"Todo poeta por mais intuitivo e menos preocupado com as questões teóricas a respeito da arte literária que seja, possui uma estética implícita, que determina seu fazer poético e que é, dialeticamente determinada por ele. Na medida em que produz versos, em que dá forma à informe matéria de suas experiências de vida, emoções, sensações e pensamentos, o poeta cria uma sintaxe, um modo próprio de fazer, que - uma vez criado - realimente o processo. Tanto mais intuitivo e menos interessado nos fenômenos estéticos, mais difícil, obviamente, de se perceber com nitidez essa estética interior. Tais poetas intuitivos parecem carecer de espírito sistemático e, normalmente, fazem uma poesia menos cerebral, menos exigente no aspecto formal, mais emotiva e esparramada. Produzem, quando muito, poemas que tomam a ars poetica por mote. Por outro lado, há poetas que são verdadeiros estetas, quando não filósofos. Elaboram grandes e complexos sistemas, que vão do idealismo platônico ao materialismo dialético, do reducionismo ao autonomismo, do formalismo ao sociologismo e psicologismo. Seus poemas reafirmam suas ideias, suas ideias conformam seus poemas. Entre os dois extremos, no entanto, há os que não chegam a escrever tratados, mas deixam fragmentos de concepções estéticas espalhados em artigos de jornais, revistas, diários, anotações esparsas, entrevistas e, sobretudo, em cartas."