Tiago Doreia 06/04/2023EsplêndidoO narrador, Paul Edgecomb, é um personagem interessante, que em diversos momentos da trama mostra parcimônia, altamente exigida na profissão dele. Tal fato ficou bem demonstrado em inúmeras vezes em que ele quis falar algo, mas pensou melhor, e por fim, ficou calado. E esse aprendizado podemos levar pra vida, em pensar um pouco antes de falar, e por vezes chegaremos à conclusão de que é melhor não falar nada.
Uma narrativa de menor dimensões, sem muita extravagância, que se passa em dois tempos: o momento atual, no qual o narrador já é idoso em uma casa de repouso e o tempo do livro que ele está escrevendo, que se passa em 1932, dentro do famoso bloco E da penitenciária de Cold Mountain.
A obra fala muito sobre os sentimento e energias que são trocadas diariamente entre os agentes penitenciários e os detentos, e entre si também. Num ambiente de grande carga emocional, onde o clima de tensão está presente em praticamente todos os minutos do dia.
Um elemento bem característico de King é a repetição de termos ou frases presentes ao longo do livro, que são de fatos e/ou acontecimentos da história.
A maneira como o autor te faz se identificar por John Coffeey é algo surreal. Não me lembro de ter torcido por algum outro personagem de King, como torci por esse.
A qualidade na criação de personagem de King é maravilhosa, na qual Paul torna-se efetivamente uma pessoa contando uma história de sua vida, sendo humana até na presença de alguns anacronismos possivelmente cometidos e admitidos por ele próprio em algumas observações. Esse toque sútil faz total diferença na experiência de quem tá lendo.
As cenas finais são dilacerantes, onde King usa seu poder descritivo para te colocar dentro daquela sala, dentro daquele ônibus. Onde cada sentimento e sensação vivida por cada personagem ali presente é vivenciada ao extremo. Stephen King mostra nessa obra como é um escritor esplendoroso, e não só restrito ao terror.
Experiência incrível!