Henrique 04/02/2010
1984 - O livro onde a história parou
Winston chega no bairro dos proles. Seu objetivo? Achar alguém tão velho que consiga se lembrar como era antes do Partido, como eram as coisas antes, ele quer saber como era o passado. Por que ele quer isso? Porque não acredita no presente. Winston se decepciona, afinal, o Partido apagou o passado
E esse pensamento define bem 1984, obra-prima de George Orwell que serve para avisar às gerações seguintes o perigo do totalitarismo. Mais que isso, ele serve para ensinar a todos a importância do raciocínio histórico. E faz isso de maneira espetacular justamente por ser o livro onde a história da humanidade parou. Onde o homem não produz mais cultura, onde a individualidade foi de tal forma reprimida que não existe como inventar coisas novas. O mundo de 1984 está eternamente preso em 1984.
Poucos livros que eu tenha lido contém uma quantidade tão grande de idéias das quais eu peguei para levar comigo no dia a dia. Orwell é especialmente habilidoso em abrir a mente para a ameaça do mau uso da linguagem quando usada para manipular um povo, para diminuir sua capacidade de interpretação da realidade e de se tornar menos critico de seu cotidiano. Além disso, cria novas palavras que representam conceitos criados especificamente para assassinar o livre pensamento, para subjugar.
Seus personagens são até hoje apreciados e dezenas de símbolos presente no livro tornaram-se referenciados em dezenas de obras posteriores. Maior exemplo disso é o ditador da Oceania, que atende pelo nome de Grande Irmão - nunca visto, nunca ouvido, nunca contestado abertamente -, sua figura está lá apenas para ser amada e referenciada, ela que deixa verossímil as declarações ilógicas do Partido, ela é a "corporificação" do mesmo. E ainda existe Goldstein, que é a antítese do Grande Irmão, mas ainda sim é apenas mais uma ferramenta do Partido. Goldstein existe para ser odiado, para ser abertamente odiado. Assim, as pessoas em 1984 tem o que precisam: um mentor, forte, inteligente, como um pai, protetor, que os ama; e um traidor para dirigir seu ódio.
1984 é um livro perturbador. Tanto por ser distópico, como por possuir uma premissa ligeiramente kafkana. O arco da história serve para provar um ponto, não para resolver o conflito. Cada elemento colocado lá é um aviso: a sala 101, o duplipensar, o amor ao poder, a busca pelo passado e o sexo em forma de protesto. Orwell é mestre em surpreender, mas em 1984 ele também é mestre em perturbar.
O stalinismo pode ter acabado, mas o livro ainda serve para apresentar às novas gerações o perigo do totalitarismo, dos super-poderosos, do povo eternamente passivo e da manipulação histórica.
Ps.: Sabe, eu fico pensando, será que a teletela sempre esteve lá?