Lucas Muzel 04/11/2023HQ básica ou essencial?Essa edição sempre figura nas melhores posições de quase todos os rankings de melhores HQs do Batman. Acredito que Alan Moore tenha um pouco de razão em tratar a obra como não sendo tão primorosa, em comparação com outras obras do barbudo. O primeiro quadro da primeira página e o último quadro da última página são idênticos. Algo na mesma linha do álbum Dark Side of the Moon do Pink Floyd. As cenas de flashback e passadas no presente possuem um tipo de simetria dos elementos desenhados no último quadro e no primeiro quadro. Possui um tipo de ambiguidade com relação ao que ocorreu no final. Afinal, tem um tipo de teoria que o Coringa foi morto, e daí poderia vir o nome "Killing Joke". E isso se conectaria com a famigerada piada ("dois loucos..."), pois Batman e Coringa estariam em condições muito semelhantes, e James seria o único são na história. E isso também teria conexão com a fala inicial do Batman (na linha do "eu mataria você, ou você me mataria"), servindo como um tipo de profecia.
Acontece que isso não é algo inédito nas HQs do Moore. Um Pequeno Assassinato tem uma estrutura semelhante, com vários temas que se repetem e ressoam em quase toda a história. E nesse caso ainda tem a inovação da história ser contada tendo como base uma linha do tempo cronologicamente invertida. Tem também uma história do Monstro do Pântano onde é feito um duplo sentido com a palavra "Incorporação".
Em termos de Batman, aí sim que a história tem poucos paralelos. E, para a época, foi chocante. Fez com que os futuros artistas se focassem na violência, brutalidade e realismo na hora de contar as histórias. Pois era apenas isso que tornariam as HQs "coisa de adulto". E mais músculos. Mais armas. Mais ranger de dentes. Mais porradaria. Mais capas metalizadas.
Outro fator que destaca essa revista é a arte do Bolland. Essa sim tem poucos paralelos. Soube interpretar bem o roteiro verborrágico do Moore.
Quanto à colorização, eu prefiro mais a original. Ela tinha uma maneira de complementar a história através de escolhas e tons de cores. Dava para notar que era um artista que tentou colaborar da melhor maneira que pode. A nova colorização é feita pelo Bolland. E nesse caso, parece que todo o filtro foi reduzido. Como se o artista quisesse que apenas a sua arte se destacasse. Ou como o Scarface conversando com o Ventríloquo. Parecem dois papéis distintos, mas na prática é uma coisa só.
Quanto mais reimpressões tem a Piada Mortal, mais material arranjam, para dar uma "engordada" no material, para tentar justificar a capa dura (e o preço mais alto). Uma delas é Batman #1, com a estreia do Coringa. Talvez fosse mais apropriada a publicação de Detective Comics #168, com a revelação de que o Coringa era o Capuz Vermelho.
Como ainda era necessário mais material para deixar tudo com mais cara de "luxo", colocaram uma história do Bolland que apareceu em Batman Preto & Branco. A novidade nesse caso é que a história ganhou cores, pelo próprio artista.