Portal Caneca 07/12/2014
Não esperava absolutamente nada ao começar a série “A Caverna de Cristais”. A sinopse nos apresentava mais uma fantasia medieval, como muitas outras no mercado, e não muito mais do que isso.
Já no primeiro livro da série, eu fui comprado pela história. As primeiras aventuras de Thomas, Erin e William me conquistaram numa narrativa fluida e muito bem localizada, e A Aliança dos Povos é uma evolução completa do primeiro livro, tão similar e, ao mesmo tempo, imensamente diferente do seu antecessor.
A primeira mudança drástica do livro vem na passagem do reino medieval, apresentado em O Arqueiro e a Feiticeira, para um universo mergulhado na ficção-científica. Somos apresentados a inúmeros planetas e povos, todos diferentes e com suas próprias características. Gaia é um espetáculo, nos lembrando de grandes cidades de sagas como Star Wars e Star Trek, englobando várias raças unidas sob uma grande cidade, uma NY da galáxia.
E as referências não param por aí, o livro explora muito bem tudo que a cultura pop tem para nos mostrar. O personagem de William é o nosso guia no mundo, apresentando casas de show alienígenas onde se toca Guns n’ Roses, um grupo de refugiados que nos lembra a aliança rebelde de Star Wars, e o próprio treino que os irmãos William e Thomas recebem nos lembra muito o que jedis podem fazer.
Com toda essa cultura inserida, Helena Gomes ainda consegue nos presentear com uma história bem completa, original em sua essência. A jornada dos heróis nos mostra personagens bem profundos e cheios de defeitos. As brigas entre os irmãos e as suas dúvidas e medos move boa parte da narrativa, além de tornar muito mais fácil aceitar e se relacionar com tais personagens. William, apesar de não ser o grande protagonista, é um dos personagens (se não o personagem) mais complexos da saga, com marcas muito profundas em sua construção.
Dando forma a tudo isso, temos a bela escrita da autora. Desde o primeiro livro, vemos um trabalho excepcional em demonstrar a idade média, tanto na linguagem quanto nos costumes dos personagens, e quando a história vai para os outros mundos, temos uma evolução da mesma. Personagens vindo de mundos mais tecnológicos e atuais falam de forma muito mais informal e solta, contrastando com o que vemos na Britânia. E o contraste aparece muito bem nos personagens principais. Erin é uma das que mais apresenta mudanças neste sentido, absorvendo tudo que aprende para se tornar mais complexa, juntando o que os dois mundos podem lhe oferecer.
O livro desliza em alguns momentos, a grande vilã Mudu-za apresenta uma grande ameaça durante boa parte da história, mas no final soa muito mais frágil do que deveria. Além disso, todo o último ato do livro parece mais acelerado às vezes, causando uma estranheza quando comparado com o resto do livro. Há também alguns pequenos problemas em certas passagens, onde há um excesso de informações e ideias jogadas nas páginas, como viagem no tempo, mesmo que faça sentido estar presente ali.
Contudo, o saldo continua sendo extremamente positivo. A Aliança dos Povos dá um final digno para as aventuras de William, Erin, Shannon, Thomas e tantos outros personagens memoráveis. É simples em sua essência, e as inúmeras referências a filmes, séries e livros farão com que sua leitura seja extremamente amigável. No final parece que você está vendo todos os seus personagens/personalidades favoritos da cultura, como Arthur, Tolkien, Sherlock, Luke, Vader, Spock e tantos outros juntos em uma grande e original aventura, uma aventura que você acaba torcendo para que nunca acabe, como todo bom livro faz com você.
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