Caio.Henrique 13/03/2021
My breath become yours
Mais uma vez Brandon nos entrega uma obra daquelas para passar meses relembrando cada momento emocionante. Um mundo construído com maestria (ainda que não se trate de uma série), personagens carismáticos e um sistema de magia inventivo são o conjunto que faz as obras desse autor tão cativantes, e com Warbreaker não poderia ser diferente.
Ao meu ver, não há maneira melhor de começar a falar desse livro que não por seu sistema de magia. Sendo um leitor com certa experiência em Sanderson, foi uma surpresa ver que aqui a magia não é usada como instrumento de combate durante boa parte do livro, como ocorre em Mistborn. Aqui, BioChromatic Breath é antes de mais nada um produto crucial para a economia de um dos reinos envolvidos na trama, enquanto que para o outro se trata de algo sagrado e incorruptível, e é interessante observar pontos de vista tão distintos e com argumentos plausíveis. A importância do Breath é tanta que chega a definir a posição social de um indivíduo e a forma que ele enxerga o mundo (literalmente). Sem entrar em detalhes para evitar spoilers, é seguro dizer que aqui temos o sistema mágico mais intrigante feito por Sanderson até o momento, pois possui um grande número de regras, aspectos e detalhes criativos que não são entregues de pronto ao leitor.
Assim como em Elantris, a narrativa aqui é focada em dois reinos à beira da guerra. A novidade é acompanhar nossas protagonistas lutando a seu modo para sobreviver nas terras do inimigo, além de seguirmos os passos de um personagem considerado um deus para seu povo, mas que nem de longe é como imaginamos que uma divindade seja. Além disso, há um homem com motivações misteriosas e cujas ações são difíceis de prever ou compreender dentro do panorama geral da narrativa.
Falando na divindade peculiar citada acima, esse aspecto da história me chamou bastante atenção. Enquanto em Elantris tínhamos deuses cujos poderes apenas não funcionavam, no reino de Hallandren temos seres que nunca possuíram grandes habilidades para moldar o mundo ao seu redor, mas fazem algo que nenhum outro pode: realizar profecias e aconselhar os súditos com base nelas. Tal forma de representar um panteão para mim foi uma decisão narrativa interessante, já que trata-se de um mundo em que os mortais podem possuir habilidades sobre-humanas. Logo, a concepção do que seria um ser divino não é a mesma que na maioria das ficções que estamos habituados.
Em se tratando dos personagens, não é novidade saber que todos são muito bem trabalhados e desenvolvidos, ainda que existam destaques. Siri e Lightsong são de longe meus favoritos, e creio que da maioria dos leitores. Meu único problema foi com Vivenna, cuja personalidade no início me fez apreciá-la um pouco menos, ainda que sua evolução seja ótima de acompanhar. Destaque também para os diálogos entre Lightsong e Blushweaver, sempre muito mordazes e carregados de ironia, cuja estrutura era um deleite de ler (falo isso como um estudante da língua inglesa haha), além das interações entre Denth e Tonk Fah, com seu humor ácido e piadas de mercenário.
Em suma, não esperava algo diferente de um livro do Sanderson: o autor entrega mistério, ação, política, religião e romance na medida certa. Com reviravoltas espetaculares e resoluções que te deixam refletindo sobre cada indício dado ao longo da trama, e como tudo se encaixa de forma imprevisível mas coerente, sem dúvidas esse é mais um favorito da vida.