Tati Iegoroff (Blog das Tatianices) 31/03/2021Um monólogo surpreendente e divertidoNovecento foi uma grata surpresa para mim!
Longe de ser chata, a narrativa traz trechos engraçados e reflexivos, além de surpreender o leitor em diversos pontos.
A história se passa em um navio, o que por si só já poderia ser bem diferente. E não se trata de um navio qualquer, mas um a vapor, que no período entre guerras transportava milhares de imigrantes para a “América” (isto é, para os Estados Unidos, mas também para o Brasil).
E o navio, como tantos naquele período, transportava pessoas muito ricas e pessoas muito pobres. Evidentemente, cada classe viajava de uma forma, mas todos sobre o mesmo navio. E foi assim que, um belo dia, a equipe do navio encontrou um bebê abandonado ali. Dentre as opções que tinham, acabaram por adotar o tal garoto, o protagonista deste livro, dando-lhe o nome de Danny Boodmann T. D. Lemon Novecento.
Mas o nome não é a única peculiaridade deste personagem. Tendo nascido e crescido em um barco, Novecento nunca levou uma vida muito normal, nunca frequentou uma escola. Porém, acima de tudo isso: perante a lei, Novecento sequer existia! (não que ele se importasse muito com isso…).
Apesar de nunca ter frequentado uma escola formal, Novecento aprendeu muito observando e vivendo. Como o próprio narrador ressalta em vários momentos, estando num navio como aquele, Novecento tinha contato com muitas pessoas e podia, através disso, conhecer o mundo, principalmente aquele não conhecia por si mesmo.
Além disso, Novecento crescendo principalmente entre os músicos do navio, tornou-se um grande pianista. O melhor, aliás.
Para além do fato de não existir perante a lei — o que nos faz refletir muito sobre identidade — outro grande conflito da história está no fato de Novecento nunca ter pisado em terra firme e continuar querendo viver assim, mesmo quando já não parecia mais possível.
Eu gostei muito do desenrolar dessa história, e também do final dela. Um livro daqueles que fica ecoando em nós e que quando terminamos temos vontade de soltar um sonoro “uau”. Certamente valeu a pena tê-lo enfrentado e conhecido.
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