O título evidencia um romance detetivesco? Difícil não tomar emprestado da gíria mexicana presente em Detetives selvagens, a palavra “simonel”: sim e não ao mesmo tempo, a ambiguidade radical, a impossibilidade de encerrar uma interpretação.
Eu era uma menina quando a minha mãe morreu. Eu não vi o corpo, ninguém deixou, minha avó e bisavó quiseram me poupar do horror. Mas a gente precisa ver a morte. O que eu vi da morte foi um caminhão, uma casa inteira dentro de um caminhão de mudança que veio até mim uma, duas vezes. Na primeira vez, eu era criança e não podia encostar em nada, mas era tudo meu. Tudo entulhado, bagunçado, escondido, mas era meu. Uma posse jogada no futuro. A segunda vez foi quando, já adulta, me mudei pro mato e, de novo, o caminhão chegou. Foi aí que esse futuro, o futuro do meu passado, me disse: “Eu não sou uma abstração, eu sou algo bem concreto. Agora é tudo seu…”. E o que fazer com isso?
Se por vezes nos sentimos, em um ou outro momento, inclinados a seguir os rastros deixados pelas três narradoras – Maya, Clara e Quindim –, Luminol nos instiga a pegar uma lupa, a sermos cúmplices nesta narrativa assombrada por uma frase: “Se você não se lembra da sua mãe, é porque você a matou”.
Tão híbrido em sua estrutura quanto as criaturas que rondam estas páginas, o romance se vale de cartas, diários, vozes ditas e deliradas. Põe, lado a lado, lendas, história, filosofia, o rural e o urbano, o antigo e o contemporâneo, o corriqueiro e o inusitado.
Somos leitores-intrusos numa intimidade ora dolorida, ora bem-humorada, onde convivem vigília e fantasmagoria; violência e ternura; exílio e pertencimento; herança e abandono; solidão e amizade; o luto e a criação.
Ficção / Literatura Brasileira / Romance policial