O Quarto K

O Quarto K Mario Puzo




Resenhas - O Quarto K


2 encontrados | exibindo 1 a 2


Che 29/12/2017

HOUSE OF CARDS LITERÁRIO
Fazia muito tempo que eu não lia nada de um dos meus autores favoritos, o 'ítalo-americano' Mario Puzo, mais conhecido por ter publicado no fim dos anos sessenta o romance que deu origem a "O Poderoso Chefão", de fato um livro excelente e (quase) tão bom quanto o filme de Francis Ford Coppola. Puzo foi ainda o autor de vários outros ótimos livros, principalmente "O Siciliano" (que traz Michael Corleone de volta) e seu canto de cisne, "Os Bórgias", publicado postumamente e que por dez anos foi nada menos que meu livro favorito. Em nível ligeiramente menor, "Os Tolos Morrem Antes" e "Mamma Lucia" são também ótimos.

Por tudo isso, a expectativa com qualquer romance publicado por Puzo sempre começa alta no meu caso. E dentro desses parâmetros de forte exigência, não dá pra negar, afinal, que "O Quarto K" é um Puzo menor, mesmo sendo um enredo de suspense político bom do começo ao fim. Está abaixo de todos os livros que citei no parágrafo anterior, se aproximando mais do nível de seu primeiro romance, "A Guerra Suja" (The Dark Arena), publicado ainda nos anos cinquenta do século passado e - como "O Quarto K" - totalmente fora da temática da máfia, assunto que o autor domina com excelência e que motivou seus melhores escritos.

Não que "Quarto K" seja ruim. Como já dito, só empalidece porque é invariavelmente lido na comparação com joias da literatura policial como "O Siciliano", romance imediatamente anterior na bibliografia de seu autor. Mas lido por si só, é algo como um "House of Cards" dos anos noventa, com a diferença de que Puzo claramente é fascinado e tem uma perspectiva mais positiva que negativa do fictício presidente Francis Xavier Kennedy, sobrinho do finado JFK e pontuado como presidente de uma Casa Branca no auge da crise de autoridade moral, tendo que lidar com uma série de tragédias simultâneas, que vão do sequestro da filha do presidente até a ameaça de uma bomba atômica na maior cidade estadunidense, New York. E o bom é que Puzo é do tipo que ameaça reviravoltas violentas nesse sentido e quase sempre as cumpre, de modo que o leitor ávido por ver o cerco apertando será bastante satisfeito. O final é particularmente tenso, embora previsível e Puzo force a barra ao narrar o descuido de personagens que já vinham sendo alvo de tantos atentados.

"Quarto K", lido agora em dezembro de 2017 a partir do contexto brasileiro, ainda se beneficia de um fator totalmente externo a ele: toda a passagem envolvendo a tentativa de impeachment (na verdade, golpe de Estado mesmo) do presidente Kennedy, claramente influenciada por interesses econômicos dos magnatas do petróleo em países do Oriente Médio (com os quais Kennedy entra em rota de colisão), lembra em grande medida o conflito da presidente legítima Dilma Rousseff com o Congresso cleptocrata brasileiro e toda a elite econômica da FIE$P. Em vários momentos, a tentativa de sabotagem ao mandato do Kennedy fictício me lembrou o golpe que tivemos ano passado no Brasil, principalmente pela influência 'de bastidores' dos podres de rico e seu controle dos meios de comunicação de massa.

Pena que Puzo, em seu livro mais ambicioso e político, peque por desenvolver porcamente vários dos muitos personagens secundários, de modo que frequentemente passe longas páginas descrevendo alguns para depois... simplesmente abandoná-los. A conclusão da trama envolvendo o agente "Romeu" e o atentado contra o Papa é o caso mais flagrante disso, numa subtrama sobre o peso simbólico do Vaticano que simplesmente é tirada de foco sem muita cerimônia, mesmo tendo o autor investido muito nela nas primeiras cinquenta ou cem páginas. Embora, como dito, Puzo não se imiscua de procurar tragédias e reviravoltas com conclusões sangrentas memoráveis, há no romance esse problema insistente do abandono repentino de personagens e tramas subordinadas ao enredo principal.

Fica a impressão de que ele quis morder um pedaço maior que a garganta e dar conta de muitas tramas e personagens ao mesmo tempo, de modo que nem com mais de 450 páginas conseguiu o que pretendia. E além de tudo, esse excesso de tramas menores acaba tirando um pouco o tempo que poderia ser investido só na intriga palaciana central envolvendo a Casa Branca. Pelo menos o antagonista Yabril é ótimo (torci demais pra ele!) e sem dúvida o melhor personagem do livro, embora ele também tenha carecido de um desenvolvimento e sobretudo um desfecho mais contundente.

Apesar de todas essas ressalvas, se você tiver interesse em política com certeza vai apreciar o tipo de suspense que Puzo quis fazer. Mas não vá ler de modo algum esperando um enredo sobre máfia - e se você se interessar por esse tema das intrigas clandestinas de mafiosos mas não das oficiais do 'alto escalão' da política mundial, então "Quarto K" pode ser simplesmente decepcionante. Como estou entre os que gostam dessa outra abordagem, acabei apreciando o romance, mesmo entendendo perfeitamente que ele está abaixo da média do potencial imenso de seu autor.
Amós 25/05/2020minha estante
eu ia escrever uma resenha mas li a sua e não tem necessidade, parabéns pelo texto




Tico 10/09/2017

Muito bom
Uma trama sensacional que leva a uma dinâmica de acontecimentos dramáticos. Uma transformação de situações que transmitem a genialidade do autor
comentários(0)comente



2 encontrados | exibindo 1 a 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR