a amiga o vê desenhando com um lápis de carpinteiro, e ele conta como aquele lápis foi parar em suas mãos. Herbal havia gostado de Marisa desde sempre, mas da Barca conquistou-a, e ele passou a detestá-lo e quando, por força da vida, tornou-se carcereiro, fez de tudo para infernizar a vida do inimigo. Mas, apesar das várias tentativas, inclusive, de duas tentativas de levá-lo à morte, nenhuma logrou muito efeito, apenas a última em que o transferiu para bem longe da amada, quando foi transferido para o presídio de La Coruña.
“Quem voltava da viagem à morte passava a fazer parte de uma ordem distinta da existência. Às vezes perdia o senso e a fala pelo caminho. Para os próprios “passeadores” tornava-se uma espécie de ser invisível, imune, que devia ser ignorado por um tempo, até que recuperasse sua natureza mortal”. (pg. 55)
Entre os vários amigos de prisão, o Pintor, terá um papel na história bastante interessante. Ele pinta um painel bíblico na Falcona, prisão em Santiago de Compostela, onde cada figura acaba sendo representada por cada um dos seus amigos de prisão. Mas o importante do Pintor, é que após ser “liberado” para a morte, Herbal herda seu lápis de carpinteiro, e também herda uma narração diária ao pé do ouvido, onde o morto fala com o carcereiro, e de alguma maneira o acalma, o direciona, esclarece fatos, que o fazem, bem no fundo daquela pessoa amarga, encontrar algo de bom, um alívio para sua vida tão ruim e sem esperança.
“O mar era a penumbra. Eu não queria pintá-lo. Queria que ouvissem-no como uma ladainha. Pintá-lo é impossível”. (pg. 74)
E uma das cenas que mais me emocionou, e que é de uma sensibilidade ímpar foi quando Da Barca junto com Gengis Khan, um dos prisioneiros, vão ao refeitório e o doutor faz uma simulação, uma hipnose no amigo, e o faz pensar que estão comendo uma comida diferenciada.
“Olhava para ele fixamente, prendendo-o na claraboia dos olhos, e alguma coisa estava acontecendo, pois Gengis Khan deixou de rir, vacilou por um momento, como se estivesse num lugar alto e sentisse vertigens, e depois ficou estático. O doutor Da Barca levantou-se, rodeou a mesa e fechou-lhe suavemente as pálpebras, como se fossem cortinas de renda”, (pg. 70)
Outro fato interessante é que na prisão política, havia tanto anarquistas quanto comunistas, e tornaram-se solidários contra Franco, contra os falangistas, que se diziam republicanos.
Um livro que me surpreendeu, cheio de poesia, solidariedade, esperança, amor, compaixão, e claro uma guerra política, autoritária, onde se julga que o outro ou a ideologia do outro é a errada. E “no primeiro de abril de 1939, Franco assinou a declaração de vitória”. (pg. 83)



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