Thalissa.Betineli 16/09/2019
Todas as cores da vida.
Conheci a escrita da autora pela trilogia Implacáveis, e me apaixonei. Inclusive, recomendo demais. Surpreendi-me com cada detalhe, cada desenvolvimento... E quando achei que não poderia ter mais surpresas, TUDO QUE POSSO VER é lançado.
A história é narrada através de Athos e Erika, dois protagonistas que possuem sua própria vida, suas próprias tragédias e histórias. É tão envolvente ver cada um separadamente, compreendê-los de uma maneira única, para então ver o primeiro encontro.
A leitura foi tão profunda, tão intensa, que passei horas sem perceber, estava mergulhada em cada página, em cada momento que me impactava de uma maneira diferente.
Como já sabemos pela sinopse, Erika tem tetracromatismo, e nunca tinha lido muito sobre ou visto algum livro que tratava do assunto. Para mim, isso me instigou e me conquistou na hora. A forma como a autora explorou essa condição foi espetacular. Vários momentos do livro, me peguei pausando a leitura e fechando os olhos, para imaginar exatamente a gama de cores narradas. Como seria o mundo visto através daqueles olhos? Quais seriam as sensações? A autora responde essas e outras tantas perguntas com uma habilidade única. Além de uma história, é conhecimento em uma forma simples e direta. Perfeita.
Erika não é uma mocinha que precisa ser salva. Não é frágil, muito menos insossa ou submissa. Ela tem voz no livro, ela carrega sua própria história, parte do livro, e nos apresenta um lado da vida burguesa depravada, triste... E amargurada.
Aprendi muito com essa personagem. Aprendi com seus medos, suas inseguranças, e sua força. Foi maravilhoso vê-la amadurecendo, saindo da sua própria bolha e nos mostrando o seu mundo interior. E Erika trouxe consigo outros personagens, como Théo, que nos conquista de imediato.
Olívia foi uma personagem marcante para mim. Mostrou a realidade do mal, a forma como a sociedade deturpada pode moldar uma pessoa. Com certeza, nunca esquecerei esses personagens.
E então... Temos Athos. Ele me arrebatou, me conquistou tanto, que muitas vezes me referia ao livro pelo nome do personagem... De tanto que sua presença é única. Ele, até então, tinha uma maneira preta e branca de ver o mundo, uma humanidade frágil, sofrida, crua e real. A sua luta para viver cada dia, para buscar uma maneira de encontrar felicidade, além de também levá-la para as pessoas... É surreal. É tão apaixonante, que cada palavra dita sobre ele, nos envolve, nos devora.
Fiquei muito chocada com a força que Athos carrega dentro de si. A dureza com que carrega o seu passado, que aos poucos é mostrado. Algumas cenas sobre ele me deixaram refletir sobre a nossa realidade, pois narra algo que acontece demais nos dias de hoje. É tão realista, que nos choca, nos faz sentar e pensar sobre a vida.
Athos não é só um personagem. É uma lição. É a realidade escondida no escuro que muitas vezes não vemos, ou evitamos ver.
Ele é doce e seco ao mesmo tempo, além de nos mostrar um personagem que a sociedade já aponta como “errado” por sua aparência cheia de tatuagens e piercings – e o desejo de provar de um que tem nas partes baixas?! Hahaha – já julga sem saber! E então, ele nos mostra o seu interior, uma essência tão pura, tão batalhadora, que busca o melhor do dia, o melhor da situação. Que tenta se reerguer e acreditar que o amanhã será melhor. Athos me roubou, já deu para perceber. Ele é muito real para mim. Suas particularidades, seus jeitos – seus gostos semelhantes aos meus – me deram uma visão tão realista e palpável que poderia sim, em algum lugar do mundo, existir um homem assim.
O livro trata várias temáticas nas entrelinhas, e algumas me deixam emocionada, me tocam de uma forma única, e por isso, são as que eu carrego para sempre no meu coração. Tudo o que posso ver não é diferente. Sua carga emocional é densa em alguns aspectos, contudo, inteiramente enriquecedora.
E se engane que é possível pular uma página que outra. Cada mínimo detalhe da história está lá por um motivo. A autora amarra todo o livro, nos surpreende e mostra com eficiência uma reviravolta de nos deixar de queixo caído.
Eros é um personagem que já digo que merece sua própria história, de tão incrível e singular que é esse homem! Tá aí o pedido viu!
E então... Temos Athos e Erika. Que bomba de química que é eles juntos. Eu ficava ansiosa a cada encontro, a cada conversa – era tão real, tão arrepiante, predestinado e ao mesmo tempo ao acaso – impossível definir a maneira como eles juntos, parecia criar vida própria e sair do livro. Eles são extremamente intensos juntos.
Foi lindo ver a história de cada um, dos dois juntos, e de tudo o que acontece – claro, não darei spoiler!
TUDO QUE POSSO VER é um livro emocionante, de arrancar suspiros e lágrimas, de nos fazer respirar fundo em algumas cenas, de desejar ter Athos junto ao nosso corpo em outras, e nos faz querer entrar na história para ver e viver.
Com essa leitura, podemos entender como cada pessoa pode estar travando uma luta interna sem que nunca saibamos, uma batalha embaixo da pele que esconde fragilidade e força. Em determinado momento do livro, Athos diz – o quanto somos fortes ou fracos quando lutamos contra nós mesmo? – Carregarei para o resto da vida essa lição, pois nunca sabemos a dor do outro. A profundidade da ferida que não cicatriza... Quantas pessoas não sofrem nesse exato momento, e não sabemos? Passamos por elas... E elas passam por outras que também lutam.
Tudo que posso ver é maravilhoso, profundo, impactante, me trouxe reflexões, me tirou da realidade, mostrou a ruindade humana, os traumas, os obstáculos e a força necessária para viver.
É sobre vida. É sobre luta.
E, acima de tudo, esse livro me fez sentir amor. Em todas as suas formas e cores.