O mal-estar na cultura

O mal-estar na cultura Sigmund Freud




Resenhas - O mal-estar na cultura


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Carlos 28/12/2016

O Descompasso produzido na cultura
Freud inicia seu texto dizendo sobre a hipótese de um amigo acerca do sentimento oceânico que a religião produziria nos seres humanos, da qual ligaria o ser humano do ponto de vista do seu Ego ao mundo exterior, do qual ele já fez parte quando era uma criança recém nascida. Dessa maneira, Freud utiliza o Ego e o mundo exterior como dois pontos principais da sua análise sobre o mal estar da cultura.
Freud veio explicando a “origem” daquele sentimento, que ele categorizou como “sentimento oceânico”. Tal sentimento, para Freud, faz parte do Ego primitivo, quando o Ego era uma completude do mundo externo. Nisto, Freud exemplifica mostrando como o bebê lactante não diferencia seu Ego do mundo externo, tal fato só acontece mais adiante (O seio materno firma – ou reproduz traços intrauterinos – esta completude). Posteriormente, no entanto, o bebê percebe que suas sensações acontecem com determinadas ações, e que estas ações resultam em determinadas sensações – como o caso do choro para trazer o alimento, que no caso é o leite materno.
Neste viés, o sujeito percebe que há a falta de algo que outrora tinha, e o que figura-se como principal é a sua fuga do desprazer e sua ida ao prazer. Aqui entra o Princípio do prazer, que será o principal para esta função. Como o sujeito percebe que é impossível o prazer sem intermediação, e que seu desprazer nunca será totalmente saciado, uma vez que pode ser provocado por sensações internas, entra aqui o Princípio de realidade, que distinguirá elementos externos do interno. Aqui o Ego se separa do mundo externo. O que nosso Ego sente hoje é apenas um resíduo de um “sentimento de completude”, protagonista do nosso Ego primitivo e da nossa ligação com o mundo externo.
Desta forma, Freud vai dizer mais a frente sobre que esse sentimento continua nas profundezas do nosso psiquismo, e que pode se reavivado. De fato, a religião, em si, busca ligar o sujeito a esse sentimento, com a promessa que um dia, tal falta será recompensada. E que lá, no Paraíso, o ego se associará novamente ao mundo externo. Como essa promessa é para uma vida posterior, perfeita, no cotidiano impera quase o contrário disso. Como aqui na Terra falta a perfeição que há lá no paraíso, devido aos problemas de modernidade, pelos problemas da vida, como dores, decepções, e também o desprazer por sensações internas – como a impossibilidade de reviver o sentimento de completude – Freud vai dizer que os sujeitos usam paliativos para “amenizar” o sofrer. Esses paliativos, categorizados como 3 principais, seriam as poderosas diversões, que em si é autoexplicativa; as gratificações substitutivas, que são ilusões, que não são menos eficazes, graças ao papel da fantasia na vida psíquica; e as substâncias inebriantes, que mudam a química do corpo.
Voltando para a religião, Freud vai dizer que esta se esforça para dar um sentido para vida, para responder o motivo de estarmos aqui. Freud não diz que há um motivo em si, mas diz que a busca humana na vida é uma busca à felicidade. O ser humano quer estar feliz, AFASTANDO DE SI A INFELICIDADE. ESSE SERIA O FIM PARA TODOS OS SERES HUMANOS: permanecerem sempre felizes. Dois lados são centrais nessa busca: sendo um a busca por fortes doses de felicidade e a outra na fuga do desprazer. A atividade humana busca sobretudo a primeira. Aqui entra o princípio do prazer, que é o principal nessa atividade, onde se estabelece esse sentido da vida.
Mas o mundo externo, tal como é, não corresponde as expectativas do princípio do prazer, gerando um desconforto imenso na vida psíquica. Seu programa está em desacordo tanto com o externo como com o interno. Assim, a fuga da infelicidade se torna menos difícil do que o primeiro. O sofrer ameaça em três dimensões: pelo corpo, pelas relações e pelo mundo externo. Com isso, o ser humano se integra a sua realidade, figurando agora o princípio de realidade, que vai administrar esses problemas. Freud vai nos mostrar alguns métodos de tentativa de fuga a infelicidade.
Como resumo final, há um descompasso entre os projetos culturais e os instintos humanos, provocando essa culpa. O Sujeito troca a liberdade de satisfazer seus instintos pela promessa de segurança na vida em cultura. E essa segurança, no entanto, não traz a felicidade desejável, uma vez que para a cultura se estabelecer como tal, ele precisa fazer restrições aos indivíduos, indo diretamente aos seus instintos. A cultura assegura que o pai primitivo não mais usará sua força desmedida e arbitrária contra seus filhos. E seus filhos, que usaram de tal agressividade com o pai, para assegurar que isso não mais aconteceria, estabelecem normas de convívio. Embora fosse preciso a utilização de tal agressão, os filhos amavam o pai. E o sentimento de culpa reina nestes filhos, que agora são apenas irmãos. Como estes não podem mais usar sua “força bruta”, essa agressividade é internalizada, transformando-se num superego. Esse superego é a internalização da autoridade; ele produz o efeito de culpa a partir do seu conflito com os desejos do ego. Tudo isto pela troca que a cultura impõe, gerando um sentimento de angústia, ou consciência da angústia, ora revelada, ora inconsciente. De certa forma, sempre haverá a falta, ou o descompasso, como se algo estivesse sempre errado.
Thiago.Eduardo 07/02/2018minha estante
Uau que maravilha, isso me instigou a querer excelente resenha amei...


