Uma História de Deus

Uma História de Deus Karen Armstrong




Resenhas - Uma História de Deus


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Raphael 10/10/2021

Autoridade em assuntos religiosos, Karen Armstrong apresenta, aqui, um grande panorama sobre tudo que foi produzido na mente humana para conceber o Deus das três grandes religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Há um capítulo para investigar a identidade de Deus sob a ética de cada uma dessas religiões, além de ser abordado, também, o deus dos filósofos, dos místicos e a concepção de Deus construída no iluminismo.

Sobre Jesus, em particular, ele alguma vez se proclamou ser divino? Os estudiosos em assuntos bíblicos dizem que não. No máximo ele disse que era “filho do homem” e isso não equivale a atribuir-se uma natureza divina. No mais, a autora concluiu que não há uma visão objetiva sobre Deus: cada geração tem de criar a imagem que funciona melhor para ela. Disso decorre as diversas concepções do divino abrangidas na obra.

É estudado, ainda, o deus anterior ao judaísmo das religiões pagãs que tinha um caráter regionalista e que certamente influenciou na concepção do deus judaico de Israel, o que veio a ser modificado por Jesus e Paulo que trouxeram uma ideia universal de salvação. A autora menciona, ademais, como Platão e o ‘mundo das ideias’ foram cruciais para o desenvolvimento das religiões monoteístas.

Prosseguindo, me identifiquei bastante com a concepção subjetiva de Deus: “(...)Deus não vem ao homem opressivamente, mas de acordo com a capacidade humana de recebê-lo. Essa conclusão implica que Deus não pode ser descrito numa fórmula, como se fosse o mesmo para todos. É uma experiência essencialmente subjetiva. Qualquer doutrina limitaria o mistério essencial de Deus que é absolutamente incompreensível”.

Por fim, reputo interessante a concepção de Deus como sendo o absoluto. Isso retira de Deus atributos morais como bom ou mau. O mal, propriamente, decorre do moralismo humano. Deus está além do bem e do mal. O mal existe no mundo, pois ele também é uma expressão do absoluto. Mais ou menos parecida seria a concepção de deus do filósofo Spinoza que equivale ao próprio mecanismo de funcionamento da natureza e se confunde, também, com o todo.
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BetoOliveira_autor 14/04/2020

Leitura obrigatória para ateus
Primeiramente, a experiência da leitura foi muito agradável. Em última instância, trata da evolução do pensamento humano, cujo tempo o tornou mais exigente, mais astuto, de modo que as intocáveis "grandes verdades" ou, no caso das religiões monoteístas, a única verdade, sofreram grandes abalos em suas concepções fantásticas, e de promessas nunca concretizadas e de valores excelsos ofuscados pela hipocrisia de quem os arvora possuir , mas não os pratica.
No âmbito das religiões, essas discussões sempre foram acirradas e calorosas. Muitas vezes, os adeptos de uma teologia minoritária eram até expulsos da vida eclesial, excomungados, além de executados à morte. Mas quem pode com o espírito curioso e indagador?
Pelo que pude concluir, a religião menos tolerável ao pensamento divergente e à ciência foi o cristianismo. A obra mostra vários momentos de convivência pacífica entre judeus e muçulmanos, mas quando o cristianismo chegava dominando, a convivência se transformava em imposição de uma verdade única. O episódio histórico que se deu na península ibérica é bem ilustrativo, além, é claro, da própria Inquisição.
Gostei muito também de conhecer sobre a história do Maomé, fundador do islamismo, com nítida inspiração na vida humilde e comunitária pregada por Jesus. E também foi agradável conhecer a riqueza mística dos judeus.
Enfim, como bem disse a autora, a religião, a fé, é como as impressões quase infesvriveis que temos diante de uma poesia ou de uma obra de arte. É um fato que órbita no âmbito da profunda subjetividade de cada um. Segundo a autora, ombreada por milhares de estudiosos que ela cita no decorrer do livro, é impossível descortinar a fé, o sentimento de pertencer a algo maior e latente, sob a objetiva ótica da ciência.
O que me marcou foi uma frase do Einstein citada na obra:

"o misticismo é o semeador de toda arte e de toda ciência verdadeiras."

No final, a autora reconhece o desvirtuamento da religião, que passou a ser ferramenta de alienação e exploração, desde há muito, é verdade. Atualmente, se afastou de vez do ideal comunitário, fraternal.
Sugere um resgate da essência, e encerra com um belo poema,

o Tordo do Crepúsculo, de Thomas Hardy

Não se se há volta. Talvez aqueles sagrados valores, agora dentro do contexto dos direitos humanos, devam ser fortemente prestigiados com uma roupagem educacional, em que a espiritualidade seja um direito subjetivo do indivíduo, mas longe das superstições, que alimenta o preconceito e a ignorância.
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