Carlos Nunes 26/12/2023
POIROT SOFRE BULLYING
Livro bem peculiar dentre a obra da Agatha, por se tratar de um dos poucos que menciona explicitamente a II Guerra - inclusive se inicia durante um bombardeio. Também é um dos que expõe mais abertamente a mentalidade preconceituosa e xenofóbica da sociedade inglesa da época (e que muita gente atribuiu à própria Agatha, ao que parece, injustamente). Em diversos momentos personagens citam os "indesejáveis" forasteiros, demonstrando desejo de livrar-se deles - em diversas cenas, o detetive Hercule Poirot, que é belga, sofre comentários preconceituosos e em uma delas é abertamente hostilizado por uma senhora idosa. Só esse aspecto, bastante incomum na obra da autora, já valeria a leitura do livro, mas a trama também é muito boa, girando em torno de uma herança de um milionário que morre durante um bombardeio e que vai parar nas mãos da sua jovem esposa, ingênua e totalmente controlada pelo irmão. Até que surge um outro personagem que diz conhecer seu primeiro marido, supostamente falecido, e que pode fazer com que o direito à herança volte para a família, mas esse homem aparece morto, e é aí que entra Hercule Poirot, para solucionar a questão. Trama bem interessante, com as reviravoltas e armadilhas típicas da Agatha, que mais uma vez conseguiu me enganar. Um outro detalhe desse livro é que, embora a solução do caso seja perfeita, o arremate final da história deixou muito a desejar, revelando o quanto a autora, apesar da fama de progressista, ainda estava presa às convenções sociais da época.