Craotchky 02/05/2020Kurt, Kurdt para os íntimos"...é melhor queimar do que se apagar aos poucos." - Kurt (citando o trecho de uma canção de Neil Young) em seu bilhete de suicídio.
Não existe exatamente um motivo, mas o fato é que eu estava com essa biografia parada na estante desde meados de 2016. Não totalmente parada, visto que de lá pra cá cheguei até mesmo a emprestá-la para um amigo. Não lembro de alguma vez ter demorado tanto tempo para ler um livro. O mais próximo disso que acontece é eu ter algum livro encalhado há tanto tempo na estante que certo dia percebo que jamais o lerei. Neste caso seu destino mais provável é ser trocado num sebo. No entanto isso não aconteceu com a biografia de Kurt; Kurdt, para os íntimos. Parecia que eu sabia que ainda leria ele.
Eis a biografia de Cobain: do bebê de olhos azul-celeste que nasceu em 1967 com três quilos e quatrocentas gramas, até o homem de 27 anos e seu fim trágico, passando pelo músico de sucesso rápido e intenso. Kurt, que frequentemente grifava KURDT em seus diários, teve uma vida bastante atribulada a partir dos seus sete anos, momento que acontece a separação dos seus pais, evento que provocou sequelas e consequências imensuráveis na futura saúde psíquica do artista.
(Bem, não quero falar da vida de Kurt pois entendo que seria spoiler, afinal, trata-se de uma biografia. O livro está aí para contar a história biográfica dele muito melhor do que eu poderia nesse pequeno texto.)
Ao terminar essa obra e refletir sobre outros livros de cunho biográfico que já li, observei que esse tipo de livro consegue ser interessante ainda além da pessoa/vida/banda biografada. Ler a história de um(a) "personagem" que é real parece trazer outra percepção quanto aos eventos narrados. A impressão que tenho é que a assimilação deste tipo de obra é diferente. Saber que tudo realmente aconteceu parece sedimentar a história de outro jeito. Não sei bem explicar, então não vou mais tentar.
Por fim, achei a narrativa suficientemente dinâmica. Pouco me cansou ao longo da leitura. O autor conseguiu concatenar de modo claro e até certo ponto direto todas as informações que dispunha de entrevistas, diários e afins. Ao contrário de alguns leitores(as) não notei qualquer tom tendencioso por parte do biógrafo. Achei até que o livro foi conduzido de modo imparcial e com um saudável distanciamento emocional. Em suma, fiquei satisfeito com o texto.
CURIOSIDADES/BIZARRICES (por sua conta e risco)
📌 Kurt pintou o banheiro de uma de suas primeiras casas de vermelho-sangue, e escreveu REDRUM na parede em referência a O iluminado.
📌 Em determinada época Kurt teve muitos animais em casa. Embora a população efetiva variasse ao longo dos anos, ele teve cinco gatos, quatro ratos, uma cacatua, dois coelhos e tartarugas. Por essa razão Cobain apelidou este seu lar de "Animal Farm", título do livro de George Orwell. Além disso, Kurt permitia que Quisp, seu gato macho, fizesse sexo com Stew, seu coelho fêmea.
📌 Certo dia Kurt foi nadar numa pedreira e voltou pra casa com dúzias de girinos. Ao chegar despejou-os no aquário onde mantinha suas tartarugas e ficou assistindo enquanto estas devoravam os pobres girinos.
📌 "Teen spirit" era o nome de um desodorante para garotas adolescentes que Tobi, uma garota com quem Kurt se relacionou, usava. Sua amiga Kathleen, certa vez, pintou com spray na parede do quarto de Kurt a frase KURT SMELLS LIKE TEEN SPIRIT para zombar indicando que ele dormia com Tobi. Bem, o resto é história...
📌 Enquanto Courtney estava grávida, Kurt e ela chamavam o bebê de "the bean", isto é, a vagem. Por isso o nome da menina foi registrado como Frances Bean Cobain. (Além disso o ultrassom dela estampa a capa do disco "Lithium")
Em certo lugar do livro encontra-se o seguinte trecho:
"No budismo, nirvana é o lugar alcançado quando a pessoa transcende o ciclo interminável de renascimento e sofrimento humano." Pois é, ao fim da leitura, no meu entender Kurdt jamais conseguiu alcançar seu Nirvana.