Coruja 01/10/2015Bradbury está faz muuuuuuuito tempo na minha lista – muita gente boa indica, entre amigos que compartilham muitos dos meus gostos literários a autores favoritos (sim, é o Gaiman). Por um motivo ou outro, ia adiando esse encontro e não tenho outra desculpa além do fato de que havia quase uma centena de livros na estante para ler antes.
Como ele não estava como prioridade para compras, terminou que só consertei minha falta quando Algo Sinistro Vem Por Aí e A Árvore do Halloween apareceram para troca. Considerando que outubro é o mês das bruxas, nada mais justo, portanto, que fale deles agora.
Comecei com Algo Sinistro Vem Por Aí porque lembro de ter lido, muito tempo atrás, uma citação dele sobre as ‘pessoas do outono’ – e essas palavras fizeram algo ressoar em mim, permanecendo na minha memória mesmo sem entender o contexto delas.
Essa é uma história sobre crescimento e memória, sobre o potencial que temos para o bem e o mal, sobre tempo e amizade. O enredo começa pela curiosidade de dois garotos amigos desde a primeira infância – William e Jim, que nasceram com poucos minutos de diferença exatamente nos fins de outubro – quando o misterioso Circo do Senhor Dark surge e, posteriormente, segue pelos os esforços de William e seu pai, Charles, para salvar Jim e toda a cidade de um destino bastante sombrio.
Os garotos anseiam pela vida adulta e o pai os observa com nostalgia por sua própria juventude. Normalmente histórias a chegada da maturidade passam por uma ruptura entre o jovem e sua figura mentora (pais ou guardiães), mas os respectivos desejos dos personagens fazem com que eles se encontrem ‘no meio do caminho’. William e Jim têm de aceitar certas responsabilidades e Charles embarca numa grande aventura e se torna um herói.
"- Pai - perguntou Will, a voz bem fraca. - O senhor é uma boa pessoa?
- Para você e para sua mãe, sim, eu tento ser. Mas nenhum homem é um herói para si mesmo. Vivi uma vida inteira comigo, Will. Eu sei tudo o que vale a pena saber sobre mim mesmo..."
O título tem várias camadas de significado e é perfeito para o livro. A primeira lembrança que vem à mente, claro, são as bruxas de Macbeth, o que faz muito sentido, considerando que a profecia das bruxas liberta o potencial de rei escocês para a maldade. Tendo nascido às vésperas do dia das bruxas, William conservaria um aspecto de luminosidade, enquanto Jim, que nasceu nos primeiros segundos do Halloween é mais facilmente seduzido pela lábia do Senhor Dark. Muito antes da chegada do circo, no calar da noite, o nascimento dos dois jovens já prenuncia seus desafios.
Bradbury tem uma linguagem surpreendentemente poética, evocativa – a despeito do horror que está no âmago dessa história, especialmente no que o carrossel maldito representa, transformando sonhos em pesadelos e alimentando o circo com o medo das pessoas. A forma como ele descreve lugares e pessoas nos transporta numa experiência quase sinestésica – de ouvir o vento levando as folhas outonais, o cheiro dos livros na biblioteca, os primeiros toques do inverno.
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