Lindsey 02/05/2024
Clássico russo feito por um ucraniano
"Um pouco mais tranquilo, deitou-se novamente e começou a pensar em sua pobreza, no destino miserável dos pintores, no caminho semeado de espinhos que deviam percorrer nesta terra. Entretanto, através de uma fenda no biombo, o retrato continuava atraindo invencivelmente seu olhar. Os raios da lua acentuavam a brancura do lençol, através do qual os terríveis olhos pareciam agora transparecer. Tchartkov arregalava os seus, como se quisesse se convencer de que não estava sonhando. Mas não... Via claramente: o lençol havia desaparecido e, desdenhando tudo que o rodeava, o retrato, completamente descoberto, olhava diretamente para ele, mergulhado, sim, esta é a palavra certa, mergulhado nas profundezas de sua alma.". Esse é um trecho do conto clássico da literatura russa, escrito por um ucraniano, que é famoso por extrair o “extraordinário do ordinário". O Retrato fala de um pintor pobre, que gasta seus últimos tostões numa obra sem assinatura e inacabada, de um velho em trajes asiáticos. A imagem possui um olhar tão inquietante que parece que está vivo. Logo depois disso o pintor passa por uma grande montanha-russa, indo do vertiginoso sucesso para a derradeira loucura. Por ironia do destino, o mesmo se deu com o autor do conto. Gogol foi um escritor que se transformou em celebridade do dia para noite e acabou como um místico paranóico. É a vida imitando a arte e a arte imitando a vida.
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