Ver Sobreira 04/02/2012
Papel Manteiga para Embrulhar Segredos
Sinopse
Este Papel-manteiga não forra as formas, sequer se deixa descansar nela a cobertura do bombom. Este papiro é compatível com a língua, a física e a falada, pode-se embrulhar nele sabores factíveis e ficcionais.
Livros que receitam são tão íntimos quanto o amor.
Receitas são letras e não o bolo em si, a bandeja. Porque palavras se transformam em bolo se você quiser. Eis um romance permeado por receitas até para quem não tem fogão. Cozinhe e faça a sesta, uma vez que as cartas/capítulos deste romance levam o leitor ao sombreiro que a boa literatura traz aos bons pratos.
Ingredientes unidos por Tatiana Damberg, em alquímica sabedoria, encontram seu cozimento nas graças de Cristiane Lisbôa, que faz literatura até com miolo de pão.
A forma como se escolhe ingredientes, como se perfuma as panelas e se deixa cozer as carnes foi, é, e sempre será misteriosa para quem a faz, imagine para quem a lê. Tem em mãos um romance epistolar, receitas solares e madrigais. Alcance uma poltrona e dispense o guardanapo. Ninguém está olhando.
Andréa del Fuego
Este é meu segundo livro do DL-2012, e é um dos livros mais curiosos que já li em minha vida. Cristiane Lisbôa, com a ajuda de Tatiane Damberg, autora do outro livro que li e segundo ela mesma é gastrônoma por vocação, dá vida as receitas que complementam e dão força as palavras das cartas escritas pela personagem Antônia para sua bisavó.
A sinopse não é uma sinopse, é a orelha do livro feita por Andréa del Fuego, – escritora brasileira vencedora do Prêmio José Saramago 2011 – e ela dá um breve tom do que encontraremos neste livro. Reunindo cartas e receitas espetaculares Papel manteiga para embrulhar segredos é um convite a se deliciar tanto com a leitura, bem como as receitas. Por quê? Porque nas cartas encontramos as angústias, limitações, frustrações, alegrias e descobertas da personagem Antônia. E nas receitas? Só falta realizá-las.
Não sabemos em que lugar ela esta, mas pelas descrições parece ser um pequeno povoado em algum cantinho da Europa ou não, em qualquer lugar do mapa como a personagem relata. A cada nova receita aprendida, a personagem escreve uma carta para sua bisavó que parece saber e entender a decisão dela de se afastar de todos e temos também a senhorita Virgínia que é responsável por manter Antônia com o "pé na realidade".
Ao longo do livro, que é mais composto de receitas salgadas ou cartas salgadas do que doces, e talvez esteja refletindo o estado de ânimo de Antônia, ela vai superando algo ruim que está dentro dela. Sempre em contato com a bisavó aos poucos descobre, quem sabe, um mundo desconhecido através das "cartas culinárias".
O livro é interessantíssimo. Mais uma vez demonstra a relação do ser humano com a comida, e que a mesma transparece o nosso estado de espírito. É um livro de receita para a felicidade, mas principalmente uma ficção literária das melhores. A personagem redescobre a si mesmo e também pode ser o mesmo para nós. Cristiane Lisbôa fez um trabalho primoroso de ficção!? ou de auto-reflexão, não temos como saber.
Por fim com afirmar Andréa del Fuego, (...) Alcance uma poltrona e dispense o guardanapo. Ninguém está olhando(...), pois as receitas são de babar ou como diz a sabedoria popular de comer rezando, e as cartas de Antônia uma revelação da personalidade humana.