Mortes em Derrapagem: Os Casos Corona e Cazuza no Discurso da Comunicação de Massa

Mortes em Derrapagem: Os Casos Corona e Cazuza no Discurso da Comunicação de Massa Antônio Fausto Neto




Resenhas - Mortes em Derrapagem: Os Casos Corona e Cazuza no Discurso da Comunicação de Massa


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Cássia 03/03/2010

As citações das revistas Contigo, Amiga e Semanário utilizadas pelo Fausto Neto neste ensaio podem deixar muita gente de cabelo em pé. Eu mesma fiquei. Mas depois parei para pensar que Cazuza foi o primeiro "olimpiano" brasileiro a assumir-se portador do vírus HIV numa época em que a AIDS ainda era uma novidade e quem tinha a síndrome era tratado como leproso.

Além das três revistas faits divers(dando mais ênfase às duas primeiras), Fausto Neto ainda analisou alguns dos principais jornais nacionais(O Globo, O Dia, O Fluminense...), precisamente, as edições que veicularam quando Lauro Corona morreu.

A derrapagem a que ele se refere hoje já pode ser extendida para quase todos os veículos de comunicação. Reside nos não-ditos, nos implícitos. Se você é jornalista deve ter um mínimo de bom senso para saber o que já é de conhecimento do público. Repudio essa máxima porque ela sempre nivela. E quase sempre por baixo. Mas no caso específico das faits divers analisadas pelo pesquisador, os implícitos figurariam como uma forma de escapar da inexorabilidade da morte. Isto, no caso da cobertura da doença de Corona. Corona que não admitiu ter AIDS. Claro que sempre eram lançadas dúvidas sobre as declarações do ator, dos médicos, da família, dos colegas e amigos, mas nunca se afirmava categoricamente que ele era portador do vírus. No máximo, isso era insinuado.

Cazuza que opta por publicizar sua condição de soropositivo é tratado pelas faits divers como um mártir, herói, guerreiro. É nesse contexto que surge a polêmica edição de Veja "sentenciando-o" à morte. Ela destoa de toda a cobertura sobre a doença de Cazuza. Porque, embora recebendo outros adjetivos, Cazuza, como "olimpiano" também "não poderia morrer". Também nas matérias relativas a Cazuza há uma não-aceitação da morte. As matérias que noticiaram sua morte evitavam até mesmo o uso da palavra.

Quem faz Jornalismo(e quem não faz) deveria ler este livro. Ele não faz uma defesa do campo midiático, mas insere discussões éticas e do "fazer jornalístico" muito pertinentes. Lidar com o simbólico, com o ideológico, não é fácil como muita gente pensa. Você sempre derrapa, como diz o Fausto Neto, porque os sentidos são múltiplos. E, mesmo que você queira, não há como ter domínio. Como diz Verón, "a gente não sabe o que faz quando está falando". O mesmo vale pra quando está escrevendo.
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