Izabella.BaldoAno 29/02/2024
"no dia seguinte ninguém morreu."
é bem assim que começa (e termina) essa narrativa: com um prenúncio de que a morte se fez ausente. sim, a morte, "em pessoa", resolveu suspender suas atividades. e, durante meses, ninguém morreu naquele país. quais podem ser as consequências da possibilidade de se viver para sempre? nossas estruturas sociais podem continuar a fazer sentido se não há morte?
como se não bastasse essa premissa, o enredo vai ganhando nessa história mais e mais ingredientes, as coisas vão crescendo, e, por mais irreal que possa parecer, essa sociedade onde as pessoas não têm mais a limitação - ou a liberdade - da morte vai ganhando cada vez mais nuances que a fazem comparável com muitos outros contextos sociais. a morte é aqui uma alegoria para falar de política, de religião, de comunidade, de família - e, quase um spoiler, até mesmo para falar de amor.
ao prestar mais atenção aos detalhes, até a escrita do livro, com parágrafos intermináveis, com uma pontuação que mal nos dá oportunidade de respirar, me pareceu ter uma relação muito importante com os acontecimentos narrados. a sutileza e o escrachado estão muito bem emaranhados em As Intermitências da Morte - que foi meu primeiro contato com Saramago.
já tô ansiosa pra ler mais dele!