Carlos 17/05/2018minha estante
Que bom, Thiago! Fico muito feliz que eu tenha proporcionado essa ação em você! Leia sim e volte para resenhar e debater os pontos que eu deixei passar e as eventuais falhas dessa minha análise. Será extremamente construtivo! Um abração!




bucof 05/02/2024

Repressão de impulsos
Freud nesse livro fala sobre vários assuntos, um deles é uma crítica a religião e ao sentimento que ele denomina como "oceânico", mas no livro ele foca bastante entre a dicotomia entre indivíduo e sociedade e onde os impulsos sexuais e agressivos são reprimidos pela civilização e por isso causam mal estar, também há o conflito de "Eros" e do impulso de morte, que seria a vontade de se preservar e de se multiplicar contra esse impulso destrutivo que sempre vai acompanhar o ser humano.

Gostei bastante da leitura, meu primeiro livro de Freud e minha iniciação em psicologia, a definição de sentimento de culpa que ele explica na parte final mexeu bastante comigo no momento que li e me fez entender muito sobre situações que passei e estou passando.
Gustavo.Mazuchi 05/02/2024minha estante
emocionante review Eduardo, muito bom ver seu aprendizado e crescimento individual.




Sonaly 17/04/2022

?Descobriu-se que o ser humano se torna neurótico porque não é capaz de suportar o grau de frustração que a sociedade lhe impõe a serviço dos ideias culturais, e disso se concluiu que suprimir ou reduzir consideravelmente essas exigências significaria um retorno a possibilidade de ser feliz?

Após ler o texto de Theodor Adorno "Educação após Auschwitz" fiquei muito curiosa para ler esse livro. Li e não me arrependo, Freud traz ótimas reflexões sobre a infelicidade do indivíduo e sociedade.
Thata 17/04/2022minha estante
Comprei um do Adorno que em breve vou ler.Bom saber que ha relaçao com a psicanalise de Freud.




Biblioteca Álvaro Guerra 19/09/2023

Ao investigar por que o ser humano é tão pouco dotado para ser e permanecer feliz, Freud revela que um dos principais e invencíveis obstáculos à felicidade é a constituição psíquica do homem. Ele examina de perto, lançando mão de ferramentas psicanalíticas, o processo de desenvolvimento cultural necessário para que as pessoas possam viver em sociedade. A conclusão é a de que não só a civilização, mas a própria cultura humana implicam uma diminuição na felicidade dos indivíduos, tendo como subproduto um alienável e generalizado sentimento de culpa.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788525419972
Furabolo 19/09/2023minha estante
Tb fiz uma resenha a respeito dele. Ótima leitura.




Paulo Silas 25/05/2012

Nesta obra, Freud continua seguindo aquela linha de racíocínio explanada em "O Futuro de Uma Ilusão" (outro excelente livro de Freud).

Contextualizando mais objetivamente ser a cultura (ou sociedade) a principal causa da impossibilidade de o homem alcançar a felicidade, Freud traça os principais pontos que justificariam a existência do sentimento de culpa (remorso), bem como da necessidade da religiosidade.

Em que pese o autor divague em alguns parágrafos de forma que "volta ao mesmo ponto por reiteradas vezes" (conforme o próprio admite e pede desculpas ao leitor no capítulo final), o que torna a leitura em determinandos pontos um pouco confusa (eu pelo menos tive que reler alguns parágrafos para melhor compreensão), tal procedimento adotado faz-se no intuito de "deixar bem claro" os pontos que Freud pretende elucidar sob sua perspectiva.

Leitura recomendada, a qual apresentará um ponto de vista em que a cultura construída pelo homem é quiçá a principal causa da felicidade inalcançálvel.
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Serena 04/10/2012

O mais forte desse livro é a desilusão de Freud, demonstrada ao setenciar que o mundo exige demais do homem e lhe dá decepções tão dificeis de suportar, que por isto o indivíduo precisa de entorpecentes, religião, tóxico, na nossa sociedade contemporânea a televisão, estes funcionam como lenitivos para aguentar o peso das exigências cotidianas.

"(...) Descobriu-se que o ser humano se torna neurótico porque não é capaz de suportar o grau de frustração que a sociedade lhe impõe a serviço dos ideais culturais, e disso se conclui que suprimir ou reduzir consideravelmente essas exigências significaria um retorno a possibilidades de ser feliz" (p.83)
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Felipe 07/06/2013

Sentimento de culpa e supressão dos impulsos
A mente humana conserva características primitivas, em que a necessidade de satisfazer aos impulsos mais básicos ocorre naturalmente nos indivíduos. Conforme também mencionado em "O Futuro de uma ilusão", a cultura, herdada dos antepassados, veio de forma a possibilitar a convivência em sociedade e nos defendermos da impiedosa natureza, que nos pune justamente nas ocasiões de nossa satisfação. Essas satisfações, segundo Freud, são responsáveis pelo sentimento de felicidade mais intenso.
Os impulsos selvagens, em algumas pessoas, são sublimados por outras fontes, como a arte, estudos e novas descobertas. E são poucos os que conseguem essa substituição, que mesmo sendo bastante prazerosa, não chega perto da felicidade alcançada na realização dos impulsos mais grosseiros.
Tal sacrifício imposto pela cultura possui suas consequências. Uma delas, o sentimento de culpa pela necessidade de satisfazer as vontades próprias. E onde o indivíduo se vê numa condição em que pune a si mesmo, pelo fato de não ter conseguido realizar a renúncia.
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Vinicius.Villela 18/11/2019

Diagnósticos precisos e expectativas errôneas
Um livro que acabou apoiando algumas ideias que eu já tinha sobre a cultura e sociedade. (Nem sempre o melhor que se pode resultar da leitura de um livro)
Freud foca muito mais no destrinchamento do homem perante a sociedade do que da própria sociedade em si. Ele apresenta os sintomas, mas não com a mesma extensão suas causas. Mas imagino que esperar isso era uma expectativa mal depositada minha. Ele é um psicanalista, provavelmente O. Era lógico que essa seria sua linha de racionocinio, então não tiro absolutamente mérito nenhum do livro e sei que minha pequena frustração foi uma culpa minha. Uma semelhante ao que o próprio fala em um dos parágrafos finais.
? Assim, perco o ânimo de me fazer de profeta entre meus semelhantes, e me curvo à censura que me fazem de que não sei lhes trazer nenhum consolo, pois é isso que todos pedem no fundo...?
No meu caso seria mais algumas razões para xingar algo(a sociedade), do que propriamente um consolo, por mais que possuir visões pessoais similiares e compartilhadas seja também um consolo.
No mínimo me fez pensar mais sobre nosso comportamento, nossa psicologia, por mais piegas que seja. E se nos faz pensar, ainda mais profundamente, é completamente vital.
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Gabri 26/12/2019

Curioso, mas...
Muito curioso para compreender o pensamento de Freud. A tradução da LP&M, contudo, optou por popularizar alguns conceitos, o que, em meu entender, não foi positivo porque não fornece ao leitor algumas chaves teóricas para pesquisar e compreender um pouco melhor da teoria freudiana. Alguns exemplos que notei: optaram por traduzir Id por "isso", Superego por "supereu", pulsão de Thanatos por "morte".
Nesse livro de Freud, assim como em Além do princípio de prazer, estranhei a incorporação de conceitos filogenéticos para explicar certos comportamentos psíquicos. Essa teoria evolucionista, possívelmente herdada de Haeckel, parece mais alinhada a um pensamento de fundo lamarckista que propriamente darwiniana, o que, para um leitor descompromissado como eu, soou desatualizado e muito especulativo.
Apesar da estranheza, os momentos mais impactantes ao meu ver são quando o psicanalista utiliza esses conceitos para explicar certos aspectos de nosso mal estar em sua cultura.
Enfim, vale a pena a leitura! Mas o modo de elaboração dos conceitos por meio do pressuposto de uma herança animicamente incorporada me pareceu deslocada de nossa percepção evolucionista atual.
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mateusagroecologia 25/10/2020

Reflexões sobre as causas da infelicidade da civilização
Através de uma reflexão a respeito dos instintos e desejos libidinais dos seres humanos, o autor traz referências e realiza conexões no pensamento de como a repressão e a repreensão de tais instintos e desejos, em especial os desejos sexuais, motivados pela evolução cultural da sociedade, provocam transformações significativas na vida humana, principalmente, a respeito da infelicidade.

Os impulsos sexuais e o erotismo, estabelecidas como energias primárias da humanidade, e a respectiva repreensão destas características em prol do convívio para com a sociedade cultural apresenta-se como temática central dessa problematização, uma vez que, o desenvolvimento individual e o desenvolvimento cultural estão em estado dialógico permanente.

Alguns conceitos e vocábulos, brevemente abordados pelo autor, apresentam valor intrínseco à compreensão como, por exemplo, "instintos libidinais", "Super-eu", "consciência", "arrependimento", "sentimento de culpa", "necessidade de castigo", "beleza", "justiça", etc.

Destaca-se que, para quem não possui uma noção basilar a respeito de alguns termos psicanalíticos (assim como eu não tinha), a compreensão e a apreensão de alguns debates e reflexões pode ficar um pouco mais áspera, mas nada que uma boa pesquisa na internet de alguns termos filosóficos e psicanalíticos não possa resolver de maneira minimamente satisfatória ao entendimento.

A psicanálise busca trazer investigações e questionamentos ao convívio das relações, seja esta uma relação intrapessoal e/ou interpessoais, que remontam a investigação do passado dos indivíduos.

É uma leitura que em muitos momentos flui com facilidade, mas que requer atenção e muitas vezes persistência para compreender reflexões a respeito das características da mente humana.

No último capítulo, realiza-se uma espécie de resumo das ideias e problemáticas apresentadas ao longo dos capítulos anteriores que sucinta bastante alguns termos e conceitos utilizados assim como também as principais reflexões que o autor se propõe a debater.

Leitura recomendadíssima!
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Gabriel 17/01/2021

Uma ótima porta de entrada para o pensamento de Freud. A aplicação da psicanálise para pensar o social revela argumentos muito interessantes.
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vinipk 09/10/2021

Poucos anos após seu ensaio "O Futuro de uma Ilusão", neste livro Freud aborda mais amplamente o tema discutido da neurose na religião para, agora, a neurose da sociedade e sua ambivalência.
Neste ensaio, torna-se evidente a crítica do autor a forma como nossa cultura é, de certa forma, maléfica ao indivíduo devido as suas exigências, segundo ele, impossíveis de alcançar, visto que, estas negam a natureza primitiva do homem, o seu lado mais "animal".
Posteriormente, no livro, o autor sai de uma visão mais ampla da sociedade, para uma mais condizente com seu estilo, a investigação da psicanálise no indivíduo. Todavia, é nesse momento que as coisas podem se tornar complexas para o leitor leigo em Freud, o modo como ele articula as palavras, por vezes, é complexa; no entanto, como sempre, Freud, em seu último capítulo, faz um resumo geral e bem didático de suas intenções, facilitando a leitura.
Para finalizar, a leitura do livro é tranquila e rápida, e, quando comparado com "O Futuro de uma Ilusão", percebe-se aqui um autor mais pé no chão, pouco idealista e contundente em suas críticas a sociedade, e, de novo, a religião. Em suma, Esse é um livro que vale a pena, não apenas por causa do sucesso de seu autor, mas por causa de sua forma de ver o mundo que é única.
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Gabi 12/04/2024

UM DOS MELHORES
O mal estar na cultura é genial!!!!! De tudo que li do Freud, foi o mais gostei. Eu perdi tudo quando ele meteu o louco e disse: não tem isso de amar ao próximo como a ti mesmo, isso não existe, pois se ofereço meu amor a alguém, esse amor é percebido como predileção, preferência! Se amo a todos igualmente, amigos e inimigos, então não amo ninguém. Além disso, as ideias de superego cultural e tudo que tange o paralelo filo-onto, me fascinou demais! obrigada mestre ??
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Arthur 29/12/2021

me senti um pouco apreensivo pois estava me deparando com a mais nobre obra do pai da psicanálise, porém a leitura é muito fácil, e descreve e fala coisas que nos deixas boquiaberto
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Erick Simões 10/03/2022

Um complemento interessante
Uma ótima obra para entendermos de melhor forma qual a visão de Freud sobre a nossa sociedade atual (ou aquela de sua época), de toda forma, é extremamente útil para entender mais um pequeno bloco que compõe a construção da Psicanálise :)
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