Como na antigamente famosa receita de Charles Périgot para um bom café, que deve ser "quente como o inferno, amargo como o diabo, puro como um anjo e doce como o amor", também uma contracapa tem de ser objetiva, curta e hipnotizar o incauto leitor para que compre, abra e leia o livro, pois há leitores que compram, mas não abrem, ou abrem, mas não leem. No caso de um livro de Eloésio Paulo a solução é simples: basta selecionar um poema e pronto. A beleza, a sutileza, o sarcasmo, a erudição e o humor dos poemas de Eloésio inocularão o veneno da poesia, como uma droga poderosa, nas veias do incauto. Assim, amável leitor, depois de ler a amostra abaixo, abra o livro, ponha as pernas para cima e desfrute, va-ga-ro-sa-men-te, a leitura de um dos mais importantes poetas atuais deste pobre país que teima, desde a segunda metade do século passado, em condenar ao limbo seus artistas mais criativos.
Lombriga desconfiada (página 68):
E porque te deste a ver
num relâmpago de beleza
vou ficar olhando para o céu
até criar raízes nas costas
ou cair na minha boca
ao menos um pingo de chuva
E então? Vai começar ou vai ficar aí lambendo os dedos? — Sebastião Nunes
Literatura Brasileira / Poemas, poesias