Bela 15/02/2024
Intermitências
?Compreende-se facilmente, um pouco de imaginação bastará, que o posto de trabalho da morte seja porventura o mais monótono de todos quantos foram criados desde que, por exclusiva culpa de deus, caim matou a abel. Depois de tão deplorável acontecimento, que logo no princípio do mundo veio mostrar como é difícil viver em família, e até aos nossos dias, a cousa tinha vindo por aí fora, séculos, séculos e mais séculos, repetitiva, sem pausa, sem interrupções, sem soluções de continui-dade, diferente nas múltiplas formas de passar da vida à não-vida, mas no fundo sempre igual a si mesma porque sempre igual foi também o resultado. Na verdade, nunca se viu que não morresse quem tivesse de morrer.?
Esse é o segundo livro que leio do Saramago, muito motivada pela primeira leitura que foi O Homem Duplicado, da qual gostei muito. O mote de As Intermitências da Morte eu já conhecia pela fama do livro e do autor, mas o desenrolar da história não era o que eu esperava, superou minhas expectativas.
O que eu mais gostei da história é que ela parece ter sido escrita em duas partes: primeiro o acontecimento e suas consequências; depois a motivação da morte. Quando li a primeira página, não pensei em metade das complicações que a ausência da morte traria, e a cada uma que o autor incluiu na narrativa, eu ficava mais e mais interessada pela leitura. A construção da personagem morte também é incrível. A descrição varia entre rasa e profunda, sendo o suficiente para deixar a imaginação trabalhar.
A única coisa que eu não achei excelente foi o recurso utilizado para finalizar o livro, que achei muito similar ao de O Homem Duplicado. Mesmo assim, recomendo demais a leitura!