Mariana 02/06/2024
Não existe verdade, não existe história...
Orwell traz nessa brilhante história como um Estado autoritário mantém o seu poder, numa distopia que intercala o passado, presente e futuro de uma forma que somente este autor pode fazer. A representação da sociedade, do governo e dos métodos utilizados pelo Estado é, de uma forma inquietante, muito parecida com características que observamos no nosso mundo atual.
Para mim, é isso que faz de uma distopia uma boa distopia: a capacidade de se entrelaçar com a realidade.
Dentre todos os aspectos que Orwell acerta em cheio, o que mais me chama a atenção por sua semelhança com nossa realidade atual é a ideia de uma pós verdade. No livro, não existe história, não existe verdade, pois tudo é fruto de uma grande rede que arquiteta aquilo em que as pessoas devem acreditar ou lembrar. Os fatos - inclusive os históricos - são modificados ao bel-prazer do Estado.
Observamos hoje uma situação parecida. Para além do fato de sermos vigiados o tempo todo, não pelo Estado, mas pelo mercado, através das grandes empresas de tecnologia, que monitoram nossos padrões de comportamento, a internet tem mostrado uma forma um tanto quanto sinistra de lidarmos com fatos e notícias.
A realidade do que acontece ou aconteceu não importa mais, mas sim quem consegue elaborar o melhor discurso nas redes. Importa quem consiga gerar o maior alcance e convencer o maior número de pessoas, mesmo que o seja dito esteja totalmente descolado da realidade em si.
Me pergunto, o que George Orwell pensaria dessas relações atuais